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CINEMA
Kiko Goifman e Joel Pizzini discutem o gênero em evento no Centro Cultural São Paulo que lança coletânea de artigos
Debate em SP explora os limites do documentário
LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
DA REDAÇÃO
Cinema verdade, direto, do vivido, de não-ficção, da realidade.
Todas são definições do gênero
documentário que levam a uma
conclusão: ele não tem definição.
Hoje, às 19h, o debate "Documentário Brasileiro na Atualidade", no Centro Cultural São Paulo, tenta traduzir o que significa
essa produção atual e os limites de
um tipo de cinema que vem crescendo década a década.
Francisco Elinaldo Teixeira, organizador da coletânea "Documentário no Brasil - Tradição e
Transformação" e responsável
pela mediação do evento, diz que
"o documentário é indefinível ou
definível apenas por aproximações". "O gênero parte da realidade, mas faz dela algo bem distinto
de uma mera reprodução."
O documentarista Joel Pizzini,
que debate ao lado de Kiko Goifman, completa: "Raramente o documentário "desencapa" a realidade. O desafio do autor é não esbarrar na realidade aparente. Aí
vem a necessidade de se inventar
um método a cada filme".
Goifman também crê ser difícil
chegar a uma definição. "Atualmente esse é um terreno complexo e fluido, principalmente porque há muitos filmes que "namoram" outros gêneros."
Segundo o diretor de "33", o
atual aumento de estréias de documentários pode ser explicado
através dois abandonos: o do didatismo excessivo, como se fosse
a voz da verdade, e o do ar institucional. "Além disso, o barateamento da tecnologia digital ajudou muito. O documentário perdeu a aura de ser chato e se converteu num caminho para entender a complexidade do mundo."
Elinaldo Teixeira não vê uma
"cara" que reúna essa produção:
"A não ser que imaginemos uma
composição do tipo cubista. Temos, ao contrário, o que se pode
chamar de docudiversidade".
Nesta semana, por exemplo, há
dois longas em cartaz: "O Prisioneiro da Grade de Ferro", de Paulo Sacramento, e "Ser e Ter", de
Nicolas Philibert. Este último, inclusive, virou objeto de disputa
judicial entre os realizadores e os
participantes, em busca de uma
fatia do lucro do filme.
"Com os direitos de imagem ativados mais freqüentemente, foi
Eduardo Coutinho [em "Santo
Forte" (99)] quem usou da literalidade mais desconcertante em relação aos limites do documentário: transformou o contrato de fala e imagem em material de composição do filme", diz o ensaísta.
E, por falar em limites, haveria
um conjunto de regras a ser seguido? Goifman acha "difícil a fixação de padrões da intervenção em
um "manual de conduta do bom
documentarista'". "Tendo a preferir intervenções assumidas às
ocultas. Tirar os shorts de índios,
por exemplo, foi um procedimento dos anos 70 para mostrar que o
grupo ainda mantinha algumas
tradições. O documentarista pode
intervir na vida de um entrevistado e deve ter cuidado com isso."
O livro lançado hoje, com artigos de Jean-Claude Bernardet e
Fernão Pessoa Ramos, entre outros, é mais uma ferramenta
-numa seara ainda escassa-
para estudar a produção documental, que atualmente vira sua
câmera para um objeto que Consuelo Lins descreve perfeitamente
em seu artigo sobre Eduardo
Coutinho: "O mundo não está
pronto para ser filmado, mas em
constante transformação".
DOCUMENTÁRIO BRASILEIRO NA
ATUALIDADE. Debate gratuito com Joel
Pizzini e Kiko Goifman seguido de
lançamento do livro "Documentário no
Brasil - Tradição e Transformação".
Editora: Summus Editorial. Quanto: R$ 54
(384 págs.). Onde: Centro Cultural São
Paulo (r. Vergueiro, 1.000, tel. 0/ xx/11/
3277-3611 r. 221). Quando: hoje, às 19h.
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