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Guerra domina último dia de Berlim
Festival alemão apresentou longas que falam sobre conflitos na Etiópia, no Iraque e no Oriente Médio
DA ENVIADA A BERLIM
Dominado por títulos que tematizam a guerra, o último dia
de exibição de filmes na competição pelo Urso de Ouro do
58º Festival de Berlim, ontem,
forjou um debate sobre a acuidade da representação cinematográfica da história recente.
A discussão foi disparada por
"Feuerherz" (coração de fogo),
do italiano radicado na Alemanha Luigi Falorni, que enfoca a
luta civil interna ocorrida na
Eritréia, durante sua guerra pela independência da Etiópia,
vista pelos olhos de uma menina que serviu como soldado numa das milícias rivais.
O filme de Falorni é baseado
na biografia homônima da cantora Senait Mehari e mostra a
garota, aos 10 anos, sendo treinada no uso de armas, combatendo inimigos e executando
tarefas como a de lavar os uniformes manchados de sangue
dos adultos no front.
Ocorre que o relato de Mehari é contestado por diversas
fontes, sobretudo pelo governo
da Eritréia, que nega a existência em sua história de soldados-mirins. "Isso não existiu. Este
filme é uma vergonha para o
que representaram os 30 anos
de luta pela independência da
Eritréia. Mehari devia assumir
que não é verdade e desculpar-se", protestou um jornalista do
país africano, ontem pela manhã, na entrevista coletiva sobre "Feuerherz", à qual Mehari
não compareceu.
O diretor disse que ela iria à
sessão oficial, à tarde.
Falorni sustentou que os fatos contados por Mehari são
corroborados por documentos,
mas tentou desvencilhar-se da
polêmica: "Meu objetivo não é
atacar um país, mas sim contar
uma história mais universal sobre a guerra, do ponto de vista
de uma criança".
Guerra do Iraque
O segundo filme do dia, o israelense "Restless" (incansável), de Amos Kollek, entrelaça
duas guerras -a de Israel com a
Palestina e a dos EUA contra o
Iraque- numa mesma história,
de pai e filho.
Jovem com ambições artísticas, Moshe (Moshe Ivgy) muda-se para os EUA, por discordar dos que "matam mulheres e
crianças palestinas achando
que estão prestando um serviço
à nação [israelense]".
Em Nova York, Moshe se torna um poeta underground, que
recita seus versos num bar freqüentado pela comunidade judaica, a quem ele faz lembrar as
perdas na Guerra do Iraque e a
quinta emenda da Constituição
americana: "Você tem o direito
de permanecer calado".
Moshe tem um filho, Tzach
(Ran Danker), que ele deixou
para trás, recém-nascido,
quando decidiu sair do Exército e de Israel. Aos 20 anos,
Tzach serve o Exército de Israel nos territórios ocupados e
sonha em seguir a carreira militar, quando um incidente muda
seus planos e o faz procurar o
pai na América.
O francês "Il y a Longtemps
que Je t'Aime" (há muito tempo te amo), de Philippe Claudel,
foi o terceiro filme apresentado
ontem e o penúltimo da competição, entre 21 longas.
Drama sobre a morte, o perdão e as possibilidades de reconstrução da identidade, o
longa acompanha uma mulher
(Kristin Scott Thomas, em extraordinária performance) tentando se readaptar à vida social
depois de passar 15 anos na prisão, por haver cometido um assassinato em família.
(SA)
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