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Diretor oferece espetáculo de harmonia e protesto
LEON CAKOFF
da Equipe de Articulistas
Dois atores da geração "arranca suspiros" podem agora ser
comparados. "Sete Anos no Tibet" tem Brad Pitt, versão intelectual de Leonardo Di Caprio.
Ao menos presta-se a uma boa
causa: denunciar, em um filme
confuso do virtuoso cineasta
francês Jean-Jacques Annaud, os
crimes que os chineses perpetuam contra a nação tibetana,
anexando o seu território, torturando e matando seus monges e
sua população pacifistas, aculturando as novas gerações.
Mas, apesar das dificuldades
impostas por autoridades chinesas à produção do filme -proibição de filmar no Tibete e mesmo na Índia-, custa-se a chegar
à ação nefasta dos chineses na
história real reconstituída.
Muitas sequências parecem
desconexas, como se houvesse
uma remontagem descabida para reduzir o tempo do filme e ganhar mais sessões nos cinemas.
Seja como for, Annaud não foge da regra que o consagrou,
desde "Preto e Branco em Cores", Oscar de melhor filme estrangeiro em 1977, em que selvagens colonialistas franceses infernizavam africanos cativos. E
prossegue com "A Guerra do
Fogo", "O Urso", "Em Nome
da Rosa" e "O Amante".
Há no filme pistas falsas sobre
o que é harmonioso e pode ser
selvagem. A princípio é o Himalaia a ser escalado por um alpinista austríaco -Heinrich Harrer (Brad Pitt)- ambicioso e a
serviço do nazismo, em 1939.
Nazistas cultivavam um fetiche
especial por montanhas. O filme
é baseado na biografia de Harrer.
Há o chefe nazista da expedição,
Peter Aufschnaiter, interpretado
pelo ótimo David Thewlis, que
ganhou Cannes com "Nu/Naked" de Mike Leigh.
Presos pelos ingleses como inimigos de guerra, os alpinistas
começam a viver o confinamento dos sete anos.
Primeiro em campo de concentração, depois em fuga e no
Tibete, ele vira professor do jovem Dalai Lama. É a única paixão reservada ao público que for
suspirar por Brad Pitt, uma vez
que a tibetana por quem se apaixona prefere o seu amigo.
As locações em territórios da
Argentina e do Canadá não afetam a beleza da produção. O boicote chinês não impediu o importante registro que o filme traz
pelo respeito aos direitos humanos e contra a invasão do Tibete.
O filme é o espetáculo possível
com fundo de protesto e causa
humanitária. Annaud preocupa-se mais com as harmonias em
cena.
É o que há no momento enquanto se aguarda pelo destino
de outro filme sobre o Tibete,
tão ou mais boicotado ainda, dirigido por Martin Scorsese.
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