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Censura faz interesse por filme crescer
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
Os sete minutos de sexo
quase explícito do filme chinês "Desejo e Perigo" esquentaram a indústria turística de Hong Kong.
Como as cenas foram cortadas dos cinemas da China,
sete agentes de viagem de
Pequim organizaram pacotes à cidade autônoma para
permitir aos turistas ver o filme "sem cortes".
Para o governo chinês, o
conteúdo do filme é tão ou
mais obsceno que as cenas
cortadas. "Desejo e Perigo"
conta a história da jovem
Wong Chia Chi (Tang Wei),
que milita em um grupo insurgente que combate a ocupação japonesa da China.
Seus camaradas decidem
que a bela deve se infiltrar no
governo colaboracionista,
seduzir um dos chineses que
trabalham para os japoneses,
para depois matá-lo.
Para quem vê as cenas de
sexo, não há dúvidas de que o
plano morre na alcova. A rebelde se encanta com o durão sr. Yee (Tony Leung), e
adeus liberdade chinesa. O
forte toque sadomasoquista
só causou mais escândalo,
em um país onde beijo na boca em novela é raridade.
A ocupação japonesa da
China nos anos 30 e 40 é um
dos maiores traumas da história recente do país. Cerca
de 80 mil chineses foram
mortos durante a ocupação
de Nanjing, então capital.
Soldados japoneses estupraram mulheres chinesas.
A censura fomentou a polêmica. Sem o sexo, ela simplesmente se rende ao charme do traidor chinês.
"Degrada a imagem das
mártires chinesas, como
prostitutas, e coloca os traidores em um altar", diz manifesto lançado por universitários de Pequim, no final de
2007, quando a produção foi
exibida. O longa ficou entre
os três mais vistos daquele
ano nos cinemas chineses.
Em qualquer outro caso,
"Desejo" jamais estrearia na
China, o diretor seria preso
ou os produtores banidos.
Mas Ang Lee tem tratamento VIP. Taiwanês que se
considera chinês, o que agrada o desejo de reunificação
da China com Taiwan, Lee
dirigiu "O Tigre e o Dragão",
a maior bilheteria internacional de um filme chinês até
hoje. "Desejo e Perigo" ganhou o Leão de Ouro em Veneza, em 2007, que Lee já o
havia obtido em 2005, com
"Brokeback Mountain".
Mesmo com o prestígio de
Lee, "Brokeback" foi proibido na China, onde qualquer
relação homossexual é censurada no cinema e na TV.
A censura chinesa se vingou do sucesso de "Desejo e
Perigo". A estreante Tang
Wei, que vive a protagonista,
recebeu uma pena incomum
em março do ano passado: foi
proibida de participar de novelas, filmes e até publicidade por um ano na China.
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