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São Paulo, domingo, 15 de junho de 2003

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PROGRAMAÇÃO

Reprises e produções importadas dominam 70% da programação

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A TV Cultura -cujo currículo é marcado por iniciativas de sucesso como "Bambalalão" e "Castelo Rá-Tim-Bum"- tem hoje cerca de 70% de sua programação preenchida por reprises e importados. E mais: nos 30% considerados "inéditos", a própria emissora contabiliza transmissões de missas, concertos e produções das TVEs da Bahia, Rio de Janeiro e Minas.
Com poucas novidades no ar, amarga audiências que chegam a menos de um ponto (cerca de 48 mil domicílios na Grande SP).
No mês passado, o Ibope registrou 0,8 de média para o período matutino, resultado que o instituto costuma chamar de "traço" (abaixo de um ponto). À tarde, com mais TVs ligadas, subiu para 2,4. Mas voltou a cair à noite, horário nobre, para um ponto.
Além disso, o pouco que resta de produção própria não está entre as mais assistidas. Em 21 rankings semanais do Ibope com as cinco melhores audiências de cada canal (de 30/12/2002 a 25/5/2003), há apenas quatro entre as 105 citações para material feito na TV Cultura: uma para o "Ensaio", uma para "Expedições" e duas para "Cultura Documento". Estes dois últimos, no entanto, incluem co-produções e documentários independentes.
Nas outras 101 menções dos "cinco mais" estão reprises do "Castelo" (produzido há cerca de dez anos), missas de Aparecida, filmes brasileiros, documentários e infantis de fora. Programas em produção atualmente (como o infantil "Cocoricó") sofrem com a falta de verba geral da emissora e com o atraso no pagamento de parte das equipes.
Há cerca de seis meses, o salário dos terceirizados, que deveria ser pago sempre no dia 10, tem sido liberado entre 15 e 20. A remuneração de abril foi paga pela metade em 18 de maio e os outros 50% saíram na quarta passada, dia 11, com um mês de atraso.

Reprise/reapresentação
As atrações do público infantil (o maior da TV Cultura) ocupam quase dez horas diárias de sua programação. Fora algumas vinhetas inéditas, no ar há duas semanas, o resto é composto por reprises ("Castelo", "Ilha" e outros) e material de fora, como "Turma do Pererê" (TVE/Rio).
A emissora corre ainda o risco de perder infantis estrangeiros. Responsáveis por seus melhores ibopes, os importados despertaram o interesse de outras TVs, que agora tentam comprá-los.
A Cultura considera o interesse prova de que acertou na programação. "A escolha dos programas comprados faz parte da autoria institucional da Cultura. A concorrência está de olho porque sabemos escolher. É verdade que temos dificuldade para pagar. Mas devemos ser condenados [pela perda dos infantis]?", diz o cientista político Carlos Novaes, consultor da Cultura.
A emissora também não concorda em incluir os infantis nas reprises (que prefere chamar de "reapresentação") e diz que é um método necessário "ao aprendizado das crianças". "Programação infantil repetida é recurso pedagógico. O "Castelo" teve 12 pontos na terceira reprise. O "Ilha" tem melhor audiência do que na estréia", diz Novaes.
Para a emissora, sua programação está dividida em 21% de reapresentações, 49% de infantis e 30% de horas inéditas.
Jorge da Cunha Lima, diretor-presidente da Fundação Padre Anchieta, atrela o ibope atual em parte à mudança de estratégia da concorrência. "Em 95, 96, tivemos ibopes altíssimos com "Castelo". Mas éramos os únicos a fazer programa infantil. As outras descobriram o filão e compraram a programação da Disney e os [desenhos] japoneses. Então, o "Castelo", que já reprisava, não piorou ou envelheceu, mas teve um concorrência brutal."
Baseada em pesquisa interna, a direção diz que seu público acha a programação atual melhor do que "antes". E sustenta que o parâmetro de qualidade não pode ser "audiência e lucro". "Esta gestão ganhou 113 prêmios internacionais", diz Cunha Lima.


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