São Paulo, terça-feira, 15 de maio de 2001

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"Escrevemos para Frances atuar", diz Joel

DO ENVIADO A CANNES

No domingo, logo após a exibição para a imprensa do filme "The Man Who Wasn't There", Joel e Ethan Coen, acompanhados dos atores Billy Bob Thornton e Frances McDormand, falaram à imprensa. (SD)

Pergunta - Por que um filme em preto-e-branco?
Joel Coen -
É difícil saber porque aconteceu, mas nos pareceu o melhor desde o começo para esse roteiro. Acho que, se não fosse em preto-e-branco, as pessoas não entenderiam como esse filme é importante [risos". Mas depois disso surgiu a dúvida de que P&B usaríamos. Tem o de filmes como "O Destino Bate à Sua Porta", que é um P&B muito escuro...

Ethan Coen - Então fizemos com um processo diferente. Foi filmado em cor, com pouco contraste, depois revelado em P&B com muito contraste. As duas coisas combinadas, que foi resultado de muitos testes, dá a textura quase sedosa que o filme tem.

Pergunta - E muda o jeito de atuar por ser P&B?
Frances McDormand -
É um desafio a mais. O diretor de fotografia olhava para a roupa dos atores e dizia: "Isso vai ficar cinza, isso vai ficar cinza um pouco mais claro, isso vai ficar cinza um pouco mais granulado...".
Outra coisa interessante é que nos close-ups o branco dos olhos dos atores é quase a única fonte de luz que aquela cena tem. Então, se você pisca o olho, de uma hora para outra aquilo passa a significar um monte de coisas, pode ficar pretensioso, mas, por outro lado, se você não pisca o olho, significa outro monte de coisas.

Billy Bob Thornton - Pensei mais no fato de ser um filme de época do que ser P&B, e daí os conceitos se misturaram na minha construção do personagem. Automaticamente você começa a andar diferente, se senta de um jeito mais duro.

Pergunta - Billy Bob, que também dirige e escreve roteiros, não se sentiu tentado a dirigir uma parte do filme?
Thornton -
A razão pela qual a maioria dos grandes filmes me parece uma grande porcaria é porque tem muita gente, com muitas visões, misturadas no processo. Se você tem um roteiro que foi escrito com uma visão artística e essa mesma visão estava sendo buscada nas filmagens, na edição, no processo todo, então o imaginado é o que está nas telas.
Isso é maravilhoso. Você pode amar, odiar ou nem ligar, mas o resultado é o que foi imaginado. Mas já trabalhei em filmes em que queria dizer para o roteirista ou o diretor: "Talvez essa não seja a melhor idéia". Mas não é a melhor estratégia profissional. Por isso faço meus próprios filmes.

Pergunta - Foi publicado que Frances não achava ser a atriz certa para o papel, que Joel a havia escolhido por motivos pessoais. É verdade?
Joel -
Preciso dizer uma coisa: eu nunca vi Frances achar que ela fosse a atriz certa para um papel. [risos". Fora o primeiro filme que fizemos com ela, "Gosto de Sangue", a gente nunca a escolhe para nenhum papel, mas sim escreve diretamente para ela atuar. Então não é exatamente um casting, que pode ser certo ou errado. É um pouco mais confuso.

Pergunta - O fato de o personagem de Billy Bob Thornton estar sempre fumando faz pensar no filme "Acossado", de Jean-Luc Godard. Foi de propósito?
Thornton -
Sou bem mais burro do que você pode pensar [risos". Nem conheço esse filme. Na verdade, vi muitos poucos filmes. Ouço mais música do que qualquer outra coisa. A razão pela qual fumei muito, no começo de tudo, é que estava escrito no roteiro que o personagem fumava muito. E eu fumava na época.
Fumei tanto durante o processo desse filme que acabei enjoando. Sou um não-fumante hoje em dia.

Ethan - Enquanto estávamos pensando em um título para o filme, um dos que consideramos foi "The Man Who Smoked Too Much" (O Homem que Fumava Demais) [risos".



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