São Paulo, sexta-feira, 15 de julho de 2011

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CRÍTICA MÚSICA ERUDITA

Grupo belga revive Schoenberg no Masp

Het Collectief interpretou "Pierrot Lunaire", do músico austríaco, e "Quarteto para o Fim do Tempo", de Messiaen


HET COLLECTIEF MOSTRA QUE O SOM NÃO PRECISA SER RUIDOSO: ACEITA UMA DELICADEZA COMPRIMIDA, BELAMENTE HIPNÓTICA


SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA

Com o título "Schoenberg morreu" (1952), Pierre Boulez apontava contradições na obra do mestre vienense e reverenciava seu discípulo Anton Webern (1883-1945).
Schoenberg (1874-1951) havia mesmo morrido no ano anterior, mas o próprio Boulez -cuja atividade de regente viria a se tornar central- iria mantê-lo vivo em performances e gravações.
"Pierrot Lunaire" tornou seu autor célebre desde a estreia, em 1912. Dirigida pelo renomado especialista holandês Reinbert de Leeuw, foi apresentada terça no Masp, na programação paulistana do Festival de Campos do Jordão.
São 21 poemas de Albert Giraud (1860-1929), por sua vez vertidos para o alemão e musicados para flauta (que alterna com flautim), violino (alterna com viola), clarinete (alterna com clarone), violoncelo e piano.
Cada poema tem 13 versos, e a frase inicial sempre é repetida nas linhas sete e 13. A música é atonal -isto é, rompe com as escalas maiores e menores e suas harmonias-, mas não utiliza ainda a técnica dodecafônica.

DELICADEZA
É um pierrô grotesco, louco, pervertido. A versão do grupo belga Het Collectief mostra que o som não precisa ser ruidoso: aceita uma delicadeza comprimida, redonda, belamente hipnótica. Jacqueline Janssen deu ares de cabaré ao canto-falado, usando o perfil melódico sem se ater literalmente às alturas, o que concorda com a intenção do compositor.
Na sequência, o sinuoso "Quarteto para o Fim do Tempo" (1941), de Messiaen (1908-1992), música plena de fervor religioso estreada em campo de prisioneiros durante a Segunda Guerra.
Pena que o Masp não tenha condições acústicas adequadas para receber o concerto: um som definido ressoava no ambiente, e o metrô no subsolo estragava o solo perfeito do clarinetista Benjamin Dieltjens.
Schoenberg morreu no dia 13 de julho, há 60 anos. Como afirmou recentemente o maestro Leeuw, "nosso deslumbramento não deve se ater apenas aos aspectos visionários de sua música, mas, antes de tudo, à sua qualidade".

HET COLLECTIEF

AVALIAÇÃO ótimo


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