São Paulo, sexta, 15 de maio de 1998

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ACONTECE NO RIO
Bolsa expõe o Portinari dos anos 50

GABRIELA MICHELOTTI
enviada especial ao Rio

Mais de 50 trabalhos do pintor modernista Candido Portinari, entre gravuras, pinturas, desenhos e painéis, podem ser vistos em exposição no centro de eventos da Bolsa de Valores do Rio.
Junto com Portinari, a semana do Rio tem mais três exposições em que o destaque é a arte brasileira.
Na sede da Pinakotheke, para ilustrar o lançamento de um dicionário sobre termos técnicos, foi montada a exposição "Arte Ilustrada", com obras de artistas que vão do seiscentista Frans Post à contemporânea Lygia Clark.
Na galeria Villa Riso, a artista e escritora Elvira Vigna abre sua mostra "Imagens Mentirosas", com 22 trabalhos feitos com tinta automotiva.
E, no MAM (Museu de Arte Moderna), continua a mostra "Do Modernismo ao Neoconcreto", onde estão expostas obras de Anita Malfatti, Victor Brecheret, Oswaldo Goeldi, Alfredo Volpi e outros pesos pesados do modernismo e da arte contemporânea brasileira.
A mostra "Portinari na Bolsa" pode servir como prévia para a grande retrospectiva do pintor que ficou no Masp (Museu de Arte de São Paulo) até fevereiro e deveria acontecer no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio, antes da exposição de Salvador Dalí, mas foi adiada.
Segundo o Projeto Portinari, dirigido pelo filho do pintor, João Candido Portinari, responsável pela retrospectiva, os cariocas só poderão ver os mais de 200 trabalhos reunidos em maio de 99.
Pelo menos duas obras da retrospectiva já podem ser vistas na exposição da Bolsa de Valores: "A Greve" e "Angústia".
Segundo Ralph Camargo, colecionador de Portinari e curador da mostra, a maioria dos trabalhos é da década de 50. Nessa fase, Portinari já se afastara da influência do cubismo de Picasso e Bratke e adotara um estilo mais pessoal.
O único trabalho dos anos 40 presente na exposição é uma maquete para o mural de azulejos da igreja de São Francisco de Assis, na Pampulha, em Belo Horizonte.
A igreja foi projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer. O mural do altar, os quadros da via-crúcis e os azulejos externos foram pintados por Portinari.
Pela metragem e pelo valor, o mais importante trabalho da mostra na Bolsa é o painel "Pescadores", de 3 m x 6 m, de 1950. Ele foi encomendado por Walter Moreira Salles e feito por Portinari em Paris. Hoje pertence a Camargo e está avaliado em US$ 2 milhões.
Outro painel de grandes proporções, "Ceia", está sendo exibido. Com 2 m x 4 m, retrata a última ceia de Cristo e é um dos vários painéis do artista com temática religiosa.
A exposição na Bolsa de Valores traz outra curiosidade: pela primeira vez o público do Rio poderá ver reunida a coleção de 18 desenhos encomendados por Otávio Guinle em 1942 ao pintor.
Os desenhos, feitos com a técnica de ponta-seca, decoravam as suítes do hotel Copacapana Palace.
Na coleção de desenhos estão presentes vários temas explorados por Portinari durante toda a sua obra: espantalhos, meninos empinando papagaios e paisagens de Brodósqui, cidade natal do pintor no interior de São Paulo.
Apesar de não ter nenhum quadro dos anos 30, fase que celebrizou Portinari com suas pinturas de caráter social, os tipos brasileiros também estão presentes em telas como "Cangaceiro" e "Baiana".

Exposição: Portinari na Bolsa Quando: seg a sex, das 11h às 19h, sáb e dom, das 13h às 17h; até 29 de maio Onde: Bolsa de Valores do Rio de Janeiro (pça. 15 de Novembro, 20, Centro, tel. 021/514-1171) Quanto: entrada franca


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