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Estilo Sokourov é puramente visual
especial para a Folha
Merecedor de uma retrospectiva
no Festival de Berlim de 1989, após
um longo período censurado pelas
autoridades russas, Alexandre Sokourov tornou-se mais conhecido
na Europa apenas no ano passado,
após as exibições, em Paris, de
"Mãe e Filhos" (1997) e "Páginas
Escondidas" (1993).
Desde então, a crítica francesa
tem tratado o diretor como um revolucionário da linguagem fílmica. No Brasil, Laymert Garcia dos
Santos, professor do Instituto de
Filosofia e Ciências Humanas da
Unicamp (Universidade Estadual
de Campinas), e Boris Schnaiderman, professor de russo e teoria literária da Universidade de São
Paulo, falaram à Folha sobre o autor de "Moloch".
(AM)
Laymert Garcia dos Santos - "Para mim, a revelação do cineasta foi
com seu documentário "Elegia Soviética" (1989), absolutamente fantástico porque apresentava os governantes russos num discurso político hiperarticulado, porém com
pouquíssimas palavras. Era muito
mais que um documentário. Uma
justaposição de imagens, de Lenin
até Ieltsin, criava uma espécie de
tempo que permitia perceber a
continuidade histórica apenas
através dos rostos. Ele filmou Ieltsin na cozinha de sua casa, olhando para uma garrafa e um copo de
vodca, sem dizer nada. Depois,
vendo "Mãe e Filhos", constatei que
é a densidade da imagem, a informação puramente visual que faz o
seu estilo. Não é um continuador
de Tarkovski, mas tem uma força
tão grande quanto e, ao mesmo
tempo, incrível capacidade de
apreensão da sociedade".
Boris Schnaiderman - "Em meu
livro "Os Escombros e o Mito - A
Cultura e o Fim da União Soviética" (Cia. das Letras, 97), citei, a respeito de Sokourov, Mikhail Iampolski, do "Cahiers de Cinéma". O
crítico notou que, em sua versão de
"Madame Bovary" (1989), o diretor
utilizava jogos de linguagem entre
os idiomas russo e francês para pôr
em primeiro plano a comunicação
intuitiva, corporal, carnal. Partindo do texto de Flaubert, Sokourov
esforçava-se visivelmente para
derrubar os seus valores: o racional era dinamitado pelo sensual, o
verbal pelo visual".
Hervé Gauville, crítico do "Libération" - "Páginas Escondidas" é o
contrário de uma adaptação literária. Nele, a pintura não faz papel de
decoração, a música não ilustra a
ação, e o romance ("Crime e Castigo') não escreve o roteiro. Por outro lado, Sokourov não abre mão
de nada. Inútil fazer crer que seu
cinema se dirige aos homens de
boa vontade e aos inocentes de
mãos puras. Para entrar em sua casa, deve-se ter visto todos os quadros, escutado todas as músicas, lido todos os livros e, além disso, extenuado a carne para lá do último
grau de fadiga. (...). Não se deve assisti-lo senão quando em situação
extrema, no momento em que se
está disposto a tudo e quando se
aceita não sair ileso".
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