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CRÍTICA
Longa-metragem de Chamie opta por narrativa poética
IRINEU FRANCO PERPETUO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Atraso, falatório , cadeiras rangendo, público saindo no meio, equipamento sonoro
precário, aplausos no final: a pré-estréia de "Tônica Dominante",
primeiro longa de Lina Chamie,
anteontem, no Municipal de São
Paulo, teve todas as características
de uma noite de gala no teatro. E,
para não deixar de seguir o que
tem parecido ser uma triste sina
da casa nos últimos anos, o resultado artístico deixou a desejar.
O filme conta três dias na vida
de um jovem clarinetista, interpretado por Fernando Alves Pinto, que sofreu grave acidente durante as filmagens e cuja presença
na tela configura um milagre.
O primeiro dia, em tons predominantemente azuis, pretende retratar sua solidão; no segundo,
em vermelho (o melhor, graças à
histriônica atuação de Vera Holtz
como uma pianista enérgica e autoritária), ele arruina, como virador de página, um concerto da
violinista pela qual é apaixonado
(Vera Zimmermann, belíssima,
porém inexpressiva e pouco convincente nas cenas em que toca); e
o terceiro, em amarelo, é sua volta
por cima, com o regente de sua
orquestra escolhendo-o para tocar o solo de 18 compassos do segundo movimento da "Sinfonia
Inacabada", de Schubert.
Para contar essa história de redenção pela música, Chamie optou pela não-linearidade e por
uma narrativa poética. Graças à
boa qualidade da fotografia e da
trilha sonora (com destaque para
a "Sonata para Violino e Piano",
de César Frank), surgem alguns
momentos de beleza. Mesmo assim, o filme não se sustenta.
Musicista de formação, Chamie
fez uma obra pessoal. O problema
é que o longa acaba parecendo
pessoal demais. É evidente o fascínio da diretora em poder filmar
uma orquestra, em levar à tela a
coreografia dos arcos dos violinos. Até aí, tudo bem. Mas por
que gastar tantos minutos mostrando uma orquestra de figurantes a "tocar" uma música que não
é produzida por ela? Por que insistir tanto em closes de Carlos
Gregório (que faz o papel do regente) batendo (de maneira correta) o compasso ternário da sinfonia de Schubert ?
É por essas e outras que os 80
minutos de duração de "Tônica
Dominante" acabam parecendo
excessivos. E excessos desse gênero constituem pecado mortal,
quer no cinema, quer na música.
Tônica Dominante
Produção: Brasil (2000)
Direção: Lina Chamie
Com: Fernando Alves Pinto, Vera
Zimmermann, Carlos Gregório, Vera
Holtz
Onde: estréia hoje no Espaço Unibanco,
sala 1, e Lumiére, sala 2
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