São Paulo, quinta-feira, 15 de abril de 2004

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CRÍTICA

"A Diarista" faz caricatura do pobre

XICO SÁ
CRÍTICO DA FOLHA

O novo programa da Globo, "A Diarista", nascido de um especial de fim de ano, está bem abaixo da linha de humor da casa. Não tem experimentos, como o enxerido "Sexo Frágil", e não segura a onda do humorzão mais popular, que tem à esquerda a turma do Casseta e à direita o "Zorra Total".
"A Diarista" tem a sua matriz, talvez involuntária, no filme "Domésticas", de Fernando Meirelles e Nando Olival. Repete os mesmos esquemas da folclorização dos personagens -como os pobres são engraçados, espertos, devassos e ignorantes!-, mas com um texto ainda forçado na caricatura.
No programa da estréia, Marinete (Cláudia Rodrigues) vai prestar serviço a um artista plástico gay e enlouquece com as suas obras. Vive o típico e velho dilema burguês: isso é arte ou apenas objetos que poderiam ir para o lixo? Manda pra lixeira as instalações do patrão. A "bicha" enfarta no final. "Nooossa!", diria o velho comediante Costinha, esse sim um mestre do humor caricato.
No primeiro episódio, o humorístico deu-se ao luxo de contar com ótimos atores, casos de Sérgio Mamberti, que fez o marchand, e Dira Paes, que salvou a sua personagem Solineuza, dando-lhe algum cheiro de Macabéa -pobre também tem seus ares metafísicos.
Ao final, uma diarista-verdade deixa um depoimento sobre a sua ignorância no trato com lagostas. Fazia o prato pela primeira vez e agoniou-se. Aqui o programa flerta rapidamente com o "Retrato Falado", que acerta nas suas historinhas, mesmo com um ou outro exagero teatral de Denise Fraga. Entrelaçar mais depoimentos e ficção, matéria que Jorge Furtado e Guel Arraes têm a manha e o dom, pode render melhores dias ao novo programa.
Perguntei a Maria, diarista lá de casa, o que achou de "A Diarista" da TV. Cismada, respondeu: "Vi muita graça não, seu Francisco". E nada mais foi dito nem perguntado.


A Diarista
Quando: terça, às 22h40, na Globo



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