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"A Quinta Estação' é conto
BERNARDO CARVALHO
especial para a Folha
"A Quinta Estação" é a história
de um casamento e de um ônibus.
Lembra uma daquelas fábulas do
folclore oriental -no caso, persa-, um conto moral cujo título
podia muito bem ser "O Casamento e o Ônibus".
Rafi Pitts, o jovem cineasta iraniano (nasceu em 1966) que estréia na direção de longas com esse
filme de 97, não é, entretanto, ingênuo. Estudou no Harrow College, em Londres, foi assistente do
"ex-enfant terrible" do cinema
francês, Leos Carax, e do às vezes
bem-sucedido Jacques Doillon.
O encanto do filme, ao contrário
de uma outra tendência de retomada do folclore também presente no recente cinema iraniano
("Gabbeh" é o exemplo máximo), é nutrido por uma opção clara pela fabulação.
Como se o folclórico aqui não
fosse mais apenas um elemento
oportunista de sedução visual do
espectador (sobretudo estrangeiro), mas servisse para o diretor
transformar uma aldeia perdida
no interior do Irã.
Nesse sentido, "A Quinta Estação" se afasta também da originalidade narrativa dos filmes de Kiarostami. É mais clássico.
A história tem início com um casamento arranjado, que serviria
para pôr fim aos conflitos entre
dois clãs inimigos se, a certa altura, o noivo, irritado, não se rebelasse contra a situação, anunciando a quebra do acordo.
A partir daí, uma nova guerra
começa, para culminar quando o
noivo resolve introduzir no vilarejo um ônibus (o único veículo motorizado do lugar) com que pretende assegurar uma ligação diária
e inédita com a cidade.
O ônibus serve como símbolo da
"modernidade", do capitalismo
e de um espírito mercantilista cujos efeitos nefastos até ali a comunidade desconhecia.
E é nesse ponto que a moral da
fábula sobre a guerra e a paz corre
o risco de resvalar na demagogia
do culto da inocência e das tradições contra a corrupção da modernidade.
Mas é só um instante. Porque,
no geral, essa inocência construída garante ao menos 80 minutos
de um verdadeiro prazer cinematográfico.
Filme: A Quinta Estação
Produção: França/Irã, 1997
Direção: Rafi Pitts
Com: Roya Nonahali, Parviz Poorhosseni
Quando: a partir de hoje, no Espaço
Unibanco, sala 4
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