São Paulo, quinta-feira, 15 de junho de 2000


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MÚSICA
Grupo pernambucano lança quarto disco pelo selo YBrazil?; disco será inicialmente vendido pela Internet
Nação Zumbi volta, agora independente

Adriana Elias/Folha Imagem
O grupo pernambucano Nação Zumbi, com o vocalista Jorge du Peixe (em primeiro plano), que assumiu função de Chico Science


PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Já é passado o tempo de chorar Chico Science (1966-97), e a banda que ele deixou, a Nação Zumbi, gira a lusitana para lançar sua primeira produção sem o ex-líder.
A "estréia" se chama "Radio S. Amb. A.", CD que entrega o grupo de Recife ao circuito independente (leia abaixo) e quer funcionar, como eles definem, como um "cartucho de resistência".
Rompidos com a Sony depois de um disco póstumo ainda com Chico ("CSNZ", 98), driblaram o grande mercado e preferiram assinar com o novo selo paulistano YBrazil?.
"A Warner chegou a ficar bem próxima da gente, mas dava um orçamento que era igual ao da YBrazil?, e o contrato era para três discos. Por nossa experiência anterior, preferimos um contrato de um só disco. Se não dá certo, você não fica preso à gravadora", justifica o guitarrista Lúcio Maia, 29.
Sentiram-se aprisionados pela Sony, então? "É difícil trabalhar com uma gravadora que tem uma superestrutura, mas que cobra muito, principalmente a idéia de fazer uma coisa radiofônica. Tivemos liberdade lá, mas havia os contratempos", diz Lúcio.
"Hoje temos menos grana, mas a liberdade é total", emenda o vocalista Jorge du Peixe, 33. "Numa gravadora grande, o esquema de divulgação é igual para todos os artistas. Na YBrazil?, temos tratamento voltado para a gente", diz o percussionista Pupilo, 26.
Além da grande gravadora, a Nação eliminou por ora também a figura do empresário. "Pelo menos assim você não é lesado. Se ganha um pouquinho, divide o pouquinho entre todos", afirma Pupilo. Empresários costumam lesar artistas no Brasil, então? "Acontece com todo mundo", responde Lúcio.
Mas se auto-empresariar não rouba tempo artístico? "Não. Tem de acordar às oito da manhã. Mas a banda é grande, é tudo bem dividido", diz Lúcio.
"Radio S. Amb. A", apesar da estrutura independente, acumula um rol longo de convidados especiais, que inclui membros do grupo norte-americano de pós-rock Tortoise e da confraria carioca Planet Hemp (Zé Gonzales, Rodrigo Nutz), o líder da outra mangue-banda, Fred Zero Quatro (do Mundo Livre S/A), a cirandeira pernambucana Lia de Itamaracá e até o pioneiro nova-iorquino do hip hop Afrika Bambaataa.
O contato com Bambaataa, líder da Zulu Nation -a que os recifenses contrapõem uma "Zumbi Nation", em "Zumbi x Zulu"-, foi virtual. Rodrigo P-Funk, da banda Mamelo Sound System, conheceu o rapper em sua vinda ao Brasil e gravou com ele intervenções de estúdio, uma das quais capturada para a Nação Zumbi.
O CD inclui uma regravação, de "Jornal da Morte", de Miguel Gustavo, que ouviram com o sambista Roberto Silva -o assunto cai para samba e para "S. Amb. A.", abreviação de "Serviço Ambulante de Afrociberdelia".
"É samba sem pandeiro", dispara Jorge. "A supervalorização do samba é positiva, até porque ninguém está sendo purista", acha Lúcio. "É um modo de mostrar que samba não é só carioca", atalha Pupilo. "O samba nunca foi carioca", polemiza Jorge. "É tão carioca quanto o baião é de Luiz Gonzaga, não tem dono", diz Lúcio, reivindicando a universalidade do samba. É o S. Amb. A.


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