São Paulo, domingo, 15 de julho de 2007

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BIA ABRAMO

Vitória da sociedade


Não se pode ter muita ilusão aí: vale tudo, mas tudo mesmo, para ganhar a audiência

AS NORMAS que regem a classificação indicativa acabaram saindo mais flexíveis, mais ao gosto das emissoras: as próprias farão a autoclassificação, por faixa de horário, e o Ministério da Justiça só vai fazer um monitoramento. Caiu a análise prévia dos programas, mas se manteve a vinculação de faixa etária e horário de exibição.
Ainda assim, é uma espécie de vitória -não do Estado, nem do governo, mas da sociedade- que haja algum tipo de regulamentação que não seja só a do "mercado".
Pois não se pode ter muita ilusão aí: vale tudo, mas tudo mesmo, para ganhar a audiência e exibir os números gordos de que os departamentos comerciais tanto gostam. E a guerra por números anda mais acirrada do que nunca: a coluna de Daniel Castro fez um levantamento sobre a média de audiência do conjunto das novelas da Globo que aponta que o ibope do segundo trimestre de 2007, 32,1%, é o pior em quatro anos (coluna "Outro Canal", 11 de julho). O mais interessante, ainda segundo Castro, é o fato de esse número ser produto de uma queda generalizada, em todas as produções ("Malhação", "Eterna Magia", "Sete Pecados" e "Paraíso Tropical").
Para quem já teve todo o mercado publicitário a seus pés, isso significa que a luta para estancar, quem sabe reverter, o processo é (e será ainda mais) renhida. Como a Record cola no que há de bom e de ruim da Globo, e das outras emissoras -com raríssimas exceções-, não se pode esperar muita coisa, o negócio vai ficar feio.
Nessa briga de cachorro grande, perdemos nós, espectadores, que somos e seremos submetidos a toda espécie de experimento maluco com os "esteróides de audiência" na teledramaturgia -doses maciças aqui e ali de apelos ao nosso voyeurismo perverso, ao qual a TV sabe responder tão bem.

 

Exceção que deveria ganhar um selo de ER (especialmente recomendado) para crianças é a versão televisiva para o Menino Maluquinho que a TV Cultura exibe pela manhã, fazendo frente a uma Xuxa cada vez mais taxidérmica e aos animados, mas tristemente estereotipados, apresentadores-mirins do SBT. O selo, na verdade, caiu da portaria publicada nesta semana.
A série da TVE é um dos raros exemplos de como fazer entretenimento didático sem perder em nenhuma ponta. Tem algo de nostálgico, é claro, uma vez que, já no texto original de Ziraldo, o personagem vive uma infância meio perdida num tempo que não é este. Mesmo assim, funciona -e é encantador.

biabramo.tv@uol.com.br


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