São Paulo, sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

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Crítica/"Os Indomáveis"

Drama se sobrepõe à ação em faroeste ousado, mas irregular

Em seu 7º filme e com bom elenco, diretor James Mangold mescla influências do western clássico e do spaghetti

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Sétimo longa-metragem do diretor James Mangold ("Johnny & June"), "Os Indomáveis" é uma improvável tentativa de síntese da objetividade dos westerns clássicos (Ford, Hawks) e da extravagância dos westerns spaghetti (Leone, Corbucci). Se essa ambição garante ao projeto ousadia e interesse, não se concretiza de todo, simplesmente porque Mangold não demonstra o necessário domínio de linguagem para fazer a combinação.
"Os Indomáveis" é baseado em um conto de Elmore Leonard publicado em 1953 e que já havia sido adaptado por Hollywood em 1957, no filme "Galante e Sanguinário". Agora, Russell Crowe e Christian Bale assumem os papéis de Ben Wade, líder de uma gangue especializada em assaltos a trens, e Dan Evans, vaqueiro prestes a perder sua fazenda. Por US$ 200 que salvarão suas terras, Evans aceita participar da escolta que levará o recém-capturado Wade até o trem que segue para a prisão de Yuma.
Situações clássicas do gênero se sucedem em uma narrativa de altos e baixos. Mangold é mais bem-sucedido nas situações dramáticas, na direção de atores e na contextualização política do que na construção das cenas típicas de um faroeste, que exigem um exímio controle da tensão e do tempo cinematográfico. O drama e a psicologia dos personagens acabam se sobrepondo àquilo que, em termos formais, é a essência do gênero: a ação.
Toda a chave de identificação do filme está na relação entre o bandido Wade e o mocinho Evans, que ganha complexidade na medida em que eles convivem. Ainda que brutal, Wade possui uma ética (leia-se, humanidade); e Evans, mesmo herói, tem fraquezas (como mentir que foi um herói da Guerra Civil).
Mangold acrescenta à história uma forte dimensão política. Mais do que a total ausência do poder público, o que joga Evans em uma situação de risco são, antes de tudo, os interesses de um capitalismo em plena ascensão, representado pela companhia que lucra com a construção da ferrovia. É a lógica do lucro que pauta a vida de todos os que vivem por ali.
Não é o Estado, mas sim um fiscal da companhia ferroviária o patrocinador da caçada a Wade, bandido que representa uma grande fonte de prejuízo.
Como um bom faroeste de Howard Hawks, "Os Indomáveis" acerta ao contar a história de uma amizade torta, com ótimos coadjuvantes, como o veterinário que entra para o grupo da escolta (Alan Tudyk) ou o velho caçador de recompensas vivido por um magistral Peter Fonda. Mas, ao tentar imitar a grandiosidade de Sergio Leone, Mangold se dá mal.
É a extrema indecisão de registros que prejudica "Os Indomáveis", esvaziando-o da pulsação que alterna tempos mortos e ação -e que tornou grandes os melhores faroestes.


OS INDOMÁVEIS
Produção:
EUA, 2007
Direção: James Mangold
Com: Russell Crowe, Christian Bale e Peter Fonda
Onde: a partir de hoje, nos cines Anália Franco, Bristol e circuito
Avaliação: bom


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