São Paulo, sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

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Guerra domina último dia de Berlim

Festival alemão apresentou longas que falam sobre conflitos na Etiópia, no Iraque e no Oriente Médio

DA ENVIADA A BERLIM

Dominado por títulos que tematizam a guerra, o último dia de exibição de filmes na competição pelo Urso de Ouro do 58º Festival de Berlim, ontem, forjou um debate sobre a acuidade da representação cinematográfica da história recente.
A discussão foi disparada por "Feuerherz" (coração de fogo), do italiano radicado na Alemanha Luigi Falorni, que enfoca a luta civil interna ocorrida na Eritréia, durante sua guerra pela independência da Etiópia, vista pelos olhos de uma menina que serviu como soldado numa das milícias rivais.
O filme de Falorni é baseado na biografia homônima da cantora Senait Mehari e mostra a garota, aos 10 anos, sendo treinada no uso de armas, combatendo inimigos e executando tarefas como a de lavar os uniformes manchados de sangue dos adultos no front.
Ocorre que o relato de Mehari é contestado por diversas fontes, sobretudo pelo governo da Eritréia, que nega a existência em sua história de soldados-mirins. "Isso não existiu. Este filme é uma vergonha para o que representaram os 30 anos de luta pela independência da Eritréia. Mehari devia assumir que não é verdade e desculpar-se", protestou um jornalista do país africano, ontem pela manhã, na entrevista coletiva sobre "Feuerherz", à qual Mehari não compareceu.
O diretor disse que ela iria à sessão oficial, à tarde.
Falorni sustentou que os fatos contados por Mehari são corroborados por documentos, mas tentou desvencilhar-se da polêmica: "Meu objetivo não é atacar um país, mas sim contar uma história mais universal sobre a guerra, do ponto de vista de uma criança".

Guerra do Iraque
O segundo filme do dia, o israelense "Restless" (incansável), de Amos Kollek, entrelaça duas guerras -a de Israel com a Palestina e a dos EUA contra o Iraque- numa mesma história, de pai e filho.
Jovem com ambições artísticas, Moshe (Moshe Ivgy) muda-se para os EUA, por discordar dos que "matam mulheres e crianças palestinas achando que estão prestando um serviço à nação [israelense]".
Em Nova York, Moshe se torna um poeta underground, que recita seus versos num bar freqüentado pela comunidade judaica, a quem ele faz lembrar as perdas na Guerra do Iraque e a quinta emenda da Constituição americana: "Você tem o direito de permanecer calado".
Moshe tem um filho, Tzach (Ran Danker), que ele deixou para trás, recém-nascido, quando decidiu sair do Exército e de Israel. Aos 20 anos, Tzach serve o Exército de Israel nos territórios ocupados e sonha em seguir a carreira militar, quando um incidente muda seus planos e o faz procurar o pai na América.
O francês "Il y a Longtemps que Je t'Aime" (há muito tempo te amo), de Philippe Claudel, foi o terceiro filme apresentado ontem e o penúltimo da competição, entre 21 longas.
Drama sobre a morte, o perdão e as possibilidades de reconstrução da identidade, o longa acompanha uma mulher (Kristin Scott Thomas, em extraordinária performance) tentando se readaptar à vida social depois de passar 15 anos na prisão, por haver cometido um assassinato em família. (SA)


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