São Paulo, terça-feira, 15 de fevereiro de 2000


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Artista interpreta língua do poder

especial para a Folha

O catalão Antoní Muntadas, 57, poderia ter sua arte confundida com material educativo de uma ONG mais à esquerda.
Suas andanças pelo globo, projetos de intervenção em espaços públicos, fotos, gravuras e instalações baseadas no deslindamento das manhas e manias do poder apresentam pontos em comum com o trabalho de uma instituição de investigação de crimes contra a coletividade. Com duas diferenças importantes: Muntadas age solitariamente e examina, de preferência, o terreno imaterial das linguagens verbais e visuais.
Sob a lupa de seu ateliê, estabelecido em Nova York em 1971, tornam-se gigantescos os clichês de linguagem que sustentam poderes de organizações políticas e culturais, sinais de manipulação promovida por mídias de comunicação e coerções impostas por modernas estruturas arquitetônicas. Saltando de um ponto a outro do globo com uma agilidade de coelho de Alice, sua inquietude parece fundada na própria natureza das pistas que persegue, velozes exatamente para fugir à identificação e crítica.
Assim, afina constantemente seus instrumentos, criando suportes originais para vazar seus comentários e incorporando novas tecnologias, como a Internet.
Essa dinâmica sem trégua vem garantindo, já há 30 anos, o interesse do especializado clube de curadores de museus e mostras internacionais de arte contemporânea por sua obra. E embora a maioria de seus trabalhos venha com frequência sob a forma de instalação e "site specific" (incorporando a própria arquitetura onde são exibidos e, portanto, de venda quase impossível), também fazem sucesso junto às galerias situadas mais à vanguarda.
Para o MAM carioca, o catalão trouxe "Projetos", um abrangente mostruário de sua obra e de seus métodos, montado pela primeira vez em Madri, em 98.
"Trata-se de uma mostra "sui generis", porque além de cinco instalações são apresentados, à maneira de outra grande instalação, todos os projetos realizados pelo artista de 74 a 98, estimulando o público a refletir sobre o processo de trabalho", diz o crítico Agnaldo Farias, diretor do MAM.
Iniciada com pintura em 63, a carreira do artista deslanchou com maio de 68 na Europa e os questionamentos que se seguiram. Muntadas acertou prumo na arte conceitual que tomava corpo naquele momento, de fortes acentos políticos e sociais.
"Porém o trabalho evoluiu com meu interesse pelo que chamo "paisagens midiáticas". Trata-se de uma visão dos fenômenos contemporâneos de comunicação de massa e das formas de expressão escolhidas pelo poder, sendo bom ressaltar que não faço arte política. Meu interesse é mais o social e o cultural", sublinha o artista.
Ao visitar o MAM em 99 para tratar da mostra atual, o artista encontrou inestimável oportunidade de registrar a confluência entre instâncias culturais e políticas. Chegou ao museu um dia depois da realização, naquele lugar, da Cimeira, reunião de chefes de Estado internacionais. Não perdeu tempo, fotografando a desmontagem da cenografia do encontro, "que evidenciou a dupla função do museu como espaço de poder, tanto cultural como político". Sua instalação "Rio de Janeiro: O Dia Seguinte" utiliza as fotos oficiais do evento bem como os registros da desmontagem.
Muntadas define o Brasil como "um contexto familiar". Esteve pela primeira vez aqui em 1974, fazendo uma intervenção no MAC-USP, em São Paulo, a convite de Walter Zanini, que o chamou também para a bienal paulistana de 81. A partir daí retornou mais de dez vezes, para cursos, palestras e exposições. (AM)



Mostra: Projetos Onde: MAM-RJ (av. Infante Dom Henrique 85, tel. 0/xx/21/210-2188) Quando: ter., qua. e sex.: 12h às 18h, qui.:12h às 20h, sáb. e dom.: 13h às 20h Quanto: R$ 8 e R$ 4 Patrocínio: Fundação Telefônica


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