São Paulo, Sexta-feira, 15 de Janeiro de 1999
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Morre Werneck, historiador dos problemas brasileiros


Escritor, historiador e crítico literário carioca, que tinha 87 anos, teve falência múltipla de órgãos anteontem; escreveu mais de 40 livros, como "História da Literatura Brasileira" (38), "História Militar do Brasil" (65) e "A Farsa do Neoliberalismo" (95)


Morreu anteontem, em Itu (92 km a noroeste de São Paulo), aos 87 anos de idade, o escritor, historiador e crítico literário Nelson Werneck Sodré. Segundo a assessoria da Santa Casa de Itu, as causas da morte foram septicemia e broncopneumonia. O historiador estava internado no hospital desde a última segunda-feira.
Estávamos aqui de férias havia um mês. O Nelson estava bem, mas adoeceu e foi operado na segunda, disse a viúva do escritor, Yolanda Frugoli Sodré, nascida em Itu. Ele era um homem saudável, produtivo. Tinha 88 anos, mas era lúcido e continuava trabalhando. Ele deixou uma filha, Olga. Por decisão da família, o enterro acontecerá em Itu. O velório teve início ontem, às 11h. O enterro estava marcado para as 16h
Vida e obra
Marxista convicto e autor de mais de 40 livros, entre eles "Formação Histórica do Brasil" (1962) e "Memórias de um Soldado" (1968), Nelson Werneck Sodré nasceu no Rio de Janeiro, em 27 de abril de 1911.
Estreou na literatura em 1938, com o livro "História da Literatura Brasileira - Seus Fundamentos Econômicos".
General reformado, integrou o Exército brasileiro de 1924 a 1962.
Apaixonado por história e aficionado estudioso do tema, chefiou o curso de história militar na Escola do Comando e Estado-Maior do Exército.
Uma das passagens de maior destaque de sua vida foi a criação do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb), em 1955, no Rio de Janeiro.
O Iseb, fundado como um núcleo de assessoria ao governo, era constituído por intelectuais de diversas tendências, que defendiam um capitalismo e um empresariado nacionais, na ideologia que ficou conhecida como "nacional-desenvolvimentista".
O instituto foi extinto em 1964 com a instauração do regime militar, que o considerava um "divulgador de idéias subversivas".
No Iseb, Werneck Sodré coordenou a execução da "História Nova do Brasil", logo apreendida pelo regime. Após o golpe, foi, junto com intelectuais de sua equipe, preso e processado.
Foi processado pela Justiça Militar por ter escrito o livro "História Militar do Brasil" (1965), acusado de propaganda subversiva.
A Polícia Federal, em junho de 1970, remeteu ao Ministério da Justiça uma relação de livros que seriam ofensivos à moral e aos bons costumes.
O livro de Werneck Sodré foi citado no relatório do ministério não como ofensivo à moral, mas como "propaganda subversiva".
Os exemplares que já estavam sendo comercializados foram apreendidos e ficaram proibidas sua impressão, circulação e venda em todo o território nacional.
Como Werneck Sodré já era general reformado nessa época, seu processo foi enviado para o Superior Tribunal Militar, que extinguiu a punição em 1978.
Em março do ano passado, três de suas obras voltaram às livrarias, e seu primeiro livro foi incluído no programa de enriquecimento de bibliotecas da rede pública escolar de todo o Brasil, desenvolvido pelo Ministério da Educação.
"Há livros que têm sorte e outros que não têm", declarou em março do ano passado, em Itu, onde costumava se refugiar nas férias "quando o calor do Rio de Janeiro o incomodava".
Adepto das teorias mais ortodoxas do marxismo, mesmo quando era criticado pela intelectualidade brasileira, Werneck Sodré ironizava e costumava dizer: "Como foi decretada a morte do marxismo, então não é mais preciso ler meus livros".


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