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MANUEL DA COSTA PINTO
Resumo de paisagem
Lançamento reúne 30 anos
de obra do poeta mineiro
Júlio Castañon Guimarães
e mostra síntese e depuração
"POEMAS (1975-2005)": o título é
simples mas eloqüente. Designa
30 anos da obra de Júlio Castañon Guimarães, poeta que nasceu
em Juiz de Fora (MG) e mora no Rio
de Janeiro, onde é pesquisador da
Fundação Casa de Rui Barbosa.
As três décadas de literatura contidas no volume poderiam significar
-o que não é pouco- uma bibliografia alentada, sua presença obrigatória em antologias e uma respeitável fortuna crítica. No caso de Castañon Guimarães, permitem observar
ainda uma depuração perceptível de
livro a livro, de poema a poema.
Sua produção já havia sido reunida em "Matéria e Paisagem", livro de
1998 que incluía títulos anteriores
como "Vertentes" (1975) e "Dois
Poemas Estrangeiros" (1995). Depois vieram "Práticas de Extravio"
(2003) e uma série intitulada "Ensaios, Figuras" (2005), que ficara
inédita e agora abre o conjunto da
obra.
Considerado um autor metalingüístico, Castañon Guimarães nunca deixou de introduzir, mesmo em
seus trabalhos mais experimentais,
elementos de uma comoção pouco
freqüente no construtivismo: "sombras ancestrais" de Minas, "pedras
da memória", "vento vindo de outras eras" -e de outros poetas, como
se percebe nas referências a Drummond e Murilo Mendes.
Não seria errado dizer que ele
conseguiu promover uma síntese
improvável das ironias e do "sentimento do mundo" desses poetas
com os valores da poesia concreta
(presentes na visualidade de "17 Peças", de 1983).
Já a partir de "Inscrições" (1992),
porém, revela-se o sentido de sua
atenção para os elementos compositivos. Não se trata de afirmar a autonomia da palavra-coisa, mas de utilizar a linguagem como porto seguro,
como pauta que disciplina a desordem de experiências e afetos.
Em "Práticas de Extravio", ele se
concentra na busca de hipóteses de
apreensão do real -"um espaço ainda dentro da percepção/ como um
corpo a que se quer", conforme escreve no poema "Os Dias".
E, no trecho de "Ensaios, Figuras"
que abre "Poemas (1975-2005)",
sintetiza essa fenomenologia: "vagamos e alguns desvios/ precária operação que/ se desencadeia um tempo/ também o indefine/ nem mera
improvisação/ como rota de acidentes/ que desmantelem o intento/
antes a própria sintaxe/ se encaixes
tão falhos/ não propriamente desordens/ mas essa narrativa/ de espaços e projetos/ mas umas tantas perdas/ seu descaminho/ entre as sombras".
Da busca metódica de uma perspectiva do olhar em "confronto com
a dispersão", com o tumulto das coisas, brota o "esgarçamento da consciência". A alternância entre cálculo
e abismo, entre a "micro-escrita da
imaginação" e os "sistemas de ruínas" do mundo exterior, sempre esteve presente na poética de Júlio
Castañon Guimarães, cuja inquietação metafísica reverbera Fernando
Pessoa (como se lê em "Fragmento
Olisiponense"). Torna-se mais clara
agora, nesse "resumo de paisagem".
POEMAS (1975-2005)
Autor: Júlio Castañon Guimarães
Editora: Cosacnaify/7 Letras
Quanto: R$ 30 (240 págs.)
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