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CINEMA/ESTRÉIAS
"NOVE RAINHAS"
O diretor Fabián Bielinsky faz jogo de falso e verdadeiro num típico filme de ação com humor crítico
Argentino conta suas verdades e mentiras
DA REPORTAGEM LOCAL
As "Nove Rainhas" do título argentino que chega hoje às salas
paulistanas -depois de rápida e
concorrida passagem pela 3ª Semana do Cinema: Brasil & Independentes- são uma rara e valiosíssima série de selos da República de Weimar.
A venda da preciosidade por
dois golpistas portenhos a um não
menos recomendável homem de
negócios espanhol é a chance de
um inesperado lucro de milhares
de dólares, em um único dia de
"trabalho" de uma dupla que se
encontrou por acaso e esbarrou
na sorte. A menos que a sorte não
seja tão aleatória quanto parece.
O jogo de falso e verdadeiro que
o cineasta Fabián Bielinsky, 42,
cria em seu longa de estréia levou
mais de um milhão de espectadores argentinos ao cinema e arrebatou sete dos 11 prêmios oferecidos pela crítica cinematográfica
em seu país. O resultado é superior à mais otimista das expectativas do conjunto de empresas promotoras do concurso de roteiros
no qual Bielinsky foi apontado
vencedor e premiado com US$ 1,3
milhão para a produção do filme.
Na apresentação de um mundo
do crime muito mais epidérmico
que subterrâneo, Bielinsky fez sua
homenagem à sétima arte: "Achava interessante abordar a mentira
porque, ao fim e ao cabo, essa é a
própria definição do cinema."
Num típico filme de ação em
que desenvolveu sozinho roteiro e
diálogos, o cineasta acabou fazendo também um bem-humorado
desenho de um "modus vivendi"
argentino. Diante de sua costura
de traços sociais, econômicos e
políticos típicos dos portenhos,
estender ao vizinho a qualificação
de país do "jeitinho" parece não
apenas pertinente, mas inevitável.
Cada um a sua maneira, os personagens interpretados pelos
(ótimos) atores Ricardo Darín e
Gastón Puls são espertos, cínicos,
sedutores e amorais. Os tipos que
encontram pela frente oscilam
entre ingênuos e complacentes
com os trambiques, numa série
de participações a que o cineasta
deu atenção especial.
"Para mim, os atores secundários são os verdadeiros protagonistas de suas cenas específicas."
"Não quero com esse filme afirmar que sejamos o tempo todo
um povo com esse espírito. Mas
seguramente ele representa algo
de nós. Não somos só isso e nem
todos somos assim. Os portenhos
talvez correspondam mais a esse
retrato. Certamente as pessoas viram que o filme representa um estado de ânimo, uma sensação que
às vezes temos de que todos nos
mentem, de que o que prevalece é
o "salve-se quem puder" e o cinismo absoluto".
"Nove Rainhas" seria um exemplo de que a honestidade já não
compensa? "Não penso assim e
não queria que meu filme defendesse essa idéia ou o seu contrário. Minha intenção não era abordar moralismos, mas contar um
conto", afirma.
Contou-o. E deu a "Nove Rainhas" um final em que o maior
dos golpes é reservado a uma instituição, e não aos ladrões de meia
tigela.
(SILVANA ARANTES)
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