São Paulo, quinta-feira, 15 de junho de 2000


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RELÂMPAGOS

A fortaleza

JOÃO GILBERTO NOLL

Ninguém notaria seu árduo empenho em esconder a lentidão. Ali, em meio àquela mobilidade quase obscena da idade. No terreno baldio, cheio de cacos prontos para perfurar os cascos dos moleques, ele se viu como um garoto perdidamente orgulhoso, de uma raça banhada em soberba. Se deu conta de sua infinita capacidade de não se render ao vexame de se sentir diminuído. Ali, diante dos colegas em surto juvenil. Ele viveria igual àquela portentosa massa a escarrar obscenidades, a escoicear o ar. Seria, sim, maior do que a força que não conseguia ter. Então correu, correu para o banheiro, fez um xixi escuro, gemeu, vomitou, riscou seu nome à unha no peito e soube, enfim, que preferia perder tudo e mais alguma coisa a ter de demonstrar para eles seu inestimável, absoluto atraso!



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