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RELÂMPAGOS
A fortaleza
JOÃO GILBERTO NOLL
Ninguém notaria seu árduo
empenho em esconder a lentidão. Ali, em meio àquela
mobilidade quase obscena da
idade. No terreno baldio,
cheio de cacos prontos para
perfurar os cascos dos moleques, ele se viu como um garoto perdidamente orgulhoso, de uma raça banhada em
soberba. Se deu conta de sua
infinita capacidade de não se
render ao vexame de se sentir
diminuído. Ali, diante dos colegas em surto juvenil. Ele viveria igual àquela portentosa
massa a escarrar obscenidades, a escoicear o ar. Seria,
sim, maior do que a força que
não conseguia ter. Então correu, correu para o banheiro,
fez um xixi escuro, gemeu,
vomitou, riscou seu nome à
unha no peito e soube, enfim,
que preferia perder tudo e
mais alguma coisa a ter de demonstrar para eles seu inestimável, absoluto atraso!
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