São Paulo, Sexta-feira, 15 de Janeiro de 1999
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PERFIL
Teórico via feudalismo no Brasil

da Redação

Nelson Werneck Sodré (1911-1999) foi um dos mais influentes historiadores brasileiros até o Movimento Militar de 1964. Filiado ao PCB (Partido Comunista Brasileiro), teve sua carreira no Exército truncada por seus superiores: sempre preterido nas promoções, acabou pedindo passagem para a reserva no governo de João Goulart.
Destacou-se, porém, por sua atividade teórica no Iseb (Instituto Superior de Estudos Brasileiros), onde trabalhou de 1956 até 1964, quando o instituto foi fechado.
Nesse período, publicou alguns de seus principais trabalhos: "Introdução à Revolução Brasileira" (1958) e "Formação Histórica do Brasil" (1962).
Nessas obras, Sodré sustentou a tese de que a história do país foi marcada pela predominância das relações de produção feudais.
Segundo ele, essas relações pré-capitalistas ainda dominavam vastas áreas do interior, bloqueando o desenvolvimento nacional.
Com base nesse diagnóstico, ele conseguiu fundamentar teoricamente a estratégia política do PCB, que propunha uma aliança da classe trabalhadora com a burguesia nacional e o campesinato.
Os inimigos fundamentais do proletariado seriam, desse ponto de vista, o latifúndio feudal (que bloqueava a expansão do capitalismo) e o imperialismo.
Ele concluía daí que a revolução brasileira deveria ser, em sua primeira etapa, nacional e democrática (antiimperialista e antifeudal). Só depois dela é que se passaria à revolução socialista. Nessa primeira etapa, o partido deveria lutar para implantar as reformas de base, das quais a principal era justamente a reforma agrária.
Em 1964, contudo, a "burguesia nacional", supostamente adversária dos proprietários "feudais" e do capital estrangeiro, aliou-se a eles para reprimir os sindicatos e as organizações de esquerda. Depois disso, a teoria sobre o passado feudal do Brasil caiu em desgraça.

Esquecimento
A obra de Nelson Werneck Sodré foi então relegada ao esquecimento. Mas, a despeito de suas falhas, contém análises penetrantes sobre a realidade nacional. Ele foi capaz, por exemplo, de antecipar o processo de abertura política.
Logo no início de 1973, Sodré escreveu um artigo analisando os pronunciamentos dos generais de Exército feitos no ano anterior.
Demonstrou que a corrente "legalista" havia se tornado dominante: os discursos políticos tinham desaparecido. Em função disso, ele concluiu que um processo de transição para a democracia estava começando.
Estava certo: em 1972, o grupo ligado aos irmãos Orlando e Ernesto Geisel conseguira obter a maioria no Alto Comando do Exército, suplantando a "linha-dura". Ernesto Geisel foi escolhido candidato a presidente em 1973. Um ano depois, começaria a "distensão".
Entre seus numerosos trabalhos, cabe destacar sua "História da Literatura Brasileira", publicada inicialmente em 1938, que contém uma análise profunda sobre o fenômeno do indianismo na arte brasileira; a "História da Imprensa no Brasil", de 1966, e a "História Militar do Brasil", de 1965.


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