|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
POLÍTICA CULTURAL
Decreto presidencial restitui à Secretaria do Audiovisual aprovação e fiscalização de projetos de filmes
Gil amplia influência do MinC no cinema
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
A Secretaria do Audiovisual do
MinC (Ministério da Cultura) assumiu parte das atribuições da
Ancine (Agência Nacional do Cinema), por meio de decreto (nš
5.036) publicado no "Diário Oficial" da última quinta, com as assinaturas do presidente Lula e do
ministro Gilberto Gil (Cultura).
O decreto é a terceira modificação na estrutura do MinC promovida no governo Lula. As duas anteriores foram feitas também por
meio de decretos, datados de
agosto e novembro de 2003 e revogados pelo atual documento.
Tornou-se responsabilidade da
Secretaria do Audiovisual (que
voltou a ser assim chamada, abolindo a nomenclatura Secretaria
para o Desenvolvimento das Artes Audiovisuais, estabelecida no
decreto anterior) "aprovar e controlar a execução de projetos" de
filmes financiados por patrocínio,
por meio das leis Rouanet e do
Audiovisual.
Quase todos os longas-metragens feitos no Brasil são produzidos com o uso dessas leis de renúncia fiscal (pelas quais o governo abre mão de receber, a cada
ano, um percentual do Imposto
de Renda, autorizando o contribuinte a investir o valor na execução de projetos culturais).
Para captar o patrocínio, os projetos de filmes necessitavam solicitar primeiro a aprovação de
seus orçamentos pela Ancine. Cabia também à agência acompanhar a captação do dinheiro e
analisar a prestação final de contas dos filmes, fiscalizando o uso
dos recursos públicos.
Pelo novo decreto presidencial,
passa a ser também papel da Secretaria do Audiovisual "elaborar
e submeter ao Conselho Superior
do Cinema a política nacional do
cinema e do audiovisual".
O Conselho Superior do Cinema é formado pelos titulares de
nove ministérios (Casa Civil, Comunicações, Cultura, Desenvolvimento, Educação, Fazenda, Justiça, Relações Exteriores e Secretaria de Comunicação de Governo)
e por nove personalidades civis,
indicadas pela Presidência.
O conselho foi previsto na medida provisória 2.228 (de 9/2001,
que criou também a Ancine) como órgão da Casa Civil.
Projeto de lei
A transferência de responsabilidades da Agência Nacional do Cinema para o Ministério da Cultura ocorreu às vésperas do envio ao
Congresso Nacional de projeto de
lei que trata do funcionamento
das agências reguladoras e prevê a
garantia de estabilidade para os
seus presidentes.
O diretor-presidente da Ancine,
Gustavo Dahl, foi nomeado durante a presidência de Fernando
Henrique Cardoso (1995-2002) e é
considerado pela equipe do Ministério da Cultura um opositor
político do governo Lula.
O secretário do audiovisual, Orlando Senna, diz que "esse decreto é mais um passo na reorganização institucional do Executivo e
tem o anteparo da Constituição
Federal, segundo a qual é privado
do presidente dispor da organização do Executivo".
Questionado se o decreto 5.036
se antecipa ao projeto de lei das
agências reguladoras, para garantir ao MinC margem de ação mais
ampla em relação à Ancine, Senna
afirma: "É uma interpretação sua,
que posso acompanhar, assim como todo mundo que presta atenção nessas coisas".
O secretário diz que, "na prática
e no momento", a aprovação e a
fiscalização de projetos de filmes
continuará sendo feita pela Ancine, "mas como uma atribuição do
Estado delegada pela Secretaria
do Audiovisual à Ancine".
Procurado para entrevista, Dahl
preferiu não falar com a reportagem, mas declarou, por meio de
sua assessoria: "A Ancine considera que o que está atualmente
em vigor é a medida provisória
2.228, que tem efeito de lei, até que
o Congresso Nacional a reveja".
Preocupação
O exibidor Luiz Severiano Ribeiro, membro do Conselho Superior de Cinema, instalado no
último dia 11 de fevereiro, se diz
preocupado com a medida. "O
conselho mal foi estabelecido e
pode ser enfraquecido, já que eles
[a Secretaria do Audiovisual] é
que vão formular as políticas."
O diretor de TV Gabriel Priolli,
também titular do conselho, discorda. "Não vejo isso como enfraquecimento. Sempre entendi o
conselho como órgão auxiliar do
Executivo. Não é papel exclusivo
do conselho ser o formulador de
políticas, porque isso eliminaria o
papel do ministério."
O montador Giba Assis Brasil,
membro-titular do conselho, diz
não acreditar que o decreto possa
"mudar a relação do conselho
com os órgãos de governo e de Estado, como a Secretaria do Audiovisual e a Ancine". Assis Brasil
lembra que o conselho se reuniu
apenas uma vez e "aguarda que o
ministério apresente sua proposta
de marco regulatório do audiovisual para discuti-la".
O decreto 5.036 criou a Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura, a sétima na estrutura do
MinC, assumida por Sérgio Xavier. Antes, o Fomento e Incentivo à Cultura era uma diretoria no
quadro da Secretaria Executiva.
Texto Anterior: Teatro: Peça expõe pedofilia sem maniqueísmo Próximo Texto: Música: Massive Attack acerta show em São Paulo Índice
|