|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Fraternal encerra seu ciclo caipira
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A cultura rural, caipira por extensão, aquela que ainda há pouco foi alvo de pendenga por causa
da festa junina de Lula, é tema do
novo espetáculo da Fraternal
Companhia de Artes e Malas-Artes, "Eh, Turtuvia!".
O título é uma expressão do dialeto caipira que significa perplexidade. No espetáculo, quatro caboclos narram e interpretam personagens de uma comunidade rural
de 50 anos atrás. A estréia acontece hoje no teatro Paulo Eiró, na
zona sul de São Paulo.
"A peça recria o universo das
antigas comunidades rurais brasileiras, com seu linguajar sonoro
e imagético, seus fortes valores
coletivos e sua percepção cíclica
da vida", diz o dramaturgo Luís
Alberto de Abreu.
"O espetáculo celebra toda uma
cultura centenária em rápida e
contínua decadência sob o impacto da urbanização", continua.
Os personagens caipiras são
Norata (interpretada pela atriz
Mirtes Nogueira), Arias (Aiman
Hammoud), Labão (Luti Angelelli) e Zé Icó (Kalil Jabbour).
Marca do repertório da companhia, atores revezam planos dos
narradores e dos papéis, o que pede a cumplicidade do público no
jogo de imaginação.
"Toda uma cultura está em processo de extinção. Não se trata de
nostalgia, mas da necessidade de
resgate, de memória. A peça é
uma grande metáfora sobre a perda de identidade", diz o diretor
Ednaldo Freire.
A queda de um velho jatobá, ao
final, demarca o processo de industrialização.
Como um auto caipira, na definição de Abreu, "Eh, Turtuvia!"
apresenta santos devidamente
humanizados (são João, são Pedro, santo Antônio e são José).
Ciclo
A peça encerra o ciclo iniciado
com "Sacra Folia" (1996) e "Auto
da Paixão e da Alegria" (2002),
que também entrelaçavam o profano e o religioso sob a perspectiva da cultura popular (o auto é
uma composição dramática que
geralmente traz um argumento
bíblico ou alegórico; sua intenção
não é convencer, mas celebrar,
festejar).
A próxima incursão da Fraternal Companhia de Artes e Malas-Artes será pela paródia dos clássicos, a começar por "Râmile",
aquela tragédia de Shakespeare.
"EH, TURTUVIA!". Texto: Luís Alberto
de Abreu. Direção: Ednaldo Freire.
Cenário e figurinos: Luiz Augusto e Fábio
Lusvarghi. Direção musical: Murilo
Alvarenga. Com: Fraternal Companhia
de Artes e Malas-Artes. Onde: teatro
Paulo Eiró (av. Adolfo Pinheiro, 765, Alto
da Boa Vista, SP, tel.: 0/xx/11/5546-0449). Quando: estréia hoje, às 21h; sex.
e sáb., às 21h; dom., às 19h. Quanto: R$
10. Até 31/10.
Texto Anterior: "Canto de Gregório"/"Prêt-à-Porter 6": Desta vez o grupo CPT não se superou Próximo Texto: Visuais: Artistas exibem suas visões do cotidiano Índice
|