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CINEMA/"EM BOA COMPANHIA"
Dennis Quaid interpreta profissional que perde o cargo para um publicitário de 26 anos
Weitz capta o desafio do homem "neoliberal"
PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Num mundo neoliberal que
nos trouxe, por assim dizer,
relações trabalhistas e pessoais
um tanto repentinas, quando não
improváveis, parece nos restar
apenas entender parte da dinâmica traiçoeira desta nova ordem
das coisas. É nesse ambiente selvagem e de perplexidade que estão inseridos os personagens de
"Em Boa Companhia", de Paul
Weitz.
Um espaço no qual empresas se
fundem e são pulverizadas, cargos nascem para morrer semanas
depois, veteranos tomam bronca
de ex-estagiários, agora chefes
que mais parecem seus filhos caçulas. Quem assiste a isso é Dan
Foreman (Dennis Quaid), 51, casado, pai de duas filhas, chefe de
vendas de publicidade da revista
"Sports America".
Matando um punhado de leões
por dia (eis aqui um termo ignóbil
adotado hoje por empresários)
para manter bem azeitado seu padrão de vida classe média, ele perde seu cargo para Carter Duryea
(Topher Grace), 26, publicitário, e
se torna seu assistente.
Carter, claro, não está menos
perplexo que a velha-guarda daquela revista. Seu mundo, tão de
plástico quanto o cartão de crédito que ele saca a todo instante, parece resultado de uma lógica
maior que a dele. Não é por menos que no ringue trabalhista ele e
Dan terão de acertar os ponteiros.
Claro que o diretor Weitz não
pára por aqui, e a perplexidade
coletiva ultrapassa o parque das
corporações. Dan saberá, por
exemplo, que sua mulher cinqüentona está grávida e que sua
filha, Alex (Scarlett Johansson),
envolveu-se com seu chefe de 26
anos. Sim, o próprio, e que por
sua vez tomou um senhor e inesperado fora da sua consorte.
Essa volatilidade das coisas cria,
no final das contas, um entrelaçamento humano, ou melhor, um
casamento de tempos. O homem
mais velho e com quilometragem
alta trocando experiências com o
garoto que intui que a vida é algo
além do que ele vê no fundo da
sua caverna de Platão. Um caminho de descoberta dos prazeres
da vida, e que será o grande achado deste filme.
Paul Weitz, por outro lado, sabe
que o trabalho é um fato: não o
exclui da pauta de seus longas e o
coloca sempre a serviço do homem, e não acima dele.
Em "American Pie", por exemplo, havia uma ausência perceptível, com garotos à beira do abismo da vida adulta, ou seja, de assumir responsabilidades materiais. Lúdico, era uma típica comédia adolescente.
Em "Um Grande Garoto", havia
uma negação a esse trabalho, com
o personagem de Hugh Grant vivendo de renda, sabedor de que
sua opção não o livraria do embate com a tal "vida adulta", num registro ainda cômico, mas longe do
besteirol.
Agora, com "Em Boa Companhia", o tom é bem mais dramático, nesta crônica sobre o amor,
pulsão de vida e amizade que resistem à lógica volátil do mundo
capitalista selvagem. Voltando à
caverna de Platão, é como se a câmera de Weitz estivesse atenta ao
esforço do homem em iniciar seus
olhos na claridade do mundo, o
que não é pouco.
Em Boa Companhia
In Good Company
Direção: Paul Weitz
Produção: EUA, 2004
Com: Dennis Quaid, Scarlett Johansson, Topher Grace
Quando: a partir de hoje nos cines
Anália Franco, Bristol, Frei Caneca
Unibanco Arteplex, Jardim Sul, Kinoplex
Itaim, Metrô Santa Cruz e circuito
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