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Estudo mostra belle époque de São Paulo
SYLVIA COLOMBO
Editora-assistente interina da Ilustrada
Quem foi João Rubinato? Um filho de imigrantes italianos pobres,
por vezes pintor, outras encanador e, finalmente, cantor popular.
Quando falava, e cantava, misturava um pouco de italiano com o
sotaque do interior paulista. Seus
sambinhas falavam do cotidiano
das populações pobres que habitavam São Paulo.
Rubinato, mais conhecido como
Adoniran Barbosa (1910-1982),
serve como síntese para o historiador José Geraldo Vinci de Moraes,
que acaba de lançar "Sonoridades
Paulistanas - A Música Popular na
Cidade de São Paulo no Final do
Século 19 e Início do 20".
O livro, premiado pelo concurso
Silvio Romero de Folclore e Cultura Popular do Ministério da Cultura, editado pela Funarte, mostra
como surgiram e se desenvolveram as manifestações musicais no
período conhecido como belle
époque, que corresponde à transformação do Brasil em república e
ao crescimento dos principais centros urbanos.
Num estudo que aborda antes os
movimentos sociais em torno da
questão musical do que as transformações estilísticas, Moraes define os primeiros "sons" de São
Paulo como cultivados no cotidiano das ruas. Nelas se desenvolvia o
comércio que disputava a clientela
muitas vezes no grito.
Neste cenário, surgem os italianos recém-chegados e envolvidos
nas novas atividades urbanas e os
negros, muitas vezes ex-escravos,
que para atrair a atenção para seus
produtos e serviços entoavam
quadrinhas. São comuns na época
pequenas canções compostas por
negras quituteiras.
Outro personagem, além do negro e do italiano, é o operário.
O crescimento econômico e industrial de São Paulo fez com que a
classe, cada vez mais numerosa, se
aglomerasse em torno de discussões políticas -se difundem então
as idéias anarquistas- e de eventos culturais.
O teatro operário e sua música
surgem nesse contexto.
A belle epóque em São Paulo e no
Rio se caracterizou por fazer crescer as diferenças sociais, processo
que se materializou na situação de
penúria em que viviam os mais pobres nas grandes cidades.
Com isso, uma certa nostalgia do
campo e a religião compunham a
temática mais recorrente das criações de música popular.
Esta se disseminou por meio de
alguns formatos. O choro, que penetrou em São Paulo com pouca
força, trouxe sua versão mais lamuriosa, ao lado da serenata.
Já as bandas tiveram papel importante por popularizar a música
erudita e formar novos músicos a
baixo custo. As mais famosas se
apresentavam no coreto do Jardim
da Luz, e seu repertório era composto por polcas, maxixes e trechos de ópera.
A partir de 1920, porém, as bandas começaram a perder efetivo
para as casas noturnas e foram aos
poucos desaparecendo.
Organizados por negros, os cordões acabavam conquistando
também aos brancos e praticavam
a marcha-sambada.
A pesquisa de Moraes vai de 1870
até o ano de 1920 quando, segundo
o autor, os meios eletrônicos começaram a se propagar e a transformar a música popular em produto comercial.
O livro mostra que se o desenvolvimento da música popular foi
menos amplo do que o ocorrido
no Rio, o contexto apresentado
por São Paulo -o da industrialização, crescimento desenfreado
da cidade e das diferenças sociais
dentro dela- gerou uma sonoridade particular de que o supracitado Adoniran Barbosa é um perfeito resumo, misturando o popular
europeu com o caipira e falando
do dia-a-dia dos trabalhadores.
Livro: Sonoridades Paulistanas
Autor: José Geraldo Vinci de Moraes
Quanto: R$ 20 (186 págs.)
Lançamento: Funarte
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