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São Paulo, domingo, 15 de junho de 2003

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BASTIDORES

Na roda-viva, direção acusa gestão anterior

DA REPORTAGEM LOCAL

O diretor-presidente da Fundação Padre Anchieta, Jorge da Cunha Lima, 71, está há um mês no centro de uma roda-viva. O vazamento de um ofício em que a direção da TV Cultura informava ao governo Alckmin não receber recursos do Estado suficientes para pagar aos fornecedores de arroz e feijão do restaurante teve efeito bumerangue.
Na sequência, Cunha Lima foi convocado para explicar a parlamentares como a fundação administra seus recursos, justificar as 250 demissões do início deste ano e a responder acusações, sem provas, de mau uso do dinheiro público. "Cada um usa os problemas da fundação em função do seu interesse político. Não basta falar mal do governo, é bom dar uma lambada na minha gestão", diz Cunha Lima. "É o troco [que recebo em consequência] das demissões."
Ele concedeu entrevista de quase três horas à Folha na última terça. "Fico indignado quando questões de honra vêm [à tona]", disse, ao comentar acusações de favorecimento em contratos feitas por sindicalistas.
A fundação encerrou 2002 com um déficit de R$ 12 mi. Cunha Lima diz que a crise é estrutural, por falta de investimentos.
Espicaçada por críticas à sua gestão feitas pela secretária estadual da Cultura, Cláudia Costin (à qual a fundação é vinculada), a diretoria da TV atribuiu à administração anterior a maior parte das dificuldades. "Ficamos reféns de dívidas herdadas", diz o diretor-superintendente, Manoel Luiz Luciano Vieira.
Ele acusa antecessores de terem omitido nos balanços dívidas transferidas a Cunha Lima. "Só pode ser piada alguém culpar uma administração que saiu há nove anos pelos problemas atuais", diz Roberto Muylaert, que presidiu a Cultura de 86 a 95, na época áurea do "Castelo Rá-Tim-Bum" e outros infantis.

Bresser
"A Cultura não está em conflito com o governo de São Paulo", diz Luiz Carlos Bresser Pereira, do conselho da fundação e a quem se atribui influência nos conceitos de gestão defendidos por Costin. A secretária trabalhou com ele no governo FHC.
"Jamais ouvi falar em denúncias de desvios", diz Bresser, que nega interesse em ocupar o cargo de Cunha Lima, como circulou em 2001. "A fundação está bem dirigida pelo Jorge."
Os deputados Ênio Tatto (PT) e Orlando Morando (PSB) protocolaram pedidos de CPI na Assembléia de SP. "Há denúncias graves de enriquecimento ilícito, de pessoas que receberam sem trabalhar", diz Tatto.
Deputada da base governista, Maria Lúcia Amaury (PSDB), da Comissão de Cultura, Ciência e Tecnologia da Assembléia, é contra a CPI. "A comissão pode apurar e tomar as medidas. A CPI atrasaria o processo."
Vicente Cândido (PT) pediu ao Tribunal de Contas do Estado (TCE) auditoria na fundação. "A crise é mais política e financeira. Mas como há indícios, estamos pedindo a auditoria."
Em 1999, a fundação pediu ao TCE normas próprias para contratações de pessoal e de prestadores de serviços. "A fundação tem natureza especial. As análises podem ser menos formais. Mas as contas devem respeitar os princípios de transparência que a gestão pública exige", diz Antonio Roque Citadini, conselheiro do TCE. (FV, FF e LM)


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