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DICAS DO ED
É mentira o que dizem sobre Portugal
ED MOTTA
Colunista da Folha
Pá! Ora pois! Convenhamos, os
apreciadores de vinho cometem
injustiças quanto aos vinhos lusitanos, e confesso que eu mesmo
era daqueles que entoavam o jargão: vinho português não tem
complexidade, aroma, só agora ficou bom com as técnicas modernas e tal...
Acabei de voltar de uma viagem
de lançamento do meu disco no
"país do pastel de nata", em que
tive o prazer de degustar, quase
diariamente, moscatéis de enlouquecer a dieta de qualquer ser humano.
Moscatel Roxo 20 anos, Bastardinho e, o melhor, um vinho de
1965 com retrogosto infinito das
tradicionais passas secas, aparentes nesses vinhos, unidas a um potente aroma de canela que saiu de
braço dado com o pastel de Belém.
José Maria da Fonseca sabe das
coisas.
Um fato maravilhoso é a relação
custo-benefício, tanto nos vinhos
quanto nos restaurantes. E mais:
não é verdade que não haja serviço
de vinho decente, com taças, "decanters" e pessoas gabaritadas
para tal.
Dois exemplos que os amantes
do vinho não podem perder em
Lisboa: o Isaura (tels.
00-351-1-848-0838/6651), do escanção Costa, e A Canilha (tel.
00-351-1-386-4308), do entusiasta
Carlos. Assistir ao Costa decantando vinhos é um show imperdível, que inclusive filmei.
O Isaura tem a melhor carta de
Lisboa. Já A Canilha, fora servir o
melhor cabrito assado que já comi
na vida, possui uma "garrafeira"
de antiguidades, como verticais de
Mouchão, Quinta do Cotto Grande Escolha, Barca Velha, Tapada
de Chaves e outros .
O famoso Gambrinus (tel.
00-351-1-342-1466) tem carta excepcional, como os vinhos mais
velhos que bebi -um Madeira da
Adega Estorrião, de 1856 e 1875,
oriundo da casta Bual.
Tremi a cada gole dessas poesias
líquidas de mais de cem anos, que
mostraram vivacidade para viver
alguns anos a mais.
Os aromas lembravam um casamento apaixonado de tâmaras
com damascos secos. A boca? Depois do beijo da minha mulher,
nunca tremi tanto!
Fato curioso é que, por Portugal
não estar no tititi dos mais famosos franceses e italianos, você encontra por lá vinhos maduros, envelhecidos, raridades.
Sim, porque no meu caso aprecio degustar o vinho jovem, tânico. Se tiver potencial é sempre
bem-vindo, mas o departamento
dos vinhos envelhecidos... é coisa
muito séria.
Dois alentejanos que me marcaram foram o Terras do Suão 84,
lembrando marmelo, e o Paço dos
Infantes, da mesma safra.
Já os mais novos que tomei foram um surpreendente Dão -o
Quinta das Maias 94 e 95, lembrando um vinho de método "ripassa", com ricos aromas de frutas secas. E o branco Quinta da Foz
do Arouce -que deveria constar
das seleções dos importadores
brasileiros- é uma loucura, o
"Montrachet de Portugal".
Outro foi o Quinta do Confradeiro 88, do Douro, com notas de
couro e tanicidade para os pacientes.
A coluna de hoje fugiu um pouco do normal, mas a moral (hollywoodiana) da historia é: hoje tivemos um especial da categoria Bom
Bolso, mas com caráter de Extravaganza! Ora pois!
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