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Antonio Calmon debate sua "arte descartável"
DA REPORTAGEM LOCAL
O cineasta Antonio Calmon, 56,
trocou o cinema pela autoria de
novelas de TV e não se arrepende.
"Depois de quase 15 anos de televisão, isso ficou mais claro para
mim, mas sempre me vi como um
tipo de artista que faz uma arte industrial. No Brasil, as pessoas são
autorais demais. Eu criticava isso
no cinema novo, no underground. É a síndrome da genialidade e da autoria", diz.
Contradizendo sua própria auto-imagem, é como um autor singular no panorama do cinema e
da TV que os organizadores da
mostra "Antonio Calmon - Gênero, Contestação e Autoria" inauguram hoje uma retrospectiva de
seus trabalhos no cinema e na TV.
Concentrado no CCBB (Centro
Cultural Banco do Brasil), o ciclo
começa com um debate em torno
do diretor, do qual participam o
ator e diretor Daniel Filho, o roteirista Marçal Aquino e o consultor
de TV Álvaro Ramos. "Venham
jogar pedras em Antonio Calmon", convida.
A retrospectiva prossegue até o
dia 27, com a exibição dos longas-metragens dirigidos por Calmon e de trechos de novelas e programas especiais que escreveu, como
"Vamp", "Top Model", "Armação Ilimitada" e "A Justiceira".
"Sempre me considerei um autor de produtos descartáveis. O
que está no meu computador hoje
vai ao ar em um mês e, um mês
depois, já foi esquecido. Mas,
num único dia, o que escrevi foi
visto por 60 milhões de pessoas.
São escolhas que a gente faz", diz.
Desconforto
O diretor diz que seu caminho
até a teledramaturgia e a especialização na temática infanto-juvenil
foram "acidentais". "A temática
infanto-juvenil não é algo que eu
adore ou sobre que fique especialmente pensando. Fiz o [filme]
"Menino no Rio", por encomenda do [diretor] Bruno Barreto,
que deu no [filme] "Garota Dourada", que deu no [seriado de
TV] "Armação Ilimitada" e aí fiquei no horário das 19h [da programação de novelas da Globo], que praticamente tem apenas eu e
Carlos Lombardi como autores fixos", afirma.
Sem planos de retornar ao cinema, Calmon diz que não sente falta de dirigir, porque considera a atividade "muito desconfortável".
"Um filme ocupa três, quatro
anos da sua vida. Tem que levantar o dinheiro [para a produção],
depois tem que ir contra toda a
realidade para filmar, programar
o filme, ficar mais um ano vendendo, passando em festivais..."
Calmon diz que "a nova safra do
cinema brasileiro é excelente".
Mas critica o que considera falta
de coerência na abordagem do tema da violência.
"Quando fiz filmes de hiperviolência, vivia uma vida marginal,
não era uma pessoa certinha, organizadinha, de boa família. Cobro muito a relação entre a experiência pessoal do artista e sua
obra. Quando se mistura as duas
coisas, você morre prematuramente, como aconteceu de Rimbaud a Glauber Rocha. Mas é preciso ter uma coerência mínima.
Eu, por exemplo, se tivesse grana
e gostasse de trabalhar, ia fazer filmes na linha do Antonioni", diz.
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