São Paulo, sábado, 15 de junho de 2002

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QUIXOTE NO BRASIL

Livro de Cervantes, recém-escolhido o melhor da história, ganha 3 edições brasileiras

Quixote aponta lança ao Brasil

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

De um lugarejo esquecido de La Mancha vem cavalgando há quase 400 anos um fidalgo magro de carnes, rosto enxuto, lança e escudo nas mãos. Ele já passou por todas as partes do globo, inclusive por aqui, mas quem o conhece de longas datas diz que o cavaleiro está prestes a fazer sua primeira viagem profunda ao Brasil.
O nome dele é Quixote, Dom Quixote, e sua chegada às livrarias brasileiras está marcada para o final de outubro deste ano, quando a Editora 34 lança a tradução que promete ser a mais fiel já feita para o português brasileiro das célebres aventuras desse personagem de Miguel de Cervantes.
A opinião é de Maria Augusta da Costa Vieira, considerada a principal estudiosa no Brasil do autor emblemático do idioma espanhol. Professora da Universidade de São Paulo, mestre e doutora em Cervantes, ela leu a versão recém-finalizada pelo tradutor Sérgio Molina e diz que será praticamente a estréia brasileira do verdadeiro Quixote. "É um personagem muito conhecido aqui por desenho animado, teatro, teatro infantil e filmes, mas o estudo e a leitura de um Quixote desse nível ainda estão em falta por aqui", diz a professora.
Tradução em alta-fidelidade não será a única novidade do volume que será lançado este ano, o primeiro novo Quixote em duas décadas. Pela primeira vez em uma edição brasileira, o texto cervantino poderá ser lido também no original espanhol.
Curiosamente, o "Quixote" bilíngue da 34, editora que pretende traduzir toda a narrativa de Cervantes nos próximos anos, não andará sozinho. O "Cavaleiro da Triste Figura", como o escudeiro Sancho Pança apelida seu desengonçado patrão, terá outras duas edições nacionais em 2002.
A editora Hedra deve reeditar no final do ano a tradução mais popular de Quixote, a dos portugueses Francisco Lopes de Azevedo Velho da Fonseca (visconde de Azevedo) e Antônio Feliciano de Castilho (visconde de Castilho).
"Infelizmente, a tradução que mais circulou por aqui foi a dos viscondes, que além de ser portuguesa é muito antiga, de 1876, o que ninguém diz", afirma a professora Costa Vieira, sem saber que a tradução ganharia reedição.
Antes disso, porém, o cavaleiro de La Mancha ganha ainda uma adaptação feita por um dos grandes poetas da terra, o também ensaísta e tradutor Ferreira Gullar, que terminou há dois meses um "Quixote" para a Revan. O volume procura "um público jovem e menos disposto a encarar uma obra bastante volumosa, escrita em estilo e linguagem de outra época", explica o poeta.
Na edição de Gullar, diálogos são resumidos, arcaísmos modernizados e histórias intercaladas do livro original, das quais não participava Quixote, eliminadas.
"Devemos afirmar que esta tradução adaptada de uma obra genial não pretende obviamente dispensar a leitura do texto original", escreve o poeta na apresentação do livro, que deve ser lançado no próximo agosto.
Por mais que tenha grandes chances de ser a melhor, não será a primeira adaptação no mercado brasileiro. A mais famosa inclui Dona Benta, Emília e outros personagens de Monteiro Lobato.
"Grande parte dos leitores brasileiros conhece só o Quixote de Lobato, que traz marcas excessivas de romantismo e moralização", diz Costa Vieira.



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