São Paulo, quinta-feira, 15 de junho de 2000


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FESTIVAL
Vídeo é iniciativa do Filo
Sem-terra mostram "Uma Luta de Todos"

DA REPORTAGEM LOCAL

Sem-terra, policiais militares, um morto, 80 feridos. Começa assim, com imagens do conflito ocorrido em maio, numa rodoviária da região metropolitana de Curitiba. Depois vem o contraponto: a história de um pré-assentamento conquistado sem derramamento de sangue.
"Uma Luta de Todos" é o documentário concebido e criado por um grupo de 31 sem-terra, crianças, adolescentes e adultos, que participaram da oficina de audiovisual programada pelo 33º Festival Internacional de Teatro de Londrina (Filo).
Coordenado pela cineasta paranaense Berenice Mendes e equipe, o trabalho será exibido hoje, para convidados, na Associação Médica de Londrina. Amanhã, no período da tarde, haverá sessões corridas para o público.
Os sem-terra do pré-assentamento Dorcelina Folador, em Arapongas (a 36 km de Londrina, na região norte do Paraná), participaram do projeto durante os primeiros 15 dias de maio.
Com 27 minutos e 30 segundos, "Uma Luta de Todos" enfoca os 16 meses de trajetória do pré-assentamento formado por 67 famílias. Os participantes foram divididos em núcleos de produção, roteiro, técnica, direção e interpretação. Até violeiros da região endossam a trilha sonora.
"É um documentário com estrutura clássica: o histórico, a chegada deles, a repercussão junto à comunidade", conta Berenice Mendes, 40. Em 1985, ela rodou "Classe Roceira", sobre as primeiras ações do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) no Paraná.

Crise em cena
A edição atual do Filo prossegue até domingo, a duras penas. Iniciado em maio, sob o tema "Ano 0, de Todas as Artes", o evento sofreu vários cortes.
Foram canceladas, por exemplo, a vinda de cineastas dinamarqueses que idealizaram o Dogma 95 e a apresentação do grupo espanhol Sèmola Theatre.
A metade do orçamento de R$ 1,2 milhão (a projeção inicial era de R$ 2,5 milhões) ainda não foi repassada pela prefeitura e pelo Estado. A diretora do Filo, Nitis Jacon, 64, espera que as verbas cheguem, mesmo atrasadas (como na edição de 1999).
"Estamos passando por uma angústia muito grande, a ponto de pensarmos em mudar a forma de fazer o festival ou fecharmos de vez", afirma.
Alguns fatores contribuíram para o cenário atual. Nitis elenca, no plano municipal, a crise na administração do prefeito Antônio Belinati (PFL), acusado de comandar um esquema de corrupção. Em nível federal, aponta a demanda de recursos empregados nas festividades dos 500 anos. "Muitos festivais tradicionais, como o nosso e o de Campina Grande (PB), estão enfrentando sérios problemas."
Apesar do desgaste, o Filo manteve a perspectiva social. Dos 24 projetos vinculados à comunidade (mulheres da periferia, presidiários etc), caíram apenas três.
Além do documentário com os sem-terra, a oficina de moda marca presença, até domingo, com uma instalação no shopping Royal Plaza. Foi realizada pela Cooperativa de Artesãs e Costureiras da Rocinha (Coopa Roca), do Rio, com donas de casa do bairro de União da Vitória, na periferia de Londrina.
Nesta reta final do Filo, destaca-se no palco o espetáculo "A+B=X", protagonizado pelo inglês Gilles Jobin. Segundo o ator, especializado na linguagem da mímica, "o trabalho lida com o corpo no presente, com o corpo que vive agora, não como um corpo preso a um romantismo fora de moda". (VALMIR SANTOS)


Evento: 33º Festival Internacional de Teatro de Londrina
Quando: até 18/6
Informações: tel. 0/xx/43/322-1030


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