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TRAGÉDIA
Professor da Universidade de São Paulo, de 45 anos, preparava biografia de Euclydes da Cunha há uma década
Acidente mata ensaísta Roberto Ventura
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
SHIN OLIVA SUZUKI
DA REDAÇÃO
Um dos principais estudiosos
da obra de Euclydes da Cunha no
país, o professor da Universidade
de São Paulo Roberto Ventura,
morreu ontem em acidente de
carro no interior do Estado.
O pesquisador, que tinha 45
anos, dirigia de São José do Rio
Pardo, onde participara de uma
série de conferências, para São
Paulo quando seu carro colidiu
com a traseira de um caminhão.
Ventura chegou morto ao Instituto Médico Legal de Mogi-Guaçu, cidade mais próxima do local
do acidente, na altura do km 186
da rodovia Adhemar de Barros
(SP-340). Segundo a Polícia Rodoviária e a Renovias, concessionária da estrada, a trajetória do
carro indica que Ventura teria
adormecido ao volante.
O professor de teoria literária da
USP vinha de uma série de viagens de carro nos últimos dias. No
final da semana passada ele estivera em São José do Rio Pardo para a abertura da Semana Euclidiana, evento tradicional da cidade
onde viveu Euclydes da Cunha
quando escreveu "Os Sertões".
Ventura cruzara os 266 km que
separam a cidade de São Paulo
para encontrar na capital Thomaz, seu único filho, no Dia dos
Pais, domingo. Na manhã seguinte, dirigiu mais 95 km para Campinas, onde dava um curso, na
Unicamp. Pela noite, Ventura voltou a São José do Rio Pardo para
fotografar exemplares de traduções e da primeira edição de "Os
Sertões" no Centro de Estudos e
Pesquisas Euclidianos Dr. Oswaldo Galotti.
O professor participou novamente de debates da Semana Euclidiana na tarde de terça, jantou com amigos e deixou a cidade por volta das 23h, pois tinha compromissos pela manhã em São Paulo.
Centenário de "Os Sertões"
O ano de 2002 vinha sendo especialmente corrido para o pesquisador em virtude do centenário de publicação do livro "Os Sertões", de Euclydes da Cunha (nascido em 1866 e morto em um 15
de agosto, como hoje, de 1909).
Ventura havia terminado recentemente o trabalho "Folha Explica Os Sertões", que a Publifolha
lançará em setembro (leia trecho
inédito ao lado).
O pesquisador também coordenara recentemente uma parte do
volume que será dedicado ao escritor na publicação "Cadernos
de Literatura Brasileira", do Instituto Moreira Salles, que será lançada em novembro deste ano, e
escrevera o artigo "Para ler (e gostar de) "Os Sertões'" para o primeiro número do caderno "Sinapse", da Folha, em julho.
Ventura também vinha finalizando o trabalho mais extenso de
sua vida, uma biografia de Euclydes da Cunha que ele começara a
fazer há dez anos e que deveria ser
publicada no início de 2003 pela
Companhia das Letras.
Não seriam os primeiros livros
da carreira do professor nascido
no Rio de Janeiro, que fez mestrado na PUC-RJ e doutorados na
Universidade de Rühr, em Bochum, na Alemanha, e na USP, de
onde era livre docente desde 1999.
"História e Dependência: Cultura e Sociedade em Manoel Bonfim", em parceria com Flora Süssekind, foi seu primeiro trabalho,
em 1984. Três anos mais tarde, ele
publicou "Escritores, Escravos e
Mestiços em um País Tropical".
Com temática semelhante, a formação da crítica literária no país e
os principais debates intelectuais
na virada do século 19 para o 20,
"Estilo Tropical" saiu em 1991. A
obra mais recente de Ventura era
o livro "Folha Explica Casa-Grande & Senzala", de 2000.
O pesquisador, que foi articulista da Folha entre 1988 e 1990, também colaborava com diversas publicações acadêmicas.
Roberto Ventura foi velado na
tarde de ontem no Salão Nobre da
Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas da USP e foi
cremado no cemitério da Vila Alpina, na zona oeste da cidade.
Ele deixa mulher, a jornalista
Márcia Zoladz, 47, e o filho Thomaz Zoladz Ventura, 14.
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