São Paulo, quinta-feira, 15 de julho de 2004

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Fraternal encerra seu ciclo caipira

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A cultura rural, caipira por extensão, aquela que ainda há pouco foi alvo de pendenga por causa da festa junina de Lula, é tema do novo espetáculo da Fraternal Companhia de Artes e Malas-Artes, "Eh, Turtuvia!".
O título é uma expressão do dialeto caipira que significa perplexidade. No espetáculo, quatro caboclos narram e interpretam personagens de uma comunidade rural de 50 anos atrás. A estréia acontece hoje no teatro Paulo Eiró, na zona sul de São Paulo.
"A peça recria o universo das antigas comunidades rurais brasileiras, com seu linguajar sonoro e imagético, seus fortes valores coletivos e sua percepção cíclica da vida", diz o dramaturgo Luís Alberto de Abreu.
"O espetáculo celebra toda uma cultura centenária em rápida e contínua decadência sob o impacto da urbanização", continua.
Os personagens caipiras são Norata (interpretada pela atriz Mirtes Nogueira), Arias (Aiman Hammoud), Labão (Luti Angelelli) e Zé Icó (Kalil Jabbour).
Marca do repertório da companhia, atores revezam planos dos narradores e dos papéis, o que pede a cumplicidade do público no jogo de imaginação.
"Toda uma cultura está em processo de extinção. Não se trata de nostalgia, mas da necessidade de resgate, de memória. A peça é uma grande metáfora sobre a perda de identidade", diz o diretor Ednaldo Freire.
A queda de um velho jatobá, ao final, demarca o processo de industrialização.
Como um auto caipira, na definição de Abreu, "Eh, Turtuvia!" apresenta santos devidamente humanizados (são João, são Pedro, santo Antônio e são José).

Ciclo
A peça encerra o ciclo iniciado com "Sacra Folia" (1996) e "Auto da Paixão e da Alegria" (2002), que também entrelaçavam o profano e o religioso sob a perspectiva da cultura popular (o auto é uma composição dramática que geralmente traz um argumento bíblico ou alegórico; sua intenção não é convencer, mas celebrar, festejar).
A próxima incursão da Fraternal Companhia de Artes e Malas-Artes será pela paródia dos clássicos, a começar por "Râmile", aquela tragédia de Shakespeare.


"EH, TURTUVIA!". Texto: Luís Alberto de Abreu. Direção: Ednaldo Freire. Cenário e figurinos: Luiz Augusto e Fábio Lusvarghi. Direção musical: Murilo Alvarenga. Com: Fraternal Companhia de Artes e Malas-Artes. Onde: teatro Paulo Eiró (av. Adolfo Pinheiro, 765, Alto da Boa Vista, SP, tel.: 0/xx/11/5546-0449). Quando: estréia hoje, às 21h; sex. e sáb., às 21h; dom., às 19h. Quanto: R$ 10. Até 31/10.


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