São Paulo, quarta-feira, 15 de agosto de 2001

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LIVRO/LANÇAMENTO

Com recital em SP, baiano apresenta hoje "O Mel do Melhor", antologia de seus "filhotes preferidos"

Waly Salomão concentra sumo em seleta

FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Conta Waly Salomão, 57, que há algum tempo lhe insistiam que publicasse uma coletânea. Mas foi só este ano que o autor baiano conseguiu se convencer a reunir seus "filhotes preferidos", entre prosa e poesia, em "O Mel do Melhor", lançado hoje em São Paulo.
"Eu resistia", diz Salomão, explicando que queria evitar um resultado que parecesse "uma missa de corpo presente".
Na introdução ao livro, Salomão avisa ao leitor: "Os critérios que presidem a escolha de textos para uma antologia qualquer sempre são inchados de parcialismos, arbitrariedades e paradigmas idiossincráticos. Área de nebulosidade e instabilidade que é ampliada ainda mais quando cabe ao próprio autor escolher os favoritos entre os seus filhotes".
Em entrevista à Folha, por telefone, ele faz mais uma ressalva: "Tem horas em que olho para outros poemas e eles são superiores aos que escolhi. É muito instável".
Então qual é o critério que permanece? A intenção de Salomão ao pensar "O Mel do Melhor" -título que, lembra, veio de bate-pronto, ao tentar traduzir, para a amiga Heloísa Buarque de Hollanda, o espírito "pragmático" que mostram os norte-americanos quando chamam de "the best of" as coletâneas como esta.
Percorrendo sua carreira, desde o primeiro livro, "Me Segura Qu'Eu Vou Dar um Troço" (71), até "Tarifa de Embarque" (2000), ele coloca como norte da escolha a busca por "dar água na boca" de quem gostasse de sua poesia, para que este público pudesse ver "momentos que eu reputasse altos".
Outra coisa que não muda é um eterno agradecimento: "O Mel do Melhor" é dedicado a Hélio Oiticica. Foi na casa da família do artista plástico, no Rio, que Salomão encontrou pouso e, assim, logrou concluir "Me Segura".
Na dedicatória, atribui ao convívio com Oiticica o título de estímulo "mais determinante para o surto" de sua produção poética.
"Foi graças a ele que pude manter a vontade de escrever num momento difícil, no final dos anos 60, em que era um nômade", completa Salomão, por telefone.
Sobre a obra do amigo e impulsionador, o poeta escreveu em 96 o livro de ensaios "Hélio Oiticica, Qual É o Parangolé?". Salomão conta que pretende reeditar o livro, hoje esgotado, em 2002. Mas, no momento, o que é certo é o relançamento, sempre pela Rocco, de "Me Segura", "Gigolô de Bibelôs" e "Armarinho de Miudezas".
A arquiteta Lina Bo Bardi (1914-92) é outra homenageada e salta das páginas de "O Mel do Melhor" para o evento desta noite. Não por acaso, o livro é lançado com recital de Salomão no Sesc Pompéia, de autoria da italiana.
"Fábrica do Poema" é como Salomão chamou o texto-homenagem, em referência ao edifício fabril restaurado por Bo Bardi para o Sesc. O poema, que também está na coletânea, diz: "O prédio, pedra e cal, esvoaça/ como um leve papel solto a mercê do vento".
Salomão recitará no Sesc, além de poemas seus, textos de Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes e Augusto dos Anjos, poeta que, para ele, "permaneceu na memória popular", a qual ele pretende reverenciar esta noite com uma leitura "limpa, sem grandes pirotecnias".


O MEL DO MELHOR - De Waly Salomão. Editora: Rocco (tel. 0/xx/21/2507-2000, www.rocco.com.br). Coletânea de textos selecionados pelo próprio autor. 124 págs. R$ 22. Lançamento: hoje, das 18h30 às 21h, no Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, SP, tel. 0/xx/11/3871-7700), com recital do autor e sessão de autógrafos.



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