São Paulo, Sexta-feira, 15 de Janeiro de 1999
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"PSICOSE 98"
"O cinema não é intocável", diz Vaughn

CLAUDIO CASTILHO
em Los Angeles

Há cerca de quatro anos Vince Vaughn era apenas mais um no meio de uma multidão de atores na obscuridade em Hollywood. Foi quando ele e um grupo de outros profissionais desconhecidos se uniram para fazer "Swingers".
Interpretar o papel de um ator desempregado nessa produção independente não foi das tarefas mais difíceis para ele, já que desde sua mudança de Illinois para Califórnia aos 18 de idade, Vince lutava para conseguir juntar o dinheiro do aluguel de cada mês.
A qualidade de "Swingers" e o seu trabalho no filme, entretanto, chamaram a atenção da crítica. E também de Steven Spielberg, que, depois de vê-lo no independente, resolveu incluí-lo no elenco do "blockbuster" "O Mundo Perdido" no papel de um fotógrafo.
"Vince Vaughn tem todas as qualidades de um genuíno galã de cinema", afirmou à época à imprensa americana o cineasta mais poderoso de Hollywood.
O mais recente trabalho do ator de 28 anos é talvez o mais polêmico de todos os que já fez até agora: Vince protagoniza a quase réplica do clássico "Psicose" do mestre do suspense Alfred Hitchcock.
No filme dirigido por Gus van Sant, Vaughn interpreta o papel de Norman Bates, personagem imortalizado por Anthony Perkins.
A idéia de Van Sant de fazer o remake colorido de "Psicose" foi recebida com mais críticas do que aplausos. Vince, no entanto, insiste em defender o cineasta e diz não se arrepender de ter se entregado ao projeto.
A seguir, os principais trechos da entrevista com Vaughn.

Folha -O que o atraiu a fazer um filme que é praticamente uma cópia de um clássico do cinema?
Vince Vaughn - Comparo a intenção de Gus com a de um músico que resolve gravar uma nova versão de uma canção antiga e famosa. Na indústria de discos é comum ver artistas regravando canções passadas. Apesar das semelhanças, estamos falando de um trabalho novo, com alma própria que, se bem feito e respeitando a obra original de seu criador, será para sempre vista com olhos diferentes dos que assistiram ao original e a outras versões que possam vir a existir. Discordo dos que pensam que cinema é um ser sagrado e intocável.
Folha - Qual teria sido o objetivo do cineasta de se entregar a um projeto como esse em vez de se dedicar a um trabalho original?
Vaughn - Acho que ele viu nesse filme a oportunidade de voltar ao passado e brincar com os momentos do cinema que o fascinaram e o influenciaram a se dedicar para o resto da vida profissionalmente a essa arte.
Folha - Você já era um admirador de "Psicose" antes de fazer essa versão modernizada em cores e efeitos sonoros?
Vaughn - Assisti ao filme uma só vez. Como ator, eu não queria sofrer influência de um trabalho tão perfeito e inesquecível como o desempenhado por Perkins. Seguimos à risca o roteiro e mantivemos a mesma sequência das gravações da cenas filmadas por Hitchcock, mas eu jamais aceitaria participar desse filme se não tivesse a liberdade de interpretar meu personagem seguindo meus próprios instintos.
Folha - O que mais o fascinou em relação a Norman Bates?
Vaughn - Esse personagem possui uma vida que é um eterno dilema. Ele entra numa espécie de labirinto e lá tem que descobrir e costurar os caminhos que seguirá pela frente a partir da realidade que ele vive em cada momento de sua vida. Norman me ofereceu o prazer de tentar descobrir o íntimo de sua alma.
Folha - Como foi sair da obscuridade de alguns anos atrás e hoje ser capa de revistas famosas?
Vaughn - O fato de eu ter passado tanto tempo desempregado antes de fazer "Swingers" me ajudou a dar mais valor hoje aos filmes que faço. Quando comecei o colegial, por exemplo, jamais imaginava que terminaria o curso com um diploma na mão. Parecia uma coisa utópica, mas que acabou acontecendo. O sucesso no cinema também foi uma coisa que eu pensei que nunca ia ocorrer por causa das dificuldades que eu enfrentei no começo de minha carreira.


Filme: Psicose
Produção: EUA, 1998
Direção: Gus van Sant
Com: Vince Vaughn, Anne Heche, Julianne Moore, Viggo Mortensen
Onde: a partir de hoje nos cines Interlar Aricanduva 12, Metrô Tatuapé 1, Interlagos Cinemark 2 e circuito





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