|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/"Os Indomáveis"
Drama se sobrepõe à ação em faroeste ousado, mas irregular
Em seu 7º filme e com bom elenco, diretor James Mangold mescla influências do western clássico e do spaghetti
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Sétimo longa-metragem
do diretor James Mangold ("Johnny & June"),
"Os Indomáveis" é uma improvável tentativa de síntese da objetividade dos westerns clássicos (Ford, Hawks) e da extravagância dos westerns spaghetti
(Leone, Corbucci). Se essa ambição garante ao projeto ousadia e interesse, não se concretiza de todo, simplesmente porque Mangold não demonstra o
necessário domínio de linguagem para fazer a combinação.
"Os Indomáveis" é baseado
em um conto de Elmore Leonard publicado em 1953 e que
já havia sido adaptado por
Hollywood em 1957, no filme
"Galante e Sanguinário". Agora, Russell Crowe e Christian
Bale assumem os papéis de Ben
Wade, líder de uma gangue especializada em assaltos a trens,
e Dan Evans, vaqueiro prestes a
perder sua fazenda. Por US$
200 que salvarão suas terras,
Evans aceita participar da escolta que levará o recém-capturado Wade até o trem que segue
para a prisão de Yuma.
Situações clássicas do gênero
se sucedem em uma narrativa
de altos e baixos. Mangold é
mais bem-sucedido nas situações dramáticas, na direção de
atores e na contextualização
política do que na construção
das cenas típicas de um faroeste, que exigem um exímio controle da tensão e do tempo cinematográfico. O drama e a psicologia dos personagens acabam se sobrepondo àquilo que,
em termos formais, é a essência
do gênero: a ação.
Toda a chave de identificação
do filme está na relação entre o
bandido Wade e o mocinho
Evans, que ganha complexidade na medida em que eles convivem. Ainda que brutal, Wade
possui uma ética (leia-se, humanidade); e Evans, mesmo
herói, tem fraquezas (como
mentir que foi um herói da
Guerra Civil).
Mangold acrescenta à história uma forte dimensão política. Mais do que a total ausência
do poder público, o que joga
Evans em uma situação de risco são, antes de tudo, os interesses de um capitalismo em
plena ascensão, representado
pela companhia que lucra com
a construção da ferrovia. É a lógica do lucro que pauta a vida
de todos os que vivem por ali.
Não é o Estado, mas sim um fiscal da companhia ferroviária o
patrocinador da caçada a Wade,
bandido que representa uma
grande fonte de prejuízo.
Como um bom faroeste de
Howard Hawks, "Os Indomáveis" acerta ao contar a história
de uma amizade torta, com ótimos coadjuvantes, como o veterinário que entra para o grupo da escolta (Alan Tudyk) ou o
velho caçador de recompensas
vivido por um magistral Peter
Fonda. Mas, ao tentar imitar a
grandiosidade de Sergio Leone,
Mangold se dá mal.
É a extrema indecisão de registros que prejudica "Os Indomáveis", esvaziando-o da pulsação que alterna tempos mortos e ação -e que tornou grandes os melhores faroestes.
OS INDOMÁVEIS
Produção: EUA, 2007
Direção: James Mangold
Com: Russell Crowe, Christian Bale e Peter Fonda
Onde: a partir de hoje, nos cines
Anália Franco, Bristol e circuito
Avaliação: bom
Texto Anterior: Guerra domina último dia de Berlim Próximo Texto: Crítica/"Karajan Gold": Coletânea de Karajan revela ostentação próxima ao kitsch Índice
|