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CRÍTICA
"A Diarista" faz caricatura do pobre
XICO SÁ
CRÍTICO DA FOLHA
O novo programa da Globo,
"A Diarista", nascido de um
especial de fim de ano, está bem
abaixo da linha de humor da casa.
Não tem experimentos, como o
enxerido "Sexo Frágil", e não segura a onda do humorzão mais
popular, que tem à esquerda a
turma do Casseta e à direita o
"Zorra Total".
"A Diarista" tem a sua matriz,
talvez involuntária, no filme "Domésticas", de Fernando Meirelles
e Nando Olival. Repete os mesmos esquemas da folclorização
dos personagens -como os pobres são engraçados, espertos, devassos e ignorantes!-, mas com
um texto ainda forçado na caricatura.
No programa da estréia, Marinete (Cláudia Rodrigues) vai
prestar serviço a um artista plástico gay e enlouquece com as suas
obras. Vive o típico e velho dilema
burguês: isso é arte ou apenas objetos que poderiam ir para o lixo?
Manda pra lixeira as instalações
do patrão. A "bicha" enfarta no final. "Nooossa!", diria o velho comediante Costinha, esse sim um
mestre do humor caricato.
No primeiro episódio, o humorístico deu-se ao luxo de contar
com ótimos atores, casos de Sérgio Mamberti, que fez o marchand, e Dira Paes, que salvou a
sua personagem Solineuza, dando-lhe algum cheiro de Macabéa
-pobre também tem seus ares
metafísicos.
Ao final, uma diarista-verdade
deixa um depoimento sobre a sua
ignorância no trato com lagostas.
Fazia o prato pela primeira vez e
agoniou-se. Aqui o programa
flerta rapidamente com o "Retrato Falado", que acerta nas suas
historinhas, mesmo com um ou
outro exagero teatral de Denise
Fraga. Entrelaçar mais depoimentos e ficção, matéria que Jorge
Furtado e Guel Arraes têm a manha e o dom, pode render melhores dias ao novo programa.
Perguntei a Maria, diarista lá de
casa, o que achou de "A Diarista"
da TV. Cismada, respondeu: "Vi
muita graça não, seu Francisco".
E nada mais foi dito nem perguntado.
A Diarista
Quando: terça, às 22h40, na Globo
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