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RIO, AGOSTO DE 98
Os diabos na terra do sol
LÚCIO RIBEIRO
Editor-adjunto da Ilustrada
21 de agosto de 1998. O Metropolitan, casa de shows das boas no
subterrâneo de um shopping no
Rio, parecia uma daquelas sucursais do inferno, do tipo que ilustram os cenários escabrosos de filmes do diretor britânico Clive Barker, como "Hellraiser".
O calor dentro do lugar remetia a
um Rio 400. Na platéia, lutadores
de jiu-jitsu ensandecidos travavam
batalhas romanas contra pobres
seguranças de amarelo, num corre-corre que abria clarões em um
espaço entupido de gente que não
comportava clarões.
No camarote, figuras de todos os
credos, como Pepeu Gomes, que
levou as filhas para conferir o que
tinha acontecido com o rock.
Do palco, luzes vermelhas, amarelas e azuis eram emitidas em profusão, embaralhando a visão, chapando a retina.
A certa altura do show, se o bar
estivesse vendendo tubinhos de
oxigênio por R$ 1 milhão, muitos
comprariam.
Não havia mais o que suar.
Ainda no palco, um sujeito fim
de século que mais parecia o Bozo
ou um inimigo do Batman qualquer, saído de uma HQ desenhada
por Alan Moore, ia em alta velocidade de um lado para o outro, possuído, espumando pela boca, cuspindo, rosnando.
Ele ia, enquanto vinha uma espécie de demônio negro, pintura na
cara, dreadlock, brinco imenso no
nariz cujo brilho era notado de
qualquer lugar.
Atrás de tudo, havia um cara de
cabelo espetado, tido como o capitão daquilo tudo, que pulava sobre
mesas de som. Era ele, então, quem
devia ser responsabilizado por danos irreparáveis nos tímpanos.
O som parou. As luzes estrobo já
deixavam em paz. Não havia mais
sujeitos esquisitos no palco.
Era juntar os cacos e ir para fora
respirar. O primeiro show do Prodigy no Brasil havia acabado.
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