INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Um dos últimos filmes sobre lobisomem a fazer sucesso foi "Um Lobisomem Americano em Londres" (1981). O lado comédia demonstra que o êxito veio a partir de certa descrença. Isto é, o sucesso derivava do pouco medo que esse ser era capaz de inspirar.
O mundo pode ter mudado, mas os lobisomens continuam pouco inspiradores no ramo do terror, a julgar por "Amaldiçoados". Não é que o filme se deva a qualquer um. Wes Craven é possivelmente o principal diretor do gênero, desde George Romero. O roteirista é o mesmo de "Pânico".
O primeiro mau sinal é o fato de o longa ser em larga medida refilmado, com substituições no elenco. Quando a coisa começa assim, raramente a responsabilidade é do ator. O lobisomem tem mais culpa no cartório. Ele surge em Mulholland Drive, onde os irmãos Christina Ricci e Jesse Eisenberg são contaminados por um lobisomem e sofrem a maldição: tornam-se mutantes que, em noites de lua cheia (de preferência), atacam os incautos.
Lobisomens em Los Angeles? E multiplicando-se? Claro que Craven tem piadas a fazer, do tipo lobisomens não assustam quem conhece Hollywood. Elas soam chochas, com uma exceção ou duas.
Perdido, o roteiro atira para todo lado, mas só um deles se mostra conseqüente (além de passageiro): a aproximação entre a homossexualidade de um rapaz e a maldição que se abate sobre os protagonistas. Em alguns caso, o que está em questão é a exclusão.
Se por um momento parece que vai lembrar "Sangue de Pantera", em outro parodia a seqüência dos espelhos de "A Dama de Xangai". Parecem mais coqueterias destinadas a nos lembrar que Craven não é o diretor desanimado que este filme mostra.
Por fim, resta a frase que é o gancho publicitário: o que não mata, fortalece (a versão brasileira é melhor: o que não mata, engorda). Em termos de terror, a coisa é outra: o que não mata, aborrece.

Amaldiçoados
Cursed
 
Direção: Wes Craven
Produção: EUA/Alemanha, 2005
Com: Christina Ricci, Jesse Eisenberg
Quando: a partir de hoje nos cines Metrô Santa Cruz, Interlagos e circuito