São Paulo, sexta, 15 de maio de 1998

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Diretor oferece espetáculo de harmonia e protesto

LEON CAKOFF
da Equipe de Articulistas

Dois atores da geração "arranca suspiros" podem agora ser comparados. "Sete Anos no Tibet" tem Brad Pitt, versão intelectual de Leonardo Di Caprio.
Ao menos presta-se a uma boa causa: denunciar, em um filme confuso do virtuoso cineasta francês Jean-Jacques Annaud, os crimes que os chineses perpetuam contra a nação tibetana, anexando o seu território, torturando e matando seus monges e sua população pacifistas, aculturando as novas gerações.
Mas, apesar das dificuldades impostas por autoridades chinesas à produção do filme -proibição de filmar no Tibete e mesmo na Índia-, custa-se a chegar à ação nefasta dos chineses na história real reconstituída.
Muitas sequências parecem desconexas, como se houvesse uma remontagem descabida para reduzir o tempo do filme e ganhar mais sessões nos cinemas.
Seja como for, Annaud não foge da regra que o consagrou, desde "Preto e Branco em Cores", Oscar de melhor filme estrangeiro em 1977, em que selvagens colonialistas franceses infernizavam africanos cativos. E prossegue com "A Guerra do Fogo", "O Urso", "Em Nome da Rosa" e "O Amante".
Há no filme pistas falsas sobre o que é harmonioso e pode ser selvagem. A princípio é o Himalaia a ser escalado por um alpinista austríaco -Heinrich Harrer (Brad Pitt)- ambicioso e a serviço do nazismo, em 1939.
Nazistas cultivavam um fetiche especial por montanhas. O filme é baseado na biografia de Harrer. Há o chefe nazista da expedição, Peter Aufschnaiter, interpretado pelo ótimo David Thewlis, que ganhou Cannes com "Nu/Naked" de Mike Leigh.
Presos pelos ingleses como inimigos de guerra, os alpinistas começam a viver o confinamento dos sete anos.
Primeiro em campo de concentração, depois em fuga e no Tibete, ele vira professor do jovem Dalai Lama. É a única paixão reservada ao público que for suspirar por Brad Pitt, uma vez que a tibetana por quem se apaixona prefere o seu amigo.
As locações em territórios da Argentina e do Canadá não afetam a beleza da produção. O boicote chinês não impediu o importante registro que o filme traz pelo respeito aos direitos humanos e contra a invasão do Tibete.
O filme é o espetáculo possível com fundo de protesto e causa humanitária. Annaud preocupa-se mais com as harmonias em cena.
É o que há no momento enquanto se aguarda pelo destino de outro filme sobre o Tibete, tão ou mais boicotado ainda, dirigido por Martin Scorsese.



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