São Paulo, terça-feira, 15 de junho de 2004

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Brasil no sónar e sónar no Brasil

São Paulo recebe em setembro megafestival de música, arte e tecnologia que começa nesta quinta-feira em Barcelona

DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

A partir da próxima quinta-feira acontece em Barcelona um dos principais eventos de música e arte eletrônica da Europa. É a 11ª edição do Sónar, que, ao longo de três dias e três noites, apresenta o que há de melhor e mais novo no casamento entre arte e tecnologia.
Barcelona, né? Bom para eles... Que nada: a novidade é que, como já vinha acontecendo em Tóquio, Frankfurt e Londres, o Sónar desembarca pela primeira vez nas Américas com um formato bastante semelhante. E o local escolhido para a farra eletrônica, entre 9 e 12/9, foi a cidade de São Paulo.
Alguns dos nomes que participam do evento espanhol já estão confirmados em terras brasileiras. É o caso de Four Tet, projeto indie eletrônico do inglês Kieran Hebden, do duo finlandês Pan Sonic, minimalistas do selo Mute, e do rapper americano Beans, ex-membro do Anti Pop Consortium, que atualmente lança seu trabalho pelo selo Warp.
Também tocam lá e cá o pouco conhecido produtor islandês Mugison, o multimídia dinamarquês Carsten Nicolai e, cortesia da casa, o DJ catalão Fibla.
Todos eles integrarão a porção musical diurna, que volta os olhos a trabalhos mais de vanguarda e conta ao todo com 24 músicos e DJs, dos quais metade é internacional. Ainda não foram definidos para a versão brazuca os nomes das atrações noturnas, que, na Espanha, incluem um duelo imperdível entre os DJs Richie Hawtin e Ricardo Villalobos, um show do Massive Attack e os sets sempre empolgantes de Jeff Mills, Hell e Tiga, entre (muitos) outros.
Da seleção de filmes e videoclipes que integram a versão espanhola do festival também já estão confirmados no Brasil o longa "Bodysong", de Simon Pummell e trilha sonora do Radiohead Jonny Greenwood, os curtas do festival inglês de novos talentos Onedotzero e, finalmente, uma pequena mostra dos clipes musicais dirigidos por Roman Coppola (Moby, Daft Punk, Cassius, Fatboy Slim...).
Em seu aspecto propriamente multimídia, composto por instalações e trabalhos de net art, a curadoria brasileira, a cargo de Lucas Bambozzi, ainda não anunciou os participantes, mas deve privilegiar trabalhos nacionais.
A programação completa, bem como os locais de realização do Sónar brasileiro, também deve ser informada nos próximos dias pela organização.
Segundo a Folha apurou, os endereços mais prováveis para um evento desse porte seriam o Instituto Cultural Tomie Ohtake, para as exposições e a programação diurna, e o Credicard Hall, suficiente para receber o público de quase 10 mil pessoas esperado para as duas noites do festival, que reunirá em dois palcos 27 atrações diferentes.

Educação eletrônica
Anunciado no início do ano como parte do projeto Nokia Trends -o mesmo que trouxe Fatboy em março ao país-, o Sónar paulista é uma parceria da fabricante de celulares com a produtora de espetáculos CIE-Brasil.
"Queríamos investir em um evento que fosse complementar a tudo o que já estava acontecendo aqui", afirmou Coy Freitas, 35, diretor de criação da CIE, em referência a outros festivais de música eletrônica que têm seu foco na diversão, como o Skol Beats. "É necessário que o público brasileiro entenda a eletrônica não como uma moda e, sim, como uma cultura em constante transformação, ligada à música e também às artes visuais multimídia", destacou.
Assim, sob essa mesma variável "educativa" do projeto, alguns artistas brasileiros serão enviados à Europa para um "estágio" em eventos afins, como o Ars Eletronica, realizado em setembro na Áustria, e o próprio Sónar na Espanha, que nesta sexta-feira recebe o DJ Patife, o embaixador do funk carioca DJ Marlboro e os rappers eletrônicos do Instituto e Nego Moçambique.
Os três últimos promovem um showcase batizado de Eletronika Brazil e enfrentam a responsabilidade de segurar o palco para as apresentações seguintes de So Solid Crew, Matthew Herbert e 2 Many DJs, que esteve no ano passado no Tim Festival, no Rio.
"Nossa intenção não é só importar o que é bacana lá de fora. Queremos que haja um intercâmbio, que os artistas que levamos vejam o que está acontecendo por lá e tragam essa informação para ser disseminada aqui", insiste Wal Flor, 31, gerente de marketing da Nokia no Brasil.
Tanto empenho, claro, tem o objetivo comercial de "estimular o consumo de música e arte multimídia através dos aparelhos celulares". Uma das principais apostas de fabricantes e operadoras de telefonia, a distribuição de música, videoclipes e games pelo celular tem sido vista como o grande porto seguro da ressabiada indústria do entretenimento, às voltas com os problemas de distribuição ilegal de seus conteúdos pela internet.
Segundo o contrato dos artistas com a patrocinadora, todo o conteúdo de suas performances durante o Sónar no Brasil poderá ser utilizado e distribuído por esse canal. Resta saber quem desfrutará das novidades e quem vai ficar de fora: "O mercado brasileiro ainda é pequeno, mas estamos indo atrás. A idéia é disponibilizar esse conteúdo para todo mundo, não só para aquele que tem um celular de R$ 1.500", afirma Flor.


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