São Paulo, quinta, 15 de janeiro de 1998.



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Estudo mostra belle époque de São Paulo

SYLVIA COLOMBO
Editora-assistente interina da Ilustrada

Quem foi João Rubinato? Um filho de imigrantes italianos pobres, por vezes pintor, outras encanador e, finalmente, cantor popular.
Quando falava, e cantava, misturava um pouco de italiano com o sotaque do interior paulista. Seus sambinhas falavam do cotidiano das populações pobres que habitavam São Paulo.
Rubinato, mais conhecido como Adoniran Barbosa (1910-1982), serve como síntese para o historiador José Geraldo Vinci de Moraes, que acaba de lançar "Sonoridades Paulistanas - A Música Popular na Cidade de São Paulo no Final do Século 19 e Início do 20".
O livro, premiado pelo concurso Silvio Romero de Folclore e Cultura Popular do Ministério da Cultura, editado pela Funarte, mostra como surgiram e se desenvolveram as manifestações musicais no período conhecido como belle époque, que corresponde à transformação do Brasil em república e ao crescimento dos principais centros urbanos.
Num estudo que aborda antes os movimentos sociais em torno da questão musical do que as transformações estilísticas, Moraes define os primeiros "sons" de São Paulo como cultivados no cotidiano das ruas. Nelas se desenvolvia o comércio que disputava a clientela muitas vezes no grito.
Neste cenário, surgem os italianos recém-chegados e envolvidos nas novas atividades urbanas e os negros, muitas vezes ex-escravos, que para atrair a atenção para seus produtos e serviços entoavam quadrinhas. São comuns na época pequenas canções compostas por negras quituteiras.
Outro personagem, além do negro e do italiano, é o operário.
O crescimento econômico e industrial de São Paulo fez com que a classe, cada vez mais numerosa, se aglomerasse em torno de discussões políticas -se difundem então as idéias anarquistas- e de eventos culturais.
O teatro operário e sua música surgem nesse contexto.
A belle epóque em São Paulo e no Rio se caracterizou por fazer crescer as diferenças sociais, processo que se materializou na situação de penúria em que viviam os mais pobres nas grandes cidades.
Com isso, uma certa nostalgia do campo e a religião compunham a temática mais recorrente das criações de música popular.
Esta se disseminou por meio de alguns formatos. O choro, que penetrou em São Paulo com pouca força, trouxe sua versão mais lamuriosa, ao lado da serenata.
Já as bandas tiveram papel importante por popularizar a música erudita e formar novos músicos a baixo custo. As mais famosas se apresentavam no coreto do Jardim da Luz, e seu repertório era composto por polcas, maxixes e trechos de ópera.
A partir de 1920, porém, as bandas começaram a perder efetivo para as casas noturnas e foram aos poucos desaparecendo.
Organizados por negros, os cordões acabavam conquistando também aos brancos e praticavam a marcha-sambada.
A pesquisa de Moraes vai de 1870 até o ano de 1920 quando, segundo o autor, os meios eletrônicos começaram a se propagar e a transformar a música popular em produto comercial.
O livro mostra que se o desenvolvimento da música popular foi menos amplo do que o ocorrido no Rio, o contexto apresentado por São Paulo -o da industrialização, crescimento desenfreado da cidade e das diferenças sociais dentro dela- gerou uma sonoridade particular de que o supracitado Adoniran Barbosa é um perfeito resumo, misturando o popular europeu com o caipira e falando do dia-a-dia dos trabalhadores.


Livro: Sonoridades Paulistanas
Autor: José Geraldo Vinci de Moraes
Quanto: R$ 20 (186 págs.)
Lançamento: Funarte



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