São Paulo, Sábado, 15 de Maio de 1999
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RIO, AGOSTO DE 98
Os diabos na terra do sol

LÚCIO RIBEIRO
Editor-adjunto da Ilustrada

21 de agosto de 1998. O Metropolitan, casa de shows das boas no subterrâneo de um shopping no Rio, parecia uma daquelas sucursais do inferno, do tipo que ilustram os cenários escabrosos de filmes do diretor britânico Clive Barker, como "Hellraiser".
O calor dentro do lugar remetia a um Rio 400. Na platéia, lutadores de jiu-jitsu ensandecidos travavam batalhas romanas contra pobres seguranças de amarelo, num corre-corre que abria clarões em um espaço entupido de gente que não comportava clarões.
No camarote, figuras de todos os credos, como Pepeu Gomes, que levou as filhas para conferir o que tinha acontecido com o rock.
Do palco, luzes vermelhas, amarelas e azuis eram emitidas em profusão, embaralhando a visão, chapando a retina.
A certa altura do show, se o bar estivesse vendendo tubinhos de oxigênio por R$ 1 milhão, muitos comprariam.
Não havia mais o que suar.
Ainda no palco, um sujeito fim de século que mais parecia o Bozo ou um inimigo do Batman qualquer, saído de uma HQ desenhada por Alan Moore, ia em alta velocidade de um lado para o outro, possuído, espumando pela boca, cuspindo, rosnando.
Ele ia, enquanto vinha uma espécie de demônio negro, pintura na cara, dreadlock, brinco imenso no nariz cujo brilho era notado de qualquer lugar.
Atrás de tudo, havia um cara de cabelo espetado, tido como o capitão daquilo tudo, que pulava sobre mesas de som. Era ele, então, quem devia ser responsabilizado por danos irreparáveis nos tímpanos.
O som parou. As luzes estrobo já deixavam em paz. Não havia mais sujeitos esquisitos no palco.
Era juntar os cacos e ir para fora respirar. O primeiro show do Prodigy no Brasil havia acabado.


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