São Paulo, sexta-feira, 15 de maio de 2009

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Censura faz interesse por filme crescer

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

Os sete minutos de sexo quase explícito do filme chinês "Desejo e Perigo" esquentaram a indústria turística de Hong Kong.
Como as cenas foram cortadas dos cinemas da China, sete agentes de viagem de Pequim organizaram pacotes à cidade autônoma para permitir aos turistas ver o filme "sem cortes".
Para o governo chinês, o conteúdo do filme é tão ou mais obsceno que as cenas cortadas. "Desejo e Perigo" conta a história da jovem Wong Chia Chi (Tang Wei), que milita em um grupo insurgente que combate a ocupação japonesa da China.
Seus camaradas decidem que a bela deve se infiltrar no governo colaboracionista, seduzir um dos chineses que trabalham para os japoneses, para depois matá-lo.
Para quem vê as cenas de sexo, não há dúvidas de que o plano morre na alcova. A rebelde se encanta com o durão sr. Yee (Tony Leung), e adeus liberdade chinesa. O forte toque sadomasoquista só causou mais escândalo, em um país onde beijo na boca em novela é raridade.
A ocupação japonesa da China nos anos 30 e 40 é um dos maiores traumas da história recente do país. Cerca de 80 mil chineses foram mortos durante a ocupação de Nanjing, então capital. Soldados japoneses estupraram mulheres chinesas.
A censura fomentou a polêmica. Sem o sexo, ela simplesmente se rende ao charme do traidor chinês.
"Degrada a imagem das mártires chinesas, como prostitutas, e coloca os traidores em um altar", diz manifesto lançado por universitários de Pequim, no final de 2007, quando a produção foi exibida. O longa ficou entre os três mais vistos daquele ano nos cinemas chineses.
Em qualquer outro caso, "Desejo" jamais estrearia na China, o diretor seria preso ou os produtores banidos.
Mas Ang Lee tem tratamento VIP. Taiwanês que se considera chinês, o que agrada o desejo de reunificação da China com Taiwan, Lee dirigiu "O Tigre e o Dragão", a maior bilheteria internacional de um filme chinês até hoje. "Desejo e Perigo" ganhou o Leão de Ouro em Veneza, em 2007, que Lee já o havia obtido em 2005, com "Brokeback Mountain".
Mesmo com o prestígio de Lee, "Brokeback" foi proibido na China, onde qualquer relação homossexual é censurada no cinema e na TV.
A censura chinesa se vingou do sucesso de "Desejo e Perigo". A estreante Tang Wei, que vive a protagonista, recebeu uma pena incomum em março do ano passado: foi proibida de participar de novelas, filmes e até publicidade por um ano na China.


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