DO CRÍTICO DA FOLHA

A exemplo do francês "Baby Love" (2008), em que um pediatra homossexual (Lambert Wilson) enfrenta dificuldades para adotar criança, a comédia espanhola "À Moda da Casa" (2008) sugere nova tendência da produção europeia, que pode ser resumida como "filme sobre gays para consumo de famílias".
Politicamente corretas, suas histórias apresentam personagens e situações gays integradas à sociedade. O esforço pedagógico contra o preconceito se encaminha a público amplo, tanto no aspecto etário quanto no social, o que conduz a formatos leves e conservadores.
Em "À Moda da Casa", a principal referência é o humor de TV que combina deboche com algum sentimentalismo. Não por acaso, o diretor e roteirista Nacho G. Velilla -estreante em longa para cinema- é bem-sucedido profissional de televisão na Espanha.
Boa parte da ação se ambienta em um restaurante sofisticado no bairro gay de Madri. Seu proprietário (Javier Cámara) investiu os tubos no empreendimento e acredita que o retorno virá quando o prestigioso guia Michelin reconhecer sua originalidade como "chef". Os apuros em torno da iminente visita de um crítico da publicação fornecem uma das subtramas de humor. Outra vem do triângulo criado entre o dono do restaurante, sua amiga e "hostess" (Lola Dueñas) e um ex-jogador de futebol (o chileno Benjamín Vicuña).
A parte "séria" chega pelo caminho da paternidade. O personagem de Cámara jamais dedicou atenção ao casal de filhos, mas a conjuntura o obrigará a fazer isso. Assim, ao mesmo tempo em que tenta administrar o restaurante e a vida sentimental, precisará se virar com um adolescente (preconceituoso com gays) e uma menina.
Em "comédia de tese" sobre a tolerância, Velilla alterna ótimas piadas -Chus Lampreave responde por bons momentos, como a mãe do protagonista- com chavões terríveis, mas tem a sorte de reunir elenco que parece se divertir com a brincadeira de família.
(SÉRGIO RIZZO)