São Paulo, sexta-feira, 15 de julho de 2005

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CINEMA/"EM BOA COMPANHIA"

Dennis Quaid interpreta profissional que perde o cargo para um publicitário de 26 anos

Weitz capta o desafio do homem "neoliberal"

PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Num mundo neoliberal que nos trouxe, por assim dizer, relações trabalhistas e pessoais um tanto repentinas, quando não improváveis, parece nos restar apenas entender parte da dinâmica traiçoeira desta nova ordem das coisas. É nesse ambiente selvagem e de perplexidade que estão inseridos os personagens de "Em Boa Companhia", de Paul Weitz.
Um espaço no qual empresas se fundem e são pulverizadas, cargos nascem para morrer semanas depois, veteranos tomam bronca de ex-estagiários, agora chefes que mais parecem seus filhos caçulas. Quem assiste a isso é Dan Foreman (Dennis Quaid), 51, casado, pai de duas filhas, chefe de vendas de publicidade da revista "Sports America".
Matando um punhado de leões por dia (eis aqui um termo ignóbil adotado hoje por empresários) para manter bem azeitado seu padrão de vida classe média, ele perde seu cargo para Carter Duryea (Topher Grace), 26, publicitário, e se torna seu assistente.
Carter, claro, não está menos perplexo que a velha-guarda daquela revista. Seu mundo, tão de plástico quanto o cartão de crédito que ele saca a todo instante, parece resultado de uma lógica maior que a dele. Não é por menos que no ringue trabalhista ele e Dan terão de acertar os ponteiros.
Claro que o diretor Weitz não pára por aqui, e a perplexidade coletiva ultrapassa o parque das corporações. Dan saberá, por exemplo, que sua mulher cinqüentona está grávida e que sua filha, Alex (Scarlett Johansson), envolveu-se com seu chefe de 26 anos. Sim, o próprio, e que por sua vez tomou um senhor e inesperado fora da sua consorte.
Essa volatilidade das coisas cria, no final das contas, um entrelaçamento humano, ou melhor, um casamento de tempos. O homem mais velho e com quilometragem alta trocando experiências com o garoto que intui que a vida é algo além do que ele vê no fundo da sua caverna de Platão. Um caminho de descoberta dos prazeres da vida, e que será o grande achado deste filme.
Paul Weitz, por outro lado, sabe que o trabalho é um fato: não o exclui da pauta de seus longas e o coloca sempre a serviço do homem, e não acima dele.
Em "American Pie", por exemplo, havia uma ausência perceptível, com garotos à beira do abismo da vida adulta, ou seja, de assumir responsabilidades materiais. Lúdico, era uma típica comédia adolescente.
Em "Um Grande Garoto", havia uma negação a esse trabalho, com o personagem de Hugh Grant vivendo de renda, sabedor de que sua opção não o livraria do embate com a tal "vida adulta", num registro ainda cômico, mas longe do besteirol.
Agora, com "Em Boa Companhia", o tom é bem mais dramático, nesta crônica sobre o amor, pulsão de vida e amizade que resistem à lógica volátil do mundo capitalista selvagem. Voltando à caverna de Platão, é como se a câmera de Weitz estivesse atenta ao esforço do homem em iniciar seus olhos na claridade do mundo, o que não é pouco.


Em Boa Companhia
In Good Company
   
Direção: Paul Weitz
Produção: EUA, 2004
Com: Dennis Quaid, Scarlett Johansson, Topher Grace
Quando: a partir de hoje nos cines Anália Franco, Bristol, Frei Caneca Unibanco Arteplex, Jardim Sul, Kinoplex Itaim, Metrô Santa Cruz e circuito


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