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Bloom celebra "diálogos" da obra
DA REPORTAGEM LOCAL
No dia 7 de maio deste ano um
grupo de cem escritores importantes de 54 países escolheu
"Dom Quixote" como o melhor
livro de todos os tempos. Na eleição coordenada pelo Instituto
Nobel e pelo Clube Norueguês do
Livro, o clássico de Cervantes teve
50% a mais de votos do que qualquer outro dos 99 livros da lista.
Para comentar a escolha, a Folha procurou um dos principais
críticos literários da atualidade, o
americano Harold Bloom, 72.
Professor da Universidade de Yale, ele balançou as letras universais ao publicar em 94 "O Cânone
Ocidental" (editora Objetiva), no
qual elencava os 850 escritores
fundamentais da literatura ocidental.
Em entrevista por telefone, de
sua casa, em New Haven (EUA),
Bloom disse que acha a escolha
justa, mas fez ressalvas. "Depois
de Homero, Aristófanes e da "Bíblia", os três grandes autores da
tradição ocidental são Dante, Cervantes e Shakespeare. Acho que é
quase absurdo fazer um ranking
entre eles. São igualmente perfeitos, mas muito diferentes."
Para Bloom, "Dante escreve um
épico visionário, Cervantes inventa as bases do que hoje chamamos de romance e Shakespeare,
obviamente, é o grande dramaturgo". O crítico diz que leu
"Dom Quixote" pela primeira vez
aos 12 anos ("em inglês, como o
leu Jorge Luis Borges quando novo"). "Depois li inúmeras vezes,
sempre com comichões."
E por que ler Quixote hoje, professor Bloom? "Sancho e Quixote
são duas pessoas que realmente
ouvem uma a outra, discutem
uma com a outra, brigam, brincam, aprendem uma com a outra.
Eles têm grandes e contínuas conversas. Pense como é difícil que
hoje alguém realmente escute outro alguém qualquer."
Grande estudioso de Shakespeare, que assim como Cervantes
será objeto de seu próximo livro,
"Gênio", ele diz que na obra do
bardo inglês, "como em nossas vidas, os personagens não escutam
realmente uns aos outros".
(CEM)
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