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Uchida não se seduz pelo brilho
especial para a Folha
Última obra instrumental de
Schubert, a "Sonata para Piano
em Si Bemol Maior (D. 960)" começa com um longo movimento
"molto moderato", de rara placidez, sussurrado em pianíssimo. A
atmosfera serena, resignada e
também temerosa, desse movimento é interrompida por uns
poucos breves compassos de
maior força, mas volta a imperar.
A música, aqui, deve ser tocada
de maneira a soar como se viesse
de longe, e é possível que Schubert
pretendesse expressar, dessa maneira, o indizível desses seus sentimentos e sensações.
Em sua belíssima leitura dessa
"Sonata", a pianista Mitsuko
Uchida expressa a atmosfera mística desse movimento com uma
profundidade emocional que fará
muitas das leituras mais conhecidas desse número parecerem tão
superficiais quanto uma polca de
salão. Com sabedoria, ela mergulha, de maneira exaustiva, nos
conteúdos da partilha e revela o
intenso poder dramático de cada
uma de suas notas. Uchida parece
reviver a condição existencial do
próprio compositor.
Se Uchida é insuperável ao recriar o lado escuro desta sonata,
nos dois movimentos finais ela se
mostra uma virtuose que não se
deixa seduzir pela facilidade e pelo
brilho. Mantém uma seriedade
etérea nos delicados arabescos e
na inspiração folclórica do Scherzo e expressa, no sanguíneo Allegro "ma non troppo", a plenitude do significado de cada nota,
numa interpretação cheia de temperamento, que torna visíveis não
só os contornos de um vulcão,
mas a lava incandescente que ferve
em seu interior.
(LSK)
Disco: Sonata em Si Bemol Maior D. 960
Pianista: Mitsuko Uchida
Lançamento: Philips (importado)
Quanto: R$ 28, em média
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