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CINEMA
"CINCO VEZES MAURICE PIALAT"
Ciclo exibe cinco filmes do diretor francês
Mostra coloca em marcha a máquina da dor de Pialat
Divulgação
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Jacques Dutronc faz o papel-título de "Van Gogh" (91), filme de Maurice Pialat que está na mostra |
CÁSSIO STARLING CARLOS
EDITOR DO FOLHATEEN
Antes tarde do que nunca!
Uma mostra, a partir de hoje
no CineSesc, dá a oportunidade
de (re)conhecer a segunda metade quase completa da obra do
francês Maurice Pialat, morto em
janeiro deste ano, aos 77. Até terça, serão exibidos cinco filmes
dessa filmografia rarefeita (dez
longas em 25 anos), desde o autobiográfico "Loulou" (1980) até o
antibiográfico "Van Gogh"
(1991).
Irregular e imperfeito são dois
adjetivos pouco supérfluos quando empregados para descrever os
filmes (e a personalidade) de Pialat. Não há, na sua idéia de cinema, espaço para o encanto, muito
menos para a graça. Em seus filmes, a vida é enxergada como
uma máquina da dor.
Oposto à geração da nouvelle
vague (cujos "autores", com a exceção de Godard, ele considerava
ou artificiosos -como Truffaut- ou exibicionistas intelectualizados -como Rivette), Pialat foi buscar nos Lumière e em
Jean Renoir as referências para
um realismo mais preocupado
em brutalizar do que em poetizar.
Dos Lumière, ele queria recuperar o não-ilusionismo, a crença no
cinema como dispositivo capaz
de trair a representação. Em Renoir, ele encontrou, além da confiança realista, uma moral fiel ao
poder negativo dos sentimentos
(aquela presente em filmes como
"A Cadela" e "A Besta Humana").
Essa busca por um realismo
brutal (um naturalismo, mas não
no sentido negativo que esse termo é aplicado ao cinema) em que
a crueza e a crueldade resultem
não de truques de roteiro ou de
habilidades de atores, culmina,
não raras vezes, em situações extremas de agressões inclusive físicas (estimuladas ou provocadas
por Pialat nas filmagens).
Na mostra, "Aos Nossos Amores" (1983) é o filme em que essa
brutalidade alcança a (im)perfeição. A obra que revelou Sandrine
Bonnaire (aos 15 anos) enxerga o
cosmos familiar pelo seu avesso.
Ou seja, como um mundo de
agressões e de antipatias, de afetos
simulados e de egoísmos.
Para alcançar essa "essência",
Pialat tortura psicologicamente
os atores, constrange-os até o
ponto em que eles não mais representam situações roteirizadas
e, sim, "transpiram" o tanto de vida indispensável para que o filme
se torne de fato uma experiência
para o espectador.
"Aos Nossos Amores" é também uma pintura geracional daqueles que se livraram dos resíduos morais da família para colocar em seu lugar o consumismo e
o hedonismo como ícones (tão ou
mais conservadores) de liberação.
Outro destaque da mostra é a
obra-prima do diretor, "Sob o Sol
de Satã" (1987), em que a predominância física dos filmes anteriores "evolui" para o metafísico
(ou para o espiritual, se se preferir) sem arredar um mindinho da
violência, aqui sob a forma de ascese mística.
Ao receber a Palma de Ouro em
Cannes pelo filme, Pialat soltou
uma de suas frases reveladoras de
sua opinião sobre o mundo do cinema. Quando, sob vaias da platéia, empunhou o prêmio, disse:
"Vocês não gostam de mim, mas
eu também não gosto de vocês!".
Quatro anos depois, Pialat consegue realizar um projeto que cultivava desde jovem: "Van Gogh",
filme antibiográfico, em que
idéias como genialidade, criatividade e outros clichês "artísticos"
são eliminados para mostrar o
que interessa -o homem em sua
miséria, em antítese aos valores
"zilionários" que seus quadros alcançam nos leilões "de arte".
Na aspereza e rugosidade das
pinceladas de Van Gogh e na frase
do pintor -"a tristeza durará para sempre"- o espectador descobre o que Pialat procurava.
CINCO VEZES MAURICE PIALAT.
Mostra com filmes do diretor francês.
Onde: CineSesc (r. Augusta, 2.075, tel. 0/
xx/11/ 3082-0213). Hoje: "Loulou" (15h);
"Polícia" (17h); "Sob o Sol de Satã" (19h);
"Aos Nossos Amores" (21h). Até 19/8.
Quanto: R$ 6.
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