São Paulo, segunda-feira, 15 de janeiro de 2001

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BECK


Californiano sofre com déficit entre talento e carisma



ENVIADO ESPECIAL AO RIO



Com arsenal suficiente para fazer um dos shows mais sofisticados do Rock in Rio 3, o californiano Beck padeceu, no sábado, das agruras de ser, mais que astro pop, um esteta.
A mais evidente delas: o figurino psicodélico, cor de abóbora, que usou na música final, "Where It's at" (96), pode facilmente passar à memória como o melhor detalhe de todo o show.
Fazia conjunto impagável com os modelos e pancas de seus músicos, também mais interessantes por visuais que iam do Urso do Cabelo Duro a uma capa rosa meio de princesa, que pelas próprias qualidades musicais.
Beck entrou aparentemente iludido por uma amplitude de pop star que não correspondia ao que tinha à sua frente. Corria que nos bastidores deu pitis de grau estrela e na hora do "vamos lá" não contou com a adesão do público, deseducado do formulário complexo que o pequeno vanguardista tinha a oferecer.
Não há que culpar o público, embora o show fosse redondinho, quadradinho. A baixa voltagem do show se deveu ao pequeno príncipe, em pessoa.
Dono de grandes canções em salada funk-folk-rock-hip hop-etc. (tocou a maioria das mais legais), dançarino de dotes pop e fazendo o gênero bonitinho, Beck não acumula carisma suficiente para dobrar tamanha multidão.
Desafina e tem voz bem mais curta ao vivo que no estúdio. "Jack-Ass" (96), a passagem mais mimosa do show, era versão bem chocha da original. O mesmo aconteceu, mas em proporções atenuadas, nos quase-hits "Loser" (94, infelizmente a única do primeiro álbum a aparecer no show) e "Devil's Haircut" (96).
O momento gracinha -Beck e a gaitinha solitários na marginal "One Foot in the Grave" (94), do tempo em que ele gravava álbuns independentes ultra-experimentais- passou meio em branco, só para anunciar que já estava quase acabando.
A bossa nova "Tropicalia" (97) tampouco empolgou a multidão desentendida, mas aí até é mais por conta de um público que perdeu contato com seu passado musical que do pobre menino rico.
O disco mais recente, "Midnite Vultures" (99), entrou com um naco moderado de 3 canções entre as 14 que compuseram a apresentação.
Nessas, "Mixed Bizness, "Nicotine & Gravy" e "Milk & Honey", Beck abusou das backing vocals em estilo black music total. Aí, Riquinho quase lembrou seu modelo oitentista Prince -e o Rock in Rio 3 quase pareceu Rock in Rio 2. Mas, bem, foi bacana.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


Avaliação:    


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