São Paulo, sexta-feira, 15 de julho de 2011

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cinema

Assis faz tributo à amizade em Paulínia

Cineasta exibiu no festival o filme "Febre do Rato" e distribuiu beijos à equipe e aos apresentadores do evento

Novo longa do diretor pernambucano conta a história do poeta Zizo com trilha de Jorge du Peixe, da Nação Zumbi

MORRIS KACHANI
ENVIADO ESPECIAL A PAULÍNIA (SP)

Eram 21h, pontualmente, quando o diretor Cláudio Assis subiu ao palco do Theatro Municipal de Paulínia para apresentar "Febre do Rato", no que seria "a estreia mundial e interplanetária" de seu terceiro longa, anteontem.
Os outros dois, polêmicos e aclamados em diversos festivais, são "Amarelo Manga", de 2002, e "Baixio das Bestas", de 2006.
Assis já foi logo quebrando convenções. Primeiro, se disse incomodado por ver poltronas vazias nas fileiras do auditório, reservadas para convidados, enquanto muita gente ficou de fora.
Depois, prestou um tributo à equipe "que sempre acreditou na minha loucura". E, por fim, fez todos dançarem e distribuiu beijos na boca a um por um (eram mais de 25 pessoas), inclusive ao crítico Rubens Ewald Filho, que, com Marina Person, apresentava o evento.
Era quase como se fosse uma cena de seu filme. Quando as luzes se apagaram, a plateia pôde enfim perceber as enormes semelhanças entre o diretor e o protagonista de "Febre do Rato", o poeta e ativista Zizo.
Uma gente de alma exagerada e sobretudo avessa ao preconceito e à hipocrisia.
Em conexão com a tradição dos poetas de rua pernambucanos, "Febre do Rato" narra os sabores e dissabores na vida de Zizo, que vive a recitar seus poemas aos amigos, às mulheres e no tabloide que edita.
Anarquia e sexo, é disso que são feitos o filme e a poesia de Zizo. Como em "Amarelo Manga" e "Baixio", várias tramas paralelas se de- senrolam, tendo como pano de fundo as contradições do sentimento humano.
A diferença talvez esteja no tratamento. Assis continua fazendo cinema visceral. Mas, desta vez, há mais lirismo e nenhuma cena de violência, o que sugere um olhar mais maduro do diretor, hoje na casa dos 50 anos.
Em vários fundamentos, "Febre do Rato" é cinema de gente grande. Não se trata de um filme comercial e de fácil absorção, evidentemente. Mas a interpretação de Irandhir Santos é magistral. A trilha sonora, de Jorge du Peixe (da Nação Zumbi), tem a cadência certa.
E a fotografia em preto e branco de Walter Carvalho, constante parceiro de Assis, é irretocável. São várias as tomadas do Recife antigo e das pontes sobre o rio Capibaribe. O visual remete ao hoje clássico "Terra Estrangeira", de Walter Salles, cuja fotografia é também assinada por Carvalho.
Em entrevista à Folha, Assis enaltece o espírito de grupo e diz que, sem os amigos, nunca poderia ter feito esse filme. Zizo também vive cercado de sua trupe e este é o combustível de sua poesia.
Neste sentido, o filme é um bom retrato sobre os ativistas culturais da nação pernambucana. E mais um irresistível produto da geração mangue beat.


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