São Paulo, sexta-feira, 15 de junho de 2001

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CRÍTICA

Longa-metragem de Chamie opta por narrativa poética

IRINEU FRANCO PERPETUO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Atraso, falatório , cadeiras rangendo, público saindo no meio, equipamento sonoro precário, aplausos no final: a pré-estréia de "Tônica Dominante", primeiro longa de Lina Chamie, anteontem, no Municipal de São Paulo, teve todas as características de uma noite de gala no teatro. E, para não deixar de seguir o que tem parecido ser uma triste sina da casa nos últimos anos, o resultado artístico deixou a desejar.
O filme conta três dias na vida de um jovem clarinetista, interpretado por Fernando Alves Pinto, que sofreu grave acidente durante as filmagens e cuja presença na tela configura um milagre.
O primeiro dia, em tons predominantemente azuis, pretende retratar sua solidão; no segundo, em vermelho (o melhor, graças à histriônica atuação de Vera Holtz como uma pianista enérgica e autoritária), ele arruina, como virador de página, um concerto da violinista pela qual é apaixonado (Vera Zimmermann, belíssima, porém inexpressiva e pouco convincente nas cenas em que toca); e o terceiro, em amarelo, é sua volta por cima, com o regente de sua orquestra escolhendo-o para tocar o solo de 18 compassos do segundo movimento da "Sinfonia Inacabada", de Schubert.
Para contar essa história de redenção pela música, Chamie optou pela não-linearidade e por uma narrativa poética. Graças à boa qualidade da fotografia e da trilha sonora (com destaque para a "Sonata para Violino e Piano", de César Frank), surgem alguns momentos de beleza. Mesmo assim, o filme não se sustenta.
Musicista de formação, Chamie fez uma obra pessoal. O problema é que o longa acaba parecendo pessoal demais. É evidente o fascínio da diretora em poder filmar uma orquestra, em levar à tela a coreografia dos arcos dos violinos. Até aí, tudo bem. Mas por que gastar tantos minutos mostrando uma orquestra de figurantes a "tocar" uma música que não é produzida por ela? Por que insistir tanto em closes de Carlos Gregório (que faz o papel do regente) batendo (de maneira correta) o compasso ternário da sinfonia de Schubert ?
É por essas e outras que os 80 minutos de duração de "Tônica Dominante" acabam parecendo excessivos. E excessos desse gênero constituem pecado mortal, quer no cinema, quer na música.


Tônica Dominante
  
Produção: Brasil (2000)
Direção: Lina Chamie
Com: Fernando Alves Pinto, Vera Zimmermann, Carlos Gregório, Vera Holtz
Onde: estréia hoje no Espaço Unibanco, sala 1, e Lumiére, sala 2




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