|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BIENAL DO LIVRO
Gigantes no ringue
Ciete Silvério/Folha Imagem
|
Montagens de estandes na Bienal do Livro de São Paulo, em que as editoras universitárias, junto à Imprensa Oficial, e as afiliadas da Associação Brasileira de Editoras Cristãs têm o maior espaço |
Menos badaladas, editoras universitárias, cristãs e escolares viram donas do pedaço na
Bienal do Livro de SP, que começa hoje
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Nem Record, nem Rocco, nem
Companhia das Letras. Nem
Harry Potter, nem Paulo Coelho,
nem Sidney Sheldon. As editoras
mais "badaladas" e os grandes
best-sellers não são os maiorais
na Bienal do Livro de São Paulo,
que chega hoje à sua 18ª edição.
Na geopolítica do maior evento
editorial do país, que deve ser
inaugurado hoje por um inédito
trio Lula, Geraldo Alckmin e Marta Suplicy, os verdadeiros donos
do pedaço são as menos lembradas editoras universitárias, cristãs
e de livros escolares.
Os três segmentos têm os maiores estandes da feira, pelo segundo ano consecutivo instalada no
Centro de Exposições Imigrantes.
Desta vez o maior latifúndio
tem uma série de novidades. A
Imprensa Oficial do Estado de
São Paulo abocanhou 932 metros
quadrados e chamou para seu espaço uma fila de "convidados".
Nessa área ficarão a Associação
Brasileira das Editoras Universitárias, a Associação Brasileira de
Imprensas Oficiais e, novidades
de 2004, uma série de ONGs e a
TV Cultura, que produzirá um
programa diário sobre o evento.
"A Bienal acaba priorizando
editoras comerciais. Não deu nenhuma condição especial para
segmentos que normalmente não
teriam condições de participar.
Estamos tentando cubrir esse papel que a Bienal não cumpre",
afirma Hubert Alquéres, presidente da Imprensa Oficial.
A instituição aproveita o evento
organizado pela Câmara Brasileiro do Livro para levar ao palco outra novidade. Já tradicional parceira de editoras na publicação de
livros, a Imprensa Oficial paulista
se lança como editora solo.
Os dois primeiros pacotes da casa serão a coleção Aplauso, série
de biografias de artistas brasileiros de teatro, cinema e TV, como
Anselmo Duarte, Cleyde Yáconis
e Ruth de Souza, e o selo Imprensa Social, coleção de livros feitos
em parcerias com ONGs, como o
Geledés, a Andi e até a Unesco.
Outra das "gigantes desconhecidas" no ringue da Bienal, a Associação Brasileira das Editoras
Cristãs também chega à 18ª edição da feira "subsidiando". Se a
Imprensa Oficial convidou sem
cobrar ou com preços mais suaves
uma série de parceiros, como 52
editoras universitárias da Abeu, a
instituição cristã também sublocou partes de seus 740 metros
quadrados por valores totais bem
pequenos para o mercado.
Segundo o diretor executivo da
Abec, Whaner Endo, algumas
editoras chegaram a pagar R$ 500
para exibirem seus livros.
"Achamos que a Bienal é um espaço importante para exibirmos
nosso trabalho, que não têm espaço na mídia. Um autor como Rick
Warren [autor de "Uma Vida com
Propósitos", editora Vida] já vendeu 80 mil exemplares em menos
de um ano, e só falam de Lya
Luft", diz Endo.
O diretor da Abec, que concentra basicamente editoras evangélicas, diz que o segmento certamente terá outra vez o maior best-seller da Bienal, não menos, não
mais, que a Bíblia. "É o maior
best-seller desde Gutenberg",
brinca.
O maior "rebanho", porém, não
é das cristãs. Editoras como Saraiva (dona do terceiro estande da
Bienal, com 420 metros quadrados), Ática, Scipione, Moderna e
FTD é que recebem tradicionalmente mais visitas: são as editoras
de livros infantis e escolares, sempre no caminho das centenas de
milhares de crianças que enformigam os corredores da Bienal
(para quem quiser escapar disso,
aqui vai a dica: dias 19, 20, 22 e 23,
das 10h às 17h, são os períodos oficiais de visitação escolar).
Presidente da Abrelivros, maior
instituição de editoras didáticas e
afins, Wander Soares diz que o
segmento não cogita um "a união
faz a força", o agrupamento em
blocos, como fazem as cristãs ou
as universitárias. "Seria preciso
um pavilhão à parte."
Soares diz que, mesmo para essas editoras, que normalmente
lançam títulos muito consumidos
pela criançada (o quinteto de ouro dos infanto-juvenis brasileiros
estará presente na Bienal: Ziraldo,
Ruth Rocha, Ana Maria Machado, Maurício de Souza e Lygia Bojunga Nunes, que abre amanhã a
série de palestras Salão de Idéias),
a feira não traz lucros imediatos.
"Ninguém espera retorno financeiro na Bienal. O importante é o
lucro institucional."
Para a Câmara Brasileira do Livro, organizadora do evento, a
história é um pouco diferente. O
investimento total na Bienal está
em torno dos R$ 14 milhões e, no
final do dia 25 de abril, quando
termina o evento, a caixa registradora da instituição deverá contar
com cerca de R$ 15 milhões.
O fato de ter tirado do programa
duas das suas atrações "instituicionais" não deve atrapalhar a estratégia. A Bienal não terá, como
nas edições anteriores, a cerimônia de entrega do Prêmio Jabuti,
transferida para setembro (as
cristãs, por sua vez, fazem seu "Jabuti", o 13º Prêmio Abec, no dia
17). A entidade também não divulgará seu tradicional balanço
do mercado editorial, feito em
parceria com o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel),
o que deve acontecer em maio.
A projeção inicial do mercado
não é nada animadora. Mesmo
entre as "gigantes" da Bienal, a
previsão é de que a pesquisa traga
números desanimadores. Endo,
da Abec, diz que 2003 representou
um "grande baque" para as cristãs. Elas, e as demais editoras, seguem à espera de milagres.
Texto Anterior: Programação Próximo Texto: Teatro: Peça expõe pedofilia sem maniqueísmo Índice
|