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CRÍTICA
Falabella e Talma operam milagre às sete
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
Enquanto "América" afunda num mar de cenas patéticas, na novela das sete tudo vai
bem: Miguel Falabella e Roberto
Talma estão conseguindo um pequeno milagre com "A Lua Me
Disse". Vez por outra, uma novela consegue criar e ainda cair no
gosto do público. Sem fazer concessões estrambóticas, sem humilhar a inteligência do público,
a novela vem mantendo índices
de audiência em torno dos 34
pontos, o que é considerado bom
para o horário.
Esse feito de "A Lua Me Disse"
evoca, claro, a fase de ouro de Silvio de Abreu no mesmo horário,
com "Guerra dos Sexos" e "Sassaricando". Com ingredientes
parecidos aos usados por Falabella, Abreu marcou época com novelas de humor ao mesmo tempo
inteligente e escrachado, tramas
movimentadas, personagens
memoráveis (semanas atrás, na
festa da Globo, escondida entre
uma série de obviedades, uma
das imagens mais divertidas era a
de Fernanda Montenegro e Paulo Autran numa cena de pastelão
em "Guerra dos Sexos").
Não é só na receita que Falabella e sua co-roteirista Maria Carmem Barbosa se aproximam de
Abreu em "A Lua Me Disse". Há
também uma espécie de identidade de procedimentos, ou seja,
a manipulação consciente das
convenções do gênero, que ora
são respeitadas e aparecem em
sua forma mais eficiente; ora são
anarquizadas. O espectador, ao
mesmo tempo em que pode usufruir do prazer do previsível, é
também surpreendido e até
afrontado. Claro que tudo no
âmbito modesto do entretenimento televisivo, mas, ainda assim, bem mais do que se espera
das novelas atuais, conferindo à
obra um ar quase "autoral".
Em "A Lua Me Disse", essa autoria, ainda que seja quase uma
impropriedade pensar nesse termo em relação à novela, passa
por um equilíbrio muito delicado entre o humor e o escracho
-há graça, há piada e há um
sentido do dramático como há
tempos não se via em novelas.
Mais do que tudo, até agora a novela tem conseguido manter
uma notável consistência narrativa -os personagens movem-se de acordo com um roteiro
bem definido na cabeça dos autores, há sentido de passagem de
tempo, continuidade etc. Em
uma palavra, só a preocupação e
o respeito pela dramaturgia exibidos em "A Lua Me Disse" fariam desta a melhor novela no ar
nos últimos tempos.
Mas há mais. O elenco parece
bem à vontade para trabalhar
nesse diapasão entre a comédia e
o dramalhão. Assim, Débora
Bloch e Aracy Balabanian fazem
uma ótima dupla de peruas-parasitas; Arlete Salles como a suburbana bem-sucedida também
funciona, Wagner Moura e Marcos Pasquim de galãs de araque
são interessantes; e a própria
Adriana Esteves tem conseguido
fazer de sua "neutralidade" uma
espécie de virtude.
Resta torcer para que Falabella
& equipe mantenham a coragem
de nadar contra a corrente da deterioração da dramaturgia, caso
a audiência oscile.
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