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São Paulo, terça-feira, 15 de abril de 2003

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É TUDO VERDADE

"O Prisioneiro da Grade de Ferro" recebeu grande prêmio

Filme do Brasil vence competição estrangeira

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

"Um filme se impôs", afirmaram os jurados da competição internacional do 8º É Tudo Verdade -°Festival Internacional do Documentário, ao anunciar a decisão de premiar o brasileiro "O Prisioneiro da Grade de Ferro", de Paulo Sacramento, 32.
O júri foi formado pelos especialistas em cinema Jean-Pierre Rehm, Anna Glogowski e André Paquet, e a premiação ocorreu em São Paulo, na noite de domingo, quando se encerrou o evento, aberto no último dia 7.
Pelo regulamento do festival, o vencedor da competição brasileira passa, automaticamente, a disputar a seção internacional. "O Prisioneiro da Grade de Ferro" foi premiado na disputa brasileira, que reuniu 21 títulos, e se juntou, então, aos 15 competidores internacionais.
O filme foi montado a partir de 170 horas de imagens captadas, em 2001 (por Sacramento e por um grupo de 20 detentos), na Casa de Detenção de São Paulo, o complexo do Carandiru.
O presídio, que abrigava mais de 7.000 homens, foi desativado em 2002. Três de seus nove pavilhões foram implodidos. As imagens iniciais de "O Prisioneiro da Grade de Ferro" mostram a implosão em sentido inverso. Na tela, os prédios sobem do chão e se põem novamente de pé. É a senha de Sacramento para a introdução num universo que ele quis mostrar como um "caleidoscópio".
"Eu queria não dar ao espectador o conforto de pensar que, com o filme, entendeu o Carandiru. Queria não explicar aquilo", diz o diretor.
Os presidiários que participaram das filmagens aprenderam a manipular as câmeras de vídeo durante um curso oferecido pelo cineasta no presídio. "No final do primeiro dia de inscrições, tínhamos cem candidatos. Foi preciso encerrá-las e começar a seleção", diz Sacramento.
A escolha dos alunos não levou em conta as razões de sua condenação, mas as diferentes experiências que poderiam representar a vida no presídio. Assim, o cineasta escolheu alunos diferentes na faixa etária, no tempo de pena cumprida e a cumprir e na localização entre os nove pavilhões da Casa de Detenção.
Sacramento diz que, na montagem do filme, preferiu "não deixar absolutamente claro quem está filmando o quê". Ele julga que a melhor passagem do longa é a que chama de "a noite de um detento" -com uma câmera digital, dois presidiários registram o cotidiano na cela desde o momento em que se recolhem até o amanhecer.
Além dos detentos, também são ouvidos no filme ex-diretores do presídio. Em sua maioria, as autoridades carcerárias são pessimistas quanto à possibilidade de o sistema prisional brasileiro contribuir para a recuperação de criminosos.
"Preferi deixar o filme mais imperfeito e não-resolvido, com as questões colocadas. Não me sentiria confortável de fazer um documentário que terminasse sem oferecer uma visão problematizada", diz Sacramento.
O título "O Prisioneiro da Grade de Ferro" reproduz o nome de um livro publicado há três décadas por Percival de Souza e que inspirou Sacramento a abordar o tema do presídio.
"Meu filme também é, entre aspas, baseado no livro de Souza. O que eu fiz no cinema não deixa de ser uma adaptação, uma recriação do que ele escreveu."


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