São Paulo, terça-feira, 15 de junho de 2004

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CINEMA

Kiko Goifman e Joel Pizzini discutem o gênero em evento no Centro Cultural São Paulo que lança coletânea de artigos

Debate em SP explora os limites do documentário

LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
DA REDAÇÃO

Cinema verdade, direto, do vivido, de não-ficção, da realidade. Todas são definições do gênero documentário que levam a uma conclusão: ele não tem definição.
Hoje, às 19h, o debate "Documentário Brasileiro na Atualidade", no Centro Cultural São Paulo, tenta traduzir o que significa essa produção atual e os limites de um tipo de cinema que vem crescendo década a década.
Francisco Elinaldo Teixeira, organizador da coletânea "Documentário no Brasil - Tradição e Transformação" e responsável pela mediação do evento, diz que "o documentário é indefinível ou definível apenas por aproximações". "O gênero parte da realidade, mas faz dela algo bem distinto de uma mera reprodução."
O documentarista Joel Pizzini, que debate ao lado de Kiko Goifman, completa: "Raramente o documentário "desencapa" a realidade. O desafio do autor é não esbarrar na realidade aparente. Aí vem a necessidade de se inventar um método a cada filme".
Goifman também crê ser difícil chegar a uma definição. "Atualmente esse é um terreno complexo e fluido, principalmente porque há muitos filmes que "namoram" outros gêneros."
Segundo o diretor de "33", o atual aumento de estréias de documentários pode ser explicado através dois abandonos: o do didatismo excessivo, como se fosse a voz da verdade, e o do ar institucional. "Além disso, o barateamento da tecnologia digital ajudou muito. O documentário perdeu a aura de ser chato e se converteu num caminho para entender a complexidade do mundo."
Elinaldo Teixeira não vê uma "cara" que reúna essa produção: "A não ser que imaginemos uma composição do tipo cubista. Temos, ao contrário, o que se pode chamar de docudiversidade".
Nesta semana, por exemplo, há dois longas em cartaz: "O Prisioneiro da Grade de Ferro", de Paulo Sacramento, e "Ser e Ter", de Nicolas Philibert. Este último, inclusive, virou objeto de disputa judicial entre os realizadores e os participantes, em busca de uma fatia do lucro do filme.
"Com os direitos de imagem ativados mais freqüentemente, foi Eduardo Coutinho [em "Santo Forte" (99)] quem usou da literalidade mais desconcertante em relação aos limites do documentário: transformou o contrato de fala e imagem em material de composição do filme", diz o ensaísta.
E, por falar em limites, haveria um conjunto de regras a ser seguido? Goifman acha "difícil a fixação de padrões da intervenção em um "manual de conduta do bom documentarista'". "Tendo a preferir intervenções assumidas às ocultas. Tirar os shorts de índios, por exemplo, foi um procedimento dos anos 70 para mostrar que o grupo ainda mantinha algumas tradições. O documentarista pode intervir na vida de um entrevistado e deve ter cuidado com isso."
O livro lançado hoje, com artigos de Jean-Claude Bernardet e Fernão Pessoa Ramos, entre outros, é mais uma ferramenta -numa seara ainda escassa- para estudar a produção documental, que atualmente vira sua câmera para um objeto que Consuelo Lins descreve perfeitamente em seu artigo sobre Eduardo Coutinho: "O mundo não está pronto para ser filmado, mas em constante transformação".


DOCUMENTÁRIO BRASILEIRO NA ATUALIDADE. Debate gratuito com Joel Pizzini e Kiko Goifman seguido de lançamento do livro "Documentário no Brasil - Tradição e Transformação". Editora: Summus Editorial. Quanto: R$ 54 (384 págs.). Onde: Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1.000, tel. 0/ xx/11/ 3277-3611 r. 221). Quando: hoje, às 19h.


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