São Paulo, domingo, 15 de junho de 2008

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Caixa passeia por quatro décadas de Chico Buarque

Coletânea reúne, pela primeira vez, faixas de todas as gravadoras pelas quais o artista passou na carreira

Pesquisador seleciona para quatro CDs algumas canções pouco conhecidas e versões inéditas de "Tanto Amar" e "Samba do Grande Amor"


LUIZ FERNANDO VIANNA
DA REPORTAGEM LOCAL

Que diferença há entre "Chico Buarque - Essencial" e tantas outras coletâneas do artista já lançadas? É a primeira vez que se consegue compilar fonogramas de toda a carreira de Chico, espalhada por quatro gravadoras em quatro décadas -afora as participações em discos de outras.
A conquista é resultado dos esforços de Vinicius França, produtor de Chico, e permitiu ao pesquisador Rodrigo Faour montar um painel amplo, dividido em quatro CDs temáticos: "Samba e Amor", "Todo o Sentimento", "Cotidiano" e "Entre Amigos, Paratodos".
O título "Essencial" é pernóstico, pois nem com 56 faixas cobre-se o essencial da obra do compositor. E muitas escolhas estão bem mais para curiosas do que inevitáveis.
É o caso de parte do CD 4, em que Chico canta com outros. "Valsinha" com Nelson Gonçalves, "Quem te Viu, Quem te Vê" com Cauby Peixoto e "Paroara" com Fagner e Fausto Nilo não são imperdíveis; atraem, sobretudo, pelo inusitado.
Atraem mais os duos com Nara Leão ("João e Maria"), Francis Hime ("Pássara"), Toquinho (medley de "Lua Cheia", "Samba de Orly" e "Samba pra Vinicius") e Marianna Leporace, ao lado de quem Chico interpretou pela primeira vez, em 2000, "Tororó", parceria com Edu Lobo de 12 anos antes.

Lado B
Esse olhar sobre itens menos conhecidos da obra também se reflete nas escolhas, por exemplo, de "Injuriado" e "Cantando no Toró" para o CD 1 e de "Ludo Real" e "Sentimental" para o 2, fugindo do "mais do mesmo" que acomete coletâneas.
"Tive o cuidado de reunir sucessos essenciais da obra de Chico e alguns lados B também essenciais. Essas músicas, sendo ouvidas no meio das consagradas, acabam com aura de clássicas", acredita Faour, que cuidou da reedição da discografia completa de Maria Bethânia, entre outros trabalhos.
Das inegavelmente clássicas, Faour deu preferências às versões do acervo da SonyBMG, produtora da caixa. Assim, "O Meu Amor", "Partido Alto" e "Samba do Grande Amor" entram em versões ao vivo -sendo a última inédita em disco, pois ficou de fora de "Chico ao Vivo" (1999)- sem perderem muito. Já no caso de "Cotidiano", o registro de 1999, embora muito bom, não tem como superar o original de 1971, do disco "Construção".
"A SonyBMG até possui fonogramas ao vivo de "As Vitrines", "Vida" e "Vai Passar", por exemplo, mas preferi pedir os originais à Universal por serem gravações antológicas e insubstituíveis", diz Faour.
Ele aproveitou bastante os "arranjos arrojados" de "Uma Palavra", disco de 1995 que é pouco lembrado, pois foi gravado sem músicas inéditas e antes de Chico se retirar para escrever o romance "Benjamim".
Seis faixas estão na caixa, além de uma versão de "Tanto Amar" que não entrou no CD.
Há escolhas que justificam o "Essencial", como "Choro Bandido", "Futuros Amantes", "Valsa Brasileira" e "Tatuagem" no CD 2, e "Pedro Pedreiro", "O Meu Guri", "Trocando em Miúdos" e "Bye Bye Brasil" no 3. Mas há, pelo menos, uma ausência lastimável: "Eu te Amo" -aliás, não há nenhuma parceria com Tom Jobim no conjunto.
A caixa se completa com o DVD "Chico ou o País da Delicadeza Perdida", em que ele e sua obra são a base para os diretores Walter Salles e Nelson Motta falarem do Brasil.


CHICO BUARQUE - ESSENCIAL
Gravadora:
SonyBMG
Quanto: R$ 113, em média (4 CDs e 1 DVD)



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