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É TUDO VERDADE
"O Prisioneiro da Grade de Ferro" recebeu grande prêmio
Filme do Brasil vence competição estrangeira
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
"Um filme se impôs", afirmaram os jurados da competição internacional do 8º É Tudo Verdade
-°Festival Internacional do Documentário, ao anunciar a decisão
de premiar o brasileiro "O Prisioneiro da Grade de Ferro", de Paulo Sacramento, 32.
O júri foi formado pelos especialistas em cinema Jean-Pierre
Rehm, Anna Glogowski e André
Paquet, e a premiação ocorreu em
São Paulo, na noite de domingo,
quando se encerrou o evento,
aberto no último dia 7.
Pelo regulamento do festival, o
vencedor da competição brasileira passa, automaticamente, a disputar a seção internacional. "O
Prisioneiro da Grade de Ferro" foi
premiado na disputa brasileira,
que reuniu 21 títulos, e se juntou,
então, aos 15 competidores internacionais.
O filme foi montado a partir de
170 horas de imagens captadas,
em 2001 (por Sacramento e por
um grupo de 20 detentos), na Casa de Detenção de São Paulo, o
complexo do Carandiru.
O presídio, que abrigava mais
de 7.000 homens, foi desativado
em 2002. Três de seus nove pavilhões foram implodidos. As imagens iniciais de "O Prisioneiro da
Grade de Ferro" mostram a implosão em sentido inverso. Na tela, os prédios sobem do chão e se
põem novamente de pé. É a senha
de Sacramento para a introdução
num universo que ele quis mostrar como um "caleidoscópio".
"Eu queria não dar ao espectador o conforto de pensar que,
com o filme, entendeu o Carandiru. Queria não explicar aquilo",
diz o diretor.
Os presidiários que participaram das filmagens aprenderam a
manipular as câmeras de vídeo
durante um curso oferecido pelo
cineasta no presídio. "No final do
primeiro dia de inscrições, tínhamos cem candidatos. Foi preciso
encerrá-las e começar a seleção",
diz Sacramento.
A escolha dos alunos não levou
em conta as razões de sua condenação, mas as diferentes experiências que poderiam representar a vida no presídio. Assim, o cineasta escolheu alunos diferentes
na faixa etária, no tempo de pena
cumprida e a cumprir e na localização entre os nove pavilhões da
Casa de Detenção.
Sacramento diz que, na montagem do filme, preferiu "não deixar absolutamente claro quem está filmando o quê". Ele julga que a
melhor passagem do longa é a que
chama de "a noite de um detento"
-com uma câmera digital, dois
presidiários registram o cotidiano
na cela desde o momento em que
se recolhem até o amanhecer.
Além dos detentos, também são
ouvidos no filme ex-diretores do
presídio. Em sua maioria, as autoridades carcerárias são pessimistas quanto à possibilidade de o
sistema prisional brasileiro contribuir para a recuperação de criminosos.
"Preferi deixar o filme mais imperfeito e não-resolvido, com as
questões colocadas. Não me sentiria confortável de fazer um documentário que terminasse sem
oferecer uma visão problematizada", diz Sacramento.
O título "O Prisioneiro da Grade
de Ferro" reproduz o nome de
um livro publicado há três décadas por Percival de Souza e que
inspirou Sacramento a abordar o
tema do presídio.
"Meu filme também é, entre aspas, baseado no livro de Souza. O
que eu fiz no cinema não deixa de
ser uma adaptação, uma recriação do que ele escreveu."
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