São Paulo, quinta-feira, 15 de abril de 2004

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COMENTÁRIO

Ator emociona com intensidade e entusiasmo

AMIR HADDAD
ESPECIAL PARA A FOLHA

Destes 45 anos que Renato Borghi agora recupera de sua vida no teatro, apenas alguns foram compartilhados comigo, aí incluídos os tempos acadêmicos. Mas, se foram poucos estes tempos juntos, foram tão intensos que parecem mais, muito mais. Metade da vida, pois todas ou quase todas as coisas que se seguiram depois em nossas trajetórias estão ligadas a esse momento.
"Vento Forte para um Papagaio Subir" e "A Incubadeira", ambas de José Celso, foram os momentos mais intensos de nossa trajetória juntos. Mas não tinham começado aí minhas relações teatrais com o Renato. Antes, já tínhamos participado de algumas tentativas de ensaio, com Celso Paulini e textos de Bertolt Brecht.
Além disso, Renato Borghi foi o responsável pela encenação de "Cândida", de Bernard Shaw, no colégio São Bento, no coração de São Paulo. "As mulheres já podem trabalhar nas peças do colégio. Os padres liberaram. Os homens não precisam mais se travestir", dizia Renato, entusiasmado. "Vamos aproveitar e montar uma peça, convidando duas atrizes para quebrar a tradição tão antiga no teatro e variada na geografia e no tempo."
Se não fosse o Renato e seu entusiasmo, o espetáculo jamais seria feito. Eu mesmo fui empurrado por ele: "Você vai ser o diretor"!!! Como eu? Nunca tinha dirigido, nem queria dirigir!! Por que eu, Renato? A pergunta continua até hoje. Só 20 e tantos anos depois é que fui retomar com vontade meu trabalho de ator...
Poucos e intensos anos. Aí veio se fazendo o caldo para o Oficina. Depois me afastei. Os caminhos se separaram. Comecei a desenvolver minhas idéias a respeito do ator, do teatro, do espaço e tudo mais. São 40 anos de trabalho distante e diferenciado, mas em nenhum momento me senti longe das inquietações que rondavam nossas mentes naquele final dos anos 50, início dos 60. E hoje, nestes 45 anos, que são também meus, me sinto mais que nunca próximo a ele e a seu teatro.


Amir Haddad, 66, é diretor do grupo carioca Tá na Rua

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