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São Paulo, sábado, 15 de março de 2003

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Brasil maquiado



Publicação revela que obras do alemão Johann Moritz Rugendas transformaram as paisagens do país


Reprodução do livro"Rugendas e o Brasil"
Detalhe da "Vista da Baía de Guanabara desde a Serra dos Órgãos"


FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Se a representação da violência brasileira produz atualmente uma imagem negativa do país no exterior, no século 18, apesar da complexidade da realidade nacional, o estereótipo do país tinha uma forte carga positiva, graças ao que se imaginava do Novo Mundo no velho continente. Aqui, segundo os europeus, vivia-se no paraíso tropical.
Um dos responsáveis por tal caracterização é o artista alemão Johann Moritz Rugendas (1802-1825). Sua importância para a criação da imagem do país é inconteste, materializada no livro "Viagem Pitoresca através do Brasil", publicado pelo artista em 1835, após sua presença por aqui entre 1822 e 1825.
Rugendas veio ao país acompanhando a expedição Langsdorff, mas separou-se dela por desentendimentos com o barão Langsdorff e retornou novamente em 1845 e 1846.
Entretanto poucos se atrevem a apontar uma certa maquiagem que Rugendas fez do país, no início do século 19. Não é o caso do chileno Pablo Diener e da brasileira Maria de Fátima Costa, pesquisadores que acabam de lançar "Rugendas e o Brasil".
Distribuído no final do ano passado pela Telefônica, a patrocinadora da publicação, "Rugendas e o Brasil" foi organizado pelo editor Pedro Corrêa do Lago, que atualmente é o diretor da Biblioteca Nacional, no Rio. "O livro se insere numa linha de publicações de fôlego, que a editora Capivara, atualmente tendo Beatriz Corrêa do Lago à frente, pretende produzir", diz Lago.
Pois a obra é, de fato, o mais completo estudo sobre Rugendas feito no Brasil. Seus autores trabalham no tema há dez anos e possuem um acervo de 4.000 fotos de toda a obra de Rugendas, em Cuiabá, onde vivem. O livro é um catálogo "raisoneé", isto é, completo, das obras do artista alemão sobre o país, um esforço inédito. A reunião de todas as pinturas a óleo feitas pelo artista é um dos pontos altos do livro.
Mas a parte mais reveladora é o capítulo que compara as cem gravuras feitas na Europa e publicadas em "Viagem Pitoresca" com estudos e desenhos feitos no Brasil. É nessa seção que se torna claro o processo de transformação que o Brasil sofreu com o artista. "Rugendas esmerou-se em atender a um público ávido pelo pitoresco. Temos, portanto, uma bela obra, longe porém de um livro de caráter documental", afirmam os autores na recente publicação. "Havia um ânimo comercial, Rugendas fez concessões, utilizou material de segunda mão. Não é um retrato fiel, mas uma visão poética do país", disse Diener à Folha.

RUGENDAS E O BRASIL. De: Pablo Diener e Maria de Fátima Costa. Editora: Capivara. Quanto: R$ 96 ( 376 págs.). Patrocinador: Telefônica.


Texto Anterior: Walter Salles: A moagem do tempo em "As Horas"
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