São Paulo, Sexta-feira, 15 de Janeiro de 1999
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O filho que era a mãe

Divulgação
A nova versão do Bates Motel, onde se passa a maior parte da trama de "Psicose", que estréia hoje no país



Chega ao Brasil a refilmagem de "Psicose", de Alfred Hitchcock, que coincide com o ano do centenário do lendário diretor britânico


LÚCIO RIBEIRO
Editor interino da Ilustrada

O simples ato de tomar banho volta a ser tarefa das mais complicadas.
Estréia hoje no Brasil a refilmagem do ultraclássico "Psicose", uma "ousadia" assinada pelo diretor norte-americano Gus Van Sant a partir da obra-prima de Alfred Hitchcock.
Mesmo banido por boa parte da crítica desde que entrou em cartaz nos EUA, em dezembro último, e já em queda livre em números de bilheteria, "Psicose", o remake, feito à semelhança rigorosa do original, merece a celebração.
A releitura de Gus Van Sant traz à baila a discussão sobre um dos mais famosos filmes da história do cinema. E chega às telas, pelo menos no caso brasileiro, no exato ano do centenário de Hitchcock, que nasceu em agosto de 1899, em Londres, Inglaterra.
É difícil imaginar, hoje, alguém neste planeta que se interesse por cinema e nunca tenha ouvido falar de Hitchcock, "Psicose", a cena do chuveiro, quem é o culpado pela morte de Marion (Janet Leigh) e quem é a mãe de Norman Bates (Anthony Perkins).
Mas, quando "Psicose" foi lançado em dois cinemas da cidade de Nova York, no dia 16 de junho de 1960, atingiu as telas cercado de mistério.
Hitchcock armou uma sólida estratégia para causar medo em seus espectadores. Por exemplo, o diretor inglês obrigou a equipe de filmagem a jurar que nada diria sobre a trama de "Psicose".
O trailer do longa passou no cinema sem nenhuma cena do filme: apenas parte do cenário era apresentada, com um narrador descrevendo que ali, naquele banheiro, naquele motel, naquela casa, aconteceriam cenas horríveis de assassinato. E ninguém podia entrar no cinema com a sessão já começada.

"O Filho Que Era a Mãe"
As histórias por trás de "Psicose" são tão ricas quanto o filme em si.
Como parte do "mistério" criado por Hitchcock, o filme atingiu os cinemas sem que a crítica especializada o tivesse visto.
A reação da imprensa na época foi imediata: "Filminho desagradável", foi estampado na revista "Esquire". "Meio lento e dirigido com mão pesada", deu no "New York Times", que depois voltou atrás e elegeu o filme como um dos melhores do ano.
Até fatos engraçados reverberaram no mundo todo por conta de "Psicose". Corria a saborosa lenda de que, em Portugal, "Psycho", o título original, havia ganho a tradução para os cinemas de "O Filho Que Era a Mãe".
A tradução, que inspirou o título desta página, entregava assim, de cara, a verdade da trama. Mas, bobagem, em Portugal o filme sempre se chamou "Psico".

100 anos
Em uma homenagem ao centenário de Hitchcock, a Ilustrada publica nas páginas 4-6 e 4-7 cerca de 45 fotogramas originais que reconstróem a famosa cena do chuveiro, também conhecida como os 45 segundos mais aterradores do cinema em todos os tempos.
Esta edição traz também, à página 4-8, uma entrevista com o badalado ator americano Vince Vaughn, que encarna o perturbado Norman Bates no remake de "Psicose".
Ainda: dois textos opinativos, um contrário e outro a favor, sobre a "ousadia" do diretor Gus Van Sant em mexer com a obra-prima de Alfred Hitchcock, além de um quadro comparativo dos dois "Psicoses".
E, para depois do filme, fica o toque: vá para casa, relaxe, tome uma ducha...


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