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"Escrevemos para Frances atuar", diz Joel
DO ENVIADO A CANNES
No domingo, logo após a exibição para a imprensa do filme
"The Man Who Wasn't There",
Joel e Ethan Coen, acompanhados dos atores Billy Bob Thornton
e Frances McDormand, falaram à
imprensa.
(SD)
Pergunta - Por que um filme em
preto-e-branco?
Joel Coen - É difícil saber porque
aconteceu, mas nos pareceu o melhor desde o começo para esse roteiro. Acho que, se não fosse em
preto-e-branco, as pessoas não
entenderiam como esse filme é
importante [risos". Mas depois
disso surgiu a dúvida de que P&B
usaríamos. Tem o de filmes como
"O Destino Bate à Sua Porta", que
é um P&B muito escuro...
Ethan Coen - Então fizemos com
um processo diferente. Foi filmado em cor, com pouco contraste,
depois revelado em P&B com
muito contraste. As duas coisas
combinadas, que foi resultado de
muitos testes, dá a textura quase
sedosa que o filme tem.
Pergunta - E muda o jeito de
atuar por ser P&B?
Frances McDormand - É um desafio a mais. O diretor de fotografia olhava para a roupa dos atores
e dizia: "Isso vai ficar cinza, isso
vai ficar cinza um pouco mais claro, isso vai ficar cinza um pouco
mais granulado...".
Outra coisa interessante é que
nos close-ups o branco dos olhos
dos atores é quase a única fonte de
luz que aquela cena tem. Então, se
você pisca o olho, de uma hora
para outra aquilo passa a significar um monte de coisas, pode ficar pretensioso, mas, por outro
lado, se você não pisca o olho, significa outro monte de coisas.
Billy Bob Thornton - Pensei mais
no fato de ser um filme de época
do que ser P&B, e daí os conceitos
se misturaram na minha construção do personagem. Automaticamente você começa a andar diferente, se senta de um jeito mais
duro.
Pergunta - Billy Bob, que também dirige e escreve roteiros, não
se sentiu tentado a dirigir uma parte do filme?
Thornton - A razão pela qual a
maioria dos grandes filmes me
parece uma grande porcaria é
porque tem muita gente, com
muitas visões, misturadas no processo. Se você tem um roteiro que
foi escrito com uma visão artística
e essa mesma visão estava sendo
buscada nas filmagens, na edição,
no processo todo, então o imaginado é o que está nas telas.
Isso é maravilhoso. Você pode
amar, odiar ou nem ligar, mas o
resultado é o que foi imaginado.
Mas já trabalhei em filmes em que
queria dizer para o roteirista ou o
diretor: "Talvez essa não seja a
melhor idéia". Mas não é a melhor estratégia profissional. Por
isso faço meus próprios filmes.
Pergunta - Foi publicado que
Frances não achava ser a atriz certa
para o papel, que Joel a havia escolhido por motivos pessoais. É verdade?
Joel - Preciso dizer uma coisa: eu
nunca vi Frances achar que ela
fosse a atriz certa para um papel.
[risos". Fora o primeiro filme que
fizemos com ela, "Gosto de Sangue", a gente nunca a escolhe para
nenhum papel, mas sim escreve
diretamente para ela atuar. Então
não é exatamente um casting, que
pode ser certo ou errado. É um
pouco mais confuso.
Pergunta - O fato de o personagem de Billy Bob Thornton estar
sempre fumando faz pensar no filme "Acossado", de Jean-Luc Godard. Foi de propósito?
Thornton - Sou bem mais burro
do que você pode pensar [risos".
Nem conheço esse filme. Na verdade, vi muitos poucos filmes.
Ouço mais música do que qualquer outra coisa. A razão pela
qual fumei muito, no começo de
tudo, é que estava escrito no roteiro que o personagem fumava
muito. E eu fumava na época.
Fumei tanto durante o processo
desse filme que acabei enjoando.
Sou um não-fumante hoje em dia.
Ethan - Enquanto estávamos
pensando em um título para o filme, um dos que consideramos foi
"The Man Who Smoked Too
Much" (O Homem que Fumava
Demais) [risos".
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