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COMENTÁRIO
Ator emociona com intensidade e entusiasmo
AMIR HADDAD
ESPECIAL PARA A FOLHA
Destes 45 anos que Renato
Borghi agora recupera de
sua vida no teatro, apenas alguns
foram compartilhados comigo, aí
incluídos os tempos acadêmicos.
Mas, se foram poucos estes tempos juntos, foram tão intensos
que parecem mais, muito mais.
Metade da vida, pois todas ou
quase todas as coisas que se seguiram depois em nossas trajetórias
estão ligadas a esse momento.
"Vento Forte para um Papagaio
Subir" e "A Incubadeira", ambas
de José Celso, foram os momentos mais intensos de nossa trajetória juntos. Mas não tinham começado aí minhas relações teatrais
com o Renato. Antes, já tínhamos
participado de algumas tentativas
de ensaio, com Celso Paulini e
textos de Bertolt Brecht.
Além disso, Renato Borghi foi o
responsável pela encenação de
"Cândida", de Bernard Shaw, no
colégio São Bento, no coração de
São Paulo. "As mulheres já podem trabalhar nas peças do colégio. Os padres liberaram. Os homens não precisam mais se travestir", dizia Renato, entusiasmado. "Vamos aproveitar e montar
uma peça, convidando duas atrizes para quebrar a tradição tão
antiga no teatro e variada na geografia e no tempo."
Se não fosse o Renato e seu entusiasmo, o espetáculo jamais seria feito. Eu mesmo fui empurrado por ele: "Você vai ser o diretor"!!! Como eu? Nunca tinha dirigido, nem queria dirigir!! Por
que eu, Renato? A pergunta continua até hoje. Só 20 e tantos anos
depois é que fui retomar com
vontade meu trabalho de ator...
Poucos e intensos anos. Aí veio
se fazendo o caldo para o Oficina.
Depois me afastei. Os caminhos
se separaram. Comecei a desenvolver minhas idéias a respeito do
ator, do teatro, do espaço e tudo
mais. São 40 anos de trabalho distante e diferenciado, mas em nenhum momento me senti longe
das inquietações que rondavam
nossas mentes naquele final dos
anos 50, início dos 60. E hoje, nestes 45 anos, que são também
meus, me sinto mais que nunca
próximo a ele e a seu teatro.
Amir Haddad, 66, é diretor do grupo carioca Tá na Rua
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