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BECK
Californiano sofre com déficit entre talento e carisma
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Com arsenal suficiente para
fazer um dos shows mais sofisticados do Rock in Rio 3, o californiano Beck padeceu, no sábado, das agruras de ser, mais que
astro pop, um esteta.
A mais evidente delas: o figurino psicodélico, cor de abóbora,
que usou na música final, "Where
It's at" (96), pode facilmente passar à memória como o melhor detalhe de todo o show.
Fazia conjunto impagável com
os modelos e pancas de seus músicos, também mais interessantes
por visuais que iam do Urso do
Cabelo Duro a uma capa rosa
meio de princesa, que pelas próprias qualidades musicais.
Beck entrou aparentemente iludido por uma amplitude de pop
star que não correspondia ao que
tinha à sua frente. Corria que nos
bastidores deu pitis de grau estrela e na hora do "vamos lá" não
contou com a adesão do público,
deseducado do formulário complexo que o pequeno vanguardista tinha a oferecer.
Não há que culpar o público,
embora o show fosse redondinho,
quadradinho. A baixa voltagem
do show se deveu ao pequeno
príncipe, em pessoa.
Dono de grandes canções em
salada funk-folk-rock-hip hop-etc. (tocou a maioria das mais legais), dançarino de dotes pop e fazendo o gênero bonitinho, Beck
não acumula carisma suficiente
para dobrar tamanha multidão.
Desafina e tem voz bem mais
curta ao vivo que no estúdio.
"Jack-Ass" (96), a passagem mais
mimosa do show, era versão bem
chocha da original. O mesmo
aconteceu, mas em proporções
atenuadas, nos quase-hits "Loser"
(94, infelizmente a única do primeiro álbum a aparecer no show)
e "Devil's Haircut" (96).
O momento gracinha -Beck e
a gaitinha solitários na marginal
"One Foot in the Grave" (94), do
tempo em que ele gravava álbuns
independentes ultra-experimentais- passou meio em branco, só
para anunciar que já estava quase
acabando.
A bossa nova "Tropicalia" (97)
tampouco empolgou a multidão
desentendida, mas aí até é mais
por conta de um público que perdeu contato com seu passado musical que do pobre menino rico.
O disco mais recente, "Midnite
Vultures" (99), entrou com um
naco moderado de 3 canções entre as 14 que compuseram a apresentação.
Nessas, "Mixed Bizness, "Nicotine & Gravy" e "Milk & Honey",
Beck abusou das backing vocals
em estilo black music total. Aí, Riquinho quase lembrou seu modelo oitentista Prince -e o Rock in
Rio 3 quase pareceu Rock in Rio 2.
Mas, bem, foi bacana.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
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