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TELEVISÃO
Pérolas de "Fascinação" amenizam "Chiquititas"
TELMO MARTINO
O assanhamento das Chiquititas é tal, que o SBT achou por
bem amenizar sua programação colocando no ar, logo depois de tanta folia, uma novelinha de época só romântica.
Se chama "Fascinação", como a valsinha para namorados que tinham jardim para
namorar, que Nana Caymmi
(ainda bem!) foi chamada para cantar. Enquanto ela canta,
os créditos informam que há
muitos desconhecidos no elenco e que o autor é um Carrasco. Walcyr, mas Carrasco.
Uma das desconhecidas é
uma mocinha que, mesmo grávida, procura um emprego que
sempre lhe é negado. Correm
os anos 30, quando mãe solteira era chamada de vagabunda, sobretudo pelo pai. Mães
eram mais compreensivas.
"Toma esse dinheiro. É pouco,
mas vai ajudar", diz a mãe,
parecida com Miriam Mehler.
As mães são as grandes vilãs
dos anos 30. Quanto mais fios
de pérolas têm no pescoço,
mais ardilosas elas são em sua
crueldade. Uma delas paga um
rapaz alto, de bigode e brilhantina, que certamente não
via filmes do Robert Taylor.
Ele apóia com dinheiro e total
respeito a grávida abandonada. Só a mãe Mehler acredita
em afeto. Não viu quantas pérolas tinha a coleira da vilã.
Pelo jeito, o Walcyr, o Carrasco, não está encontrando
na época de Getúlio nada tão
suculento como as artimanhas
sexuais que tanto espicharam
de sua "Xica da Silva". Seduzida e abandonada no Estado
Novo é de parca riqueza.
A moça tem o filho num parto difícil, com a caridade das
freiras mostrando o que se perdeu com o INPS. No que nasce
a criança, o rapaz que não é fã
de Robert Taylor entra em
contato com a cafetina de sua
preferência (que usa tantas pérolas quanto as pérfidas
mães). Como conseguiam distinguir uma das outras? "Très
simple": pelo sotaque francês.
Tudo arranjado, o profissional do mal vai buscar a jovem
mãe. "Eu sei que o senhor gosta
dela." "A senhora é uma velha
caduca." Pobre Mehler. Velha
e caduca. Quem mandou se
meter com o SBT.
A jovem mãe não cede. É moça direita. Sai, de novo, com o
filho nos braços. O lobo mau ri.
Voltará? Não respondam. A
pergunta é pura retórica.
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