|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Artista interpreta língua do poder
especial para a Folha
O catalão Antoní Muntadas, 57,
poderia ter sua arte confundida
com material educativo de uma
ONG mais à esquerda.
Suas andanças pelo globo, projetos de intervenção em espaços
públicos, fotos, gravuras e instalações baseadas no deslindamento
das manhas e manias do poder
apresentam pontos em comum
com o trabalho de uma instituição de investigação de crimes
contra a coletividade. Com duas
diferenças importantes: Muntadas age solitariamente e examina,
de preferência, o terreno imaterial
das linguagens verbais e visuais.
Sob a lupa de seu ateliê, estabelecido em Nova York em 1971,
tornam-se gigantescos os clichês
de linguagem que sustentam poderes de organizações políticas e
culturais, sinais de manipulação
promovida por mídias de comunicação e coerções impostas por
modernas estruturas arquitetônicas. Saltando de um ponto a outro
do globo com uma agilidade de
coelho de Alice, sua inquietude
parece fundada na própria natureza das pistas que persegue, velozes exatamente para fugir à identificação e crítica.
Assim, afina constantemente
seus instrumentos, criando suportes originais para vazar seus
comentários e incorporando novas tecnologias, como a Internet.
Essa dinâmica sem trégua vem
garantindo, já há 30 anos, o interesse do especializado clube de
curadores de museus e mostras
internacionais de arte contemporânea por sua obra. E embora a
maioria de seus trabalhos venha
com frequência sob a forma de
instalação e "site specific" (incorporando a própria arquitetura
onde são exibidos e, portanto, de
venda quase impossível), também fazem sucesso junto às galerias situadas mais à vanguarda.
Para o MAM carioca, o catalão
trouxe "Projetos", um abrangente
mostruário de sua obra e de seus
métodos, montado pela primeira
vez em Madri, em 98.
"Trata-se de uma mostra "sui
generis", porque além de cinco
instalações são apresentados, à
maneira de outra grande instalação, todos os projetos realizados
pelo artista de 74 a 98, estimulando o público a refletir sobre o processo de trabalho", diz o crítico
Agnaldo Farias, diretor do MAM.
Iniciada com pintura em 63, a
carreira do artista deslanchou
com maio de 68 na Europa e os
questionamentos que se seguiram. Muntadas acertou prumo na
arte conceitual que tomava corpo
naquele momento, de fortes acentos políticos e sociais.
"Porém o trabalho evoluiu com
meu interesse pelo que chamo
"paisagens midiáticas". Trata-se
de uma visão dos fenômenos contemporâneos de comunicação de
massa e das formas de expressão
escolhidas pelo poder, sendo bom
ressaltar que não faço arte política. Meu interesse é mais o social e
o cultural", sublinha o artista.
Ao visitar o MAM em 99 para
tratar da mostra atual, o artista
encontrou inestimável oportunidade de registrar a confluência
entre instâncias culturais e políticas. Chegou ao museu um dia depois da realização, naquele lugar,
da Cimeira, reunião de chefes de
Estado internacionais. Não perdeu tempo, fotografando a desmontagem da cenografia do encontro, "que evidenciou a dupla
função do museu como espaço de
poder, tanto cultural como político". Sua instalação "Rio de Janeiro: O Dia Seguinte" utiliza as fotos
oficiais do evento bem como os
registros da desmontagem.
Muntadas define o Brasil como
"um contexto familiar". Esteve
pela primeira vez aqui em 1974,
fazendo uma intervenção no
MAC-USP, em São Paulo, a convite de Walter Zanini, que o chamou também para a bienal paulistana de 81. A partir daí retornou
mais de dez vezes, para cursos,
palestras e exposições.
(AM)
Mostra: Projetos
Onde: MAM-RJ (av. Infante Dom
Henrique 85, tel. 0/xx/21/210-2188)
Quando: ter., qua. e sex.: 12h às 18h,
qui.:12h às 20h, sáb. e dom.: 13h às 20h
Quanto: R$ 8 e R$ 4
Patrocínio: Fundação Telefônica
Texto Anterior: Artes Plásticas: Muntadas exibe "paisagens midiáticas" Próximo Texto: Site mostra censura a obras de arte Índice
|