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QUIXOTE NO BRASIL
Livro de Cervantes, recém-escolhido o melhor da história, ganha 3 edições brasileiras
Quixote aponta lança ao Brasil
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
De um lugarejo esquecido de La
Mancha vem cavalgando há quase 400 anos um fidalgo magro de
carnes, rosto enxuto, lança e escudo nas mãos. Ele já passou por todas as partes do globo, inclusive
por aqui, mas quem o conhece de
longas datas diz que o cavaleiro
está prestes a fazer sua primeira
viagem profunda ao Brasil.
O nome dele é Quixote, Dom
Quixote, e sua chegada às livrarias
brasileiras está marcada para o final de outubro deste ano, quando
a Editora 34 lança a tradução que
promete ser a mais fiel já feita para o português brasileiro das célebres aventuras desse personagem
de Miguel de Cervantes.
A opinião é de Maria Augusta
da Costa Vieira, considerada a
principal estudiosa no Brasil do
autor emblemático do idioma espanhol. Professora da Universidade de São Paulo, mestre e doutora em Cervantes, ela leu a versão
recém-finalizada pelo tradutor
Sérgio Molina e diz que será praticamente a estréia brasileira do
verdadeiro Quixote. "É um personagem muito conhecido aqui por
desenho animado, teatro, teatro
infantil e filmes, mas o estudo e a
leitura de um Quixote desse nível
ainda estão em falta por aqui", diz
a professora.
Tradução em alta-fidelidade
não será a única novidade do volume que será lançado este ano, o
primeiro novo Quixote em duas
décadas. Pela primeira vez em
uma edição brasileira, o texto cervantino poderá ser lido também
no original espanhol.
Curiosamente, o "Quixote" bilíngue da 34, editora que pretende
traduzir toda a narrativa de Cervantes nos próximos anos, não
andará sozinho. O "Cavaleiro da
Triste Figura", como o escudeiro
Sancho Pança apelida seu desengonçado patrão, terá outras duas
edições nacionais em 2002.
A editora Hedra deve reeditar
no final do ano a tradução mais
popular de Quixote, a dos portugueses Francisco Lopes de Azevedo Velho da Fonseca (visconde de
Azevedo) e Antônio Feliciano de
Castilho (visconde de Castilho).
"Infelizmente, a tradução que
mais circulou por aqui foi a dos
viscondes, que além de ser portuguesa é muito antiga, de 1876, o
que ninguém diz", afirma a professora Costa Vieira, sem saber
que a tradução ganharia reedição.
Antes disso, porém, o cavaleiro
de La Mancha ganha ainda uma
adaptação feita por um dos grandes poetas da terra, o também ensaísta e tradutor Ferreira Gullar,
que terminou há dois meses um
"Quixote" para a Revan. O volume procura "um público jovem e
menos disposto a encarar uma
obra bastante volumosa, escrita
em estilo e linguagem de outra
época", explica o poeta.
Na edição de Gullar, diálogos
são resumidos, arcaísmos modernizados e histórias intercaladas
do livro original, das quais não
participava Quixote, eliminadas.
"Devemos afirmar que esta tradução adaptada de uma obra genial não pretende obviamente
dispensar a leitura do texto original", escreve o poeta na apresentação do livro, que deve ser lançado no próximo agosto.
Por mais que tenha grandes
chances de ser a melhor, não será
a primeira adaptação no mercado
brasileiro. A mais famosa inclui
Dona Benta, Emília e outros personagens de Monteiro Lobato.
"Grande parte dos leitores brasileiros conhece só o Quixote de
Lobato, que traz marcas excessivas de romantismo e moralização", diz Costa Vieira.
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